# Eustáquio Amaral

 RUAS, IGREJAS, CADEIA E CEMITÉRIO HISTÓRICOS DE PATROCÍNIO

19 de Novembro de 2023 às 17:54

 

 

                                       

 

           

 

 

 

Saudade. O desenvolvimento não acaba com ela. O belo, as grandes lições, os castos exemplos, são indeléveis. São eternos. A progressista cidade de agora já foi diferente. Certamente, bucólica. Menos calor, mais árvores, mais amor. O patrimônio cultural e a intelectualidade propiciam a viagem pelo tempo para mostrar isso. Desta vez, a visita será nas ruas da velha cidade, e suas histórias, e, em monumentos. Alguns ainda resistem à voracidade econômica; outros, existem apenas no pensamento de poucos amantes de uma sempre Patrocínio maravilhosa. Isso porque o Sobrenatural de Almeida, do Nelson Rodrigues, atacou, e destruiu diversos monumentos.

 

 

MUITAS RUAS COM NOME DE SANTOS – No século XX, até os anos 50/60, as vias centrais da idosa cidade dominavam o “são”. A Rua Cassimiro Santos era Rua São Miguel. A Rua Artur Botelho era Rua São Vicente. A Av. Ministro José Maria Alkmim (escreve é assim) era a Rua São João, um verdadeiro aceso às chácaras (poeira, barro e vegetação do Cerrado). Hoje, ainda há um pedacinho dessa Rua São João. A Praça Santa Luzia conservou o nome da então capela. Antes, era Largo de Santa Luzia. Já a Praça Monsenhor Joaquim Tiago, também conhecida como Praça da Matriz permanece, na voz popular, o nome “Matriz” (antes, Largo da Matriz). Desde esse tempo (anos 30/40), a Rua São Benedito resiste aos políticos: continua “São Benedito”, próximo à Santa Casa.

 

 

RUA DAS FLORES? PEDRAS? – A Rua Governador Valadares chamava-se Rua 15 de Novembro. E a Rua Presidente Vargas, Rua 7 de Setembro. Essas mudanças decorreram em função de decreto presidencial nos anos 40. A Rua Professor Olímpio era chamada de Rua da Flores. Já, a Rua Paula Arantes (próxima à Escola Dom Lustosa) era Rua das Pedras. Curiosidade: Francisco Paula Arantes foi professor (1829-1912). A Rua Afonso Pena, próximo à Rua Governador Valadares, chamava-se Rua do Teatro (nessa região, atrás da igreja Matriz, existiu um teatro no começo do século XX). Também, bem próximo, havia a Rua do Cascalho, e Rua das Perdas, segundo Sebastião Elói.

 

E OS LARGOS? – Na primeira metade do século XX, existiam o Largo do Rosário (hoje, Praça Honorato Borges), o Largo da Donana do Rancho, depois Largo da Cadeia (hoje, Praça Tiradentes). E os já mencionados Largos da Matriz e Santa Luzia.

 

CENTRO COMERCIAL? – Como se observa, no final do Império Brasileiro e início do século XX, a região central de Patrocínio era composta do entorno do Largo da Matriz, onde se situava a principal igreja, com duas torres, o Hotel Globo (Adolpho Pieruccetti), o Clube Social, o casarão da Prefeitura (hoje, felizmente preservado, onde é a Casa da Cultura) e até os luxuosos casarões do Cel. Rabelo (hoje, Escola Belaar) e do Marciano Pires. O movimento urbano ia desse Largo até à beira do Córrego Rangel, local de pousada para tropeiros, com farta pastagem (para os animais).

 

RUA DIREITA COM CASAS À ESQUERDA! – A Rua Cesário Alvim era denominada Rua Direita. Por ser a mais longa da cidade e de traçado mais regular (reta). Quando a rua começou a ser urbanizada, no começo dos anos 10/20/30, apenas existiam casas do lado esquerdo (sentido Ginásio Dom Lustosa em direção à Serra do Cruzeiro). A justificativa dos cidadãos da época seria a posição do sol. Pois, era saudável “tomar banho” de sol, pela manhã. Do lado direito, demorou um pouco, o surgimento de casas, segundo o testemunho ocular de Tião Elói.

 

 

LIXO BEM PERTO – Patrocínio era pequena, muito verde para todo lado. Não havia asfalto nem calçamento. Na verdade, havia só em torno de 6.000 habitantes na cidade, em 1940, segundo o IBGE. Onde é a Rua Professor Olímpio dos Santos, localizavam-se pequenas marcenarias e serralherias artesanais. Os cavacos dominavam os espaços entre os distantes ranchos (residenciais) de capim. Por isso, foi “batizada” como Rua do Cavaco. Logo abaixo, onde é hoje Rua Quintiliano Alves, virou a Rua do Cisco. Ou seja, os entulhos das madeiras para lá iam.

 

 

O QUE É BECO? – Era uma via (ruela) bem estreita. Houve o Beco do Patico (homenagem ao parente do Major Tobias Machado), Beco do Boulevard, Beco dos Aflitos e Beco do Fórum (ligação da Rua Cesário Alvim com Rua Governador Valadares, hoje um quarteirão estreito da Rua Rio Branco). Até mais recentemente (anos 80), a incrível turma hilária da Gazeta de Patrocínio (vereador mais votado Natinho, Antônio Caldeira e Sebastião Elói), “homenageou” o prefeito Afrânio Amaral, com o Beco do Afrânio (ligação da Rua Abadio Nader com a Rua Marechal Floriano, próximo ao Colégio Professor Olímpio).

 

ARTÍSTICAS IGREJAS “FANTASMAS” – No Largo do Rosário (região onde é hoje o Instituto Bíblico), havia a Igreja do Rosário, frequentada por escravos e gente da raça negra. Ainda no mesmo Largo (onde é hoje a Superintendência Regional de Ensino), a Igreja de Santa Rita, com altares iguais às igrejas de Ouro Preto. Os altares dourados e com a arte barroca, inspirada por Alejadinho. Uma igreja mais elitizada, segundo alguns historiadores dedicada à raça branca. Conforme o jornalista Briola, em frente à igreja havia diversas pequenas minas de água limpa (“olhos” d’água). A ausência de cultura demoliu as duas igrejas (a do Rosário após a Abolição) e o material da construção vendido para Teodorico Machado. Como também o que restou da demolição da histórica cadeia pública (atrás de onde é hoje a Escola Honorato Borges). Ao lado, situava-se a Câmara Municipal, também demolida.

 

 

E O PIOR ESTAVA POR ACONTECER – O antigo cemitério municipal, com os restos mortais de célebres personagens na história de Patrocínio (como o Cel. Rabelo e o juiz Elói Otoni), foi desativado/destruído sem deixar os registros necessários. Isso é inacreditável. No seu lugar, surgiram o, então, Asilo São Vicente e a colônia São Vicente (casinhas para os pobres). Hoje, tudo é parte do Bairro São Vicente.

 

 

POR FIM – A história está registrada. Segue a vida.

 

([email protected])   ***   Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 18/11/2023.