# Milton Magalhães

Uma Lua Inteiramente Minha em Uberlândia...

16 de Fevereiro de 2017 às 18:19

Há sete ou oito anos, nossos dois filhos, tomaram a decisão de foro íntimo- naturalmente, com a aprovação régia e as bênçãos dos pais- decidiram residirem, trabalharem e estudarem na vizinha cidade de Uberlândia. Por conta desta circunstância, vira e mexe, eu e minha esposa, cumprimos a salutar rotina de ir visita-los no nuevo lar. Quando me encontro de férias- e eu me encontro de férias de trabalho, pois também sou filho de Deus- significada que tenho um tempo de mais qualidade para os filhos e, em consequência, um olhar mais acurado sobre a cidade que os acolheu na importante preparação do futuro.

“Voce gosta de Uberlândia, Milton?”. Calma, na pergunta, leitor, que prometo calma, na resposta.

Isto posto. É ponto pacífico, que Uberlândia é uma cidade, que está nos dias de hoje, para a região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, o que Belo Horizonte, esteve na década de 40/50, para esta mesma região. Se a geração de nossos pais, buscava melhores condições de vida na capital, a geração de nossos filhos, busca a mesma finalidade em Uberlândia. Não se discute, a pujança e o alto lugar de Uberlândia no podium regional.

Mas, conforme o preceito bíblico, “a quem honra, honra”. A exemplo da edificação de Brasília, (Guardada as devidas proporções) Uberlândia, é uma cidade também construída por muitas mãos. Cidade ricamente miscigenada.E aqui reside toda sua grandeza.

Nesta linha, vai o que lê-se no livro, “Tempo, Espaço, Vivências: Construindo a história de Uberlândia” de autoria de Ângela Maria Carrijo, pontuando que "a história de Uberlândia é produto do trabalho de brancos, negros, índios, homens, mulheres, velhos, jovens, crianças, pobres, ricos, e remediados." Uma cidade que recebeu o hálito divino para cumprir um bom destino, mas certamente, não seria a mesma sem o engajamento e a contribuição social, econômica e cultural de tantos, de todos, e de muitos anônimos.

Ao sentir a “alma encantadora das ruas” de Uberlândia, no dizer do cronista João do Rio, salta-se aos olhos harmonias e contrastes. Uma cidade que se propõe a crescer sem perder seus traços de origem. Seja na arquitetura, seja nas expressões da rua, conversa bem tradição com modernidade; passado, com presente e futuro. Na sua mineiridade, Uberlândia, é a mais mineira das cidades de Minas; na efervecência de seu cotidiano, é a mais paulista das cidades mineiras. Pode-se dizer que Uberlândia é aquela menina-moça de vestido de chata e tablet na mão.

A pergunta é se pessoalmente, gosto de Uberlândia: Sim. Antes de ser o lar escolhido pelos meus filhos, apenas nutria respeito. Sabendo ser uma cidade que pedia passagem na região. Agora, além deste reconhecimento, sobejamente aqui citado, sinto afeto e gratidão.

È a primeira vez que visito a cidade depois do fechamento do Jornal Correio de Uberlândia, que pertencia o Grupo Algar e circulou pela última vez em Dezembro de 2016.Ficou uma lacuna. As informações não circulam. Uma cidade sem um  jornal local  é só uma cidade muda, cega e olha que, burra.

Gosto de flanar (bater perna)  ali pelo Bairro Fundinho, marco zero de Uberlândia. Praça Clarimundo Carneiro, onde se respira história e cultura. Lá está o Coreto e o Palácio dos Leões, construído em 1917, já foi Câmara de vereadores, hoje  tombado como patrimônio histórico, abriga o Museu Municipal. E a Biblioteca Municipal, onde, até a década de 70, funcionou a Rodoviária da cidade, ali sou bem recebido, posso tatear um vasto acervo de mais de 28 mil livros disponíveis. Tomo ciência dos projetos, Costurando a Leitura, Ônibus Biblioteca,  Contação de Histórias, Revivendo a História de Uberlândia e a Hora do Vídeo.

Na Praça Tubal Vilela, apinhada de gente, descubro que é tempo de goiaba. Vários vendedores ambulantes, vindos do interior de São Paulo, comercializam uma fruta que em minha infância tanto colhia no pé. Agora tenho que comprar se quiser. Da fonte Liminosa, um  Rei conniff orquestra, canções que  suavizam a tarde e desarmam o espirito das pessoas. Mas procuro um tal Edifício Cynthia, na praça. Lá está, foi construído na década de 30.Cosntruções com elementos baseados no Art Déco. Movimento de origem francesa anos 20. O hotel foi residência de pessoas ilustres, como Sebastião Bernardes de Souza Prata- O uberlandense, Grande Otelo. 

Na rua Siva Jardim, duas mulheres conversavam sobre as quaresmeiras floridas em suas respectivas calçadas.Não sei como, mas não entrei no assunto.Engraçado que Uberlândia quase se chamou, "Cidade Maravilha". Aguém achou, ná época que era nome de vaca. E um de seus prefeitos do passado ficou conhecido como "prefeito das flores". Esqueci-me do nome,só sei que não assina Machado nem Leão.

Acho que deu para responder a pergunta. Se gosto ou não de Uberlândia. Lá tive uma lua inteirinha pra mim. Já explico.  Noite destas, acordei alta madrugada. A janela aberta devido ao calor (coisa lá de São Paulo) de repente,  um facho de luz banhava meu rosto. Fiquei em transe por instantes. Vivendo uma epifania. A sensação que tive é que não havia mais ninguém acordado. Nunca tinha visto um céu tão azul e uma Lua tão linda! Tão minha! Lembre-me de Mário Quintana: “Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?

No outro dia de manhã, recebi um ligação: ”Milton, parece que arrombaram a sua casa, em Patrocínio”... Quem ligou não dispunha de mais informação a respeito. Imagina, o escarcéu mental .. a cabeça rodava, boca seca, um monte de perguntas sem respostas...Enquanto preparávamos a viagem no afogadilho, meu cunhado, que já havia ido ao local, juntamente com um amigo, liga, dizendo que na verdade, houve uma tentativa de roubo, apesar dos estragos na janela e na porta, o pilantra, não conseguiu o seu intento...Assim que chegamos em Patro, soubemos mais detalhes do ocorrido...  Na madrugada, meu vizinho, (Olha a importância do bom vizinho!) ouvindo, as fortes bordoadas na casa ao lado, se levantou, abriu a janela e deu de cara com o gatuno, “trabalhando duro”. Gritou que iria chamar o Polícia. O cidadão, ainda argumentou que era o dono da casa..embora teria conseguido abrir a casa, sua pretensão maligna acabou sendo interceptada, por Deus e pelo bom vizinho, Cláudio Gaúcho. O meliante, deixou o local SEM LEVAR NADA...

Nada empanou o brilho daquela Lua. Tão minha!  Insigts que valem uma vida. Foi lírico. Foi encantador... Foi na cidade de Uberlândia. (A imagem da lua é ilustrativa, a minha era mais linda) 

" ...A lua que ao te ver parece grata
Me aceita com a forma de um sorriso..."