10 de Janeiro de 2017 às 08:11

Tragédia anunciada, diz padre sobre massacres em presídios

Padre que é missionário comboniano e acompanha de perto situações em cárceres avalia as recentes barbaridades em presídios na região Norte

Com a morte de 31 presos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), em Boa Vista (RR), na sexta-feira, 6, já são três os massacres no sistema carcerário brasileiro, em ordem de gravidade. Primeiro, o massacre do Carandiru, em 1992, com 111 mortos, e recentemente em Manaus, com 56 mortos.

Diante da gravidade da situação, o governador do Amazonas, José Melo, fez um ofício ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, neste domingo, 8, pedindo o apoio da Força Nacional de Segurança Pública para enfrentar a crise no sistema penitenciário.

Os missionários combonianos trabalham em diversos centros de detenção em todo o Brasil e em muitas periferias. “Trata-se de uma tragédia anunciada, como foi dito por muitos. No Brasil, temos a quarta população carcerária do mundo. Algumas estatísticas dizem que se continuarmos nesse crescimento, que vai descartando e acumulando presos nas cadeias, daqui a pouco, mais de 50 anos, teremos um preso a cada 10 pessoas”, diz o missionário comboniano padre Dario Bossi.

O sacerdote comenta mais alguns dados alarmantes: da população carcerária, 55% são jovens, 61% são negros e 75% estudaram somente até o primeiro grau. “Isso mostra que se tratam de condenações seletivas na nossa sociedade que não resolvem, com certeza, um problema de injustiça”.

Padre Dario atenta ainda para o problema da superlotação dos presídios. No caso de Rondônia, por exemplo, havia mais que o dobro da capacidade da cadeia. Ele diz que é preciso denunciar situações como essas e as barbaridades que estão sendo criadas nessa onda de confronto entre facções rivais. Ele recordou que os missionários combonianos comentaram, em nota pública, que se trata de “bombas que estouram por acúmulo de desumanidade”.

“Além da desumanidade, temos que fazer um apelo à indiferença, que precisa ser cancelada na nossa sociedade. É muito fácil para a nossa sociedade descartar e afastar esse tipo de problema. O primeiro chamado que fazemos como missionários é a encontrar essas pessoas”.

Nesse sentido, padre Dario valorizou o trabalho da Pastoral Carcerária, que faz uma obra “luminosa” em todo o Brasil. A Pastoral acredita que proteger a sociedade passa pela promoção da justiça, pelo socorro à vítima, mas também pela recuperação do preso. “Essas dimensões são essenciais para poder manter segurança e vida em nossa sociedade”.

Outro apelo do missionário comboniano é acompanhar a Pastoral Carcerária na luta pelo desencarceramento, ou seja, diminuir os casos que em se é preso sem ser julgado, bem como casos de detenções provisórias muito demoradas. “É uma vergonha também se comparar em nível internacional com o sistema carcerário de outros países. A segurança não é garantida pelo encarceramento em massa, isso está cada vez mais evidente”.

O último apelo de padre Dario é pela não-violência, seja no sistema repressivo do Estado, seja na conduta de cada preso. Ele enfatiza que a barbaridade violenta não é a melhor forma dos presos denunciarem a injustiça que sofrem.

“Temos todos que nos converter à não-violência. Sobretudo a nós cristãos cabe uma palavra nova, capaz de reconciliar essa sociedade e de promover medidas mais inclusivas e mais justas”

Fonte: Canção Nova Notícias


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