3 de Julho de 2017 às 07:52

Superbactérias ganham força: "Podemos voltar ao tempo em que era comum morrer de infecção", diz médico francês

Contaminações já não estão restritas aos hospitais e afetam comunidades, segundo ele

Quando o escocês Alexander Fleming descobriu em 1928, também por acaso, a penicilina, a partir de substâncias que inibiam as bactérias de um fungo, em seu laboratório mofado em Londres, o antibiótico começou a entrar na vida dos seres humanos. Mas a sensação de que todas as infecções poderiam ser combatidas, ao longo do tempo, se tornou dúvida e temor atualmente. De tanto o homem usar antibióticos no mundo, superbactérias, do tipo KPC, resistentes a antibióticos estão se proliferando.

A situação é um tanto ameaçadora, segundo alerta ao R7 o médico intensivista francês Philippe Montravers. Ele é professor doutor na Universidade Paris VII Denis Diderot, na França, e chefe do serviço de Assistência Pública do Hospital de Paris, cidade onde Louis Pasteur, no fim do século 19, realizou importantes descobertas no combate às infecções. Eram tempos de evolução, no entusiasmo inicial da Era Contemporânea. O que Montravers teme é que, neste momento, possa haver um retrocesso.

— Já não se trata de filme de ficção. Faz parte da realidade atual e é muito simples: poderemos voltar a um tempo, como os séculos 18 e 19, quando era comum morrer de infecção. Algo assim pode acontecer e já está acontecendo hoje, principalmente em países como Índia e China. Eu mesmo, em meu ofício de intensivista, vejo pacientes morrendo de infecção sem opções terapêuticas.

Projeções da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que, a partir de 2050, cerca de 10 milhões de pessoas por ano morrerão por causa de bactérias resistentes a antibióticos. Seria algo maior do que o número de pacientes que atualmente morrem por causa do câncer, 8,2 milhões ao ano.

O Brasil também tem regiões com problemas. Dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) mostram que, em 2015, a KPC era a bactéria multirresistente mais notificada nas UTIs brasileiras.

E as contaminações já não estão restritas aos hospitais, segundo Montravers afirma, citando principalmente situações da Índia, China e África.

— O perigo da superbactéria já não é atingir apenas os pacientes. Ela hoje já causa infecções hospitalares e, mais do que isso, contamina pessoas saudáveis, da comunidade, chega às cidades, ganhando acesso a toda a sociedade.

Condições de higiene

A modernidade realmente é contraditória. Ela apresenta as descobertas, a tecnologia, a cura. Mas, por outro lado, propaga desigualdade, superpovoamento e doenças vindas das próprias descobertas. É nesse meio que a superbactéria é cultivada. O laboratório, neste caso, é o planeta Terra.

Na Terra que um dia Gagarin disse ser azul, homens angustiados vão consumindo remédios em excesso, se amparando nos antibióticos na ânsia de limpar seus organismos contaminados, fortalecendo novos organismos a resistirem.

Tudo isso, alimentado pelas superpopulações, onde as superbactérias mais se disseminam, ganham força em amontoados de pessoas sem condições básicas de higiene. E o homem tenta ser super-homem e não consegue. E os médicos tentam encontrar um antibiótico e não há acaso que os facilite, como fez com Fleming.

Fonte: R7


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