# Eustáquio Amaral

Aí Vem A Banda...

1 de Março de 2017 às 12:50

Cultura. É tudo na vida de uma nação. De uma comunidade. E uma das manifestações culturais que não podem ser esquecidas são as corporações musicais, muitas vezes denominadas bandas de música (não confundir banda de rock que é outra modalidade musical e expressa manifestações juvenis). Em Patrocínio, elas existem há mais de um século e meio. E resistem às mutações das épocas. É bom conhecer um pouco de sua trajetória pelo tempo.

1860: PRIMEIRA BANDA – Fundada e dirigida pelo músico José Marçal Ribeiro, surgiu à primeira corporação musical da Vila de N. Senhora do Patrocínio. Em 1914, devido o falecimento do maestro, o comando da banda passou para o seu filho Eduardo Marçal Ribeiro.

1880: SEGUNDA BANDA – A partir de então, era comum, a agora cidade de Patrocínio, ter duas bandas, criando rivalidade entre elas. O mestre Olímpio Carlos dos Santos, nesse ano até o começo do século XX, dirigiu e regeu a sua banda. O professor Olímpio também se tornou líder carnavalesco e teatral.

1910: OUTRA BANDA – O músico Quintiliano Alves de Souza criou a sua banda, que não teve vida longa. Quintiliano era major da guarda nacional. Foi um dos introdutores do correio a cavalo e desde 1870 compadre do Imperador D. Pedro II.

1918: UMA HISTÓRICA BANDA – A fim de competir com a Banda de Eduardo Marçal, foi fundada a Banda Honorato Borges pelo maestro Cirino José da Rocha. Nessa ocasião, Sebastião Elói tinha suas primeiras lições musicais com o maestro Cirino, na Rua São Vicente (hoje, Rua Artur Botelho). Depois, a corporação foi comandada sucessivamente pelo maestro Sebastião José da Rocha, maestro José Carlos da Piedade e maestro Antônio Silvestre de Novais, conhecido como Totonho Silvestre, avô do jornalista Tião Elói. A banda encerrou suas atividades em 1942.

1939: O MAIOR MAESTRO – Em outubro, faleceu na Colônia de Santa Isabel, em Betim–MG, José Carlos da Piedade, o exponencial músico de Patrocínio. Hanseníase foi a causa mortis. O maestro José Carlos nasceu na Vila de Patrocínio em 1869. Casou–se em Sacramento. No final do século XIX compôs a lendária valsa “Saudades do Matão”. Residiu em Araguari em 1904, quando era muito solicitado para exibições musicais. Depois morou em Barretos, Franca, Campinas e Matão–SP (inspiração da famosa música), onde foi o regente da banda musical. Nos últimos anos de vida, morou na Colônia Santa Isabel, local em que fez as valsas “Suspiros de Santa Isabel” e “Dobrados de Santa Isabel”.  

1940: A LENDÁRIA BANDA – Sob a direção do maestro Alírio de Melo, foi fundada a Corporação Musical Maestro José Carlos (falecido em 1939). A partir da Banda Honorato Borges, as músicas mais tocadas eram “Saudades do Matão”, a música patrocinense de maior sucesso em todos os tempos, a valsa “Sentimento Oculto”, “Cidade de Patrocínio” e “Galopé” (composta no início do século XX). Todas de autoria do maestro José Carlos. De 1944 a 1958, a regência da banda passou a ser do maestro José Antônio da Rocha. Em 1958, o mesmo maestro reorganizou a então debilitada banda, que sobreviveu até o final dos anos 60, encantando a todos. E o famoso “Lá Vem a Furiosa” virou expressão folclórica dos patrocinenses.

1981: A ATUAL – No dia 26 de julho, sob a direção do maestro João de Souza, surgiu a Corporação Musical Abel Ferreira, com 20 músicos. A instalação da banda teve o apoio da família do fazendeiro, político e ex–prefeito Éneas Aguiar. Hoje, o filho do maestro João da Banda é o regente da Corporação, que tanto encanta quem curte a saudade e essa expressão artística. Que tenha vida perene. Que o Poder Público colabore. A cidade agradece.

 

PALAVRA FINAL

 

1 – COMEÇO DO SÉCULO XX: CARNAVAL RANGELIANO – Nos primeiros vinte anos do século passado, os carnavais eram bastante ingênuos. E até denominado a festa da troca de flores. Homens e algumas mulheres saíam a cavalo, vestidos alegremente e de preferência mascarados, pelos largos e ruas da cidade. Moças e senhoras ficavam nas janelas e varandas dos casarões, com suas cestas de flores. E aí, os cavaleiros, desfilando, faziam a troca de flores. E sempre entre flores se encontrava um bilhete amoroso. Muitos casamentos da comunidade patrocinense iniciaram assim.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição 25/2/2017.

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