Esclarecimento. Sempre é bom promovê-lo. Pois, a comunidade necessita saber dos acontecimentos. E se esses são concernentes à terra natal, tornam-se relevantes. Para não dizer interessantes e até curiosos, às vezes. Nesse 12 de janeiro, Patrocínio celebra os seus 146 anos como cidade. Porque a diferença entre aniversários do município e cidade? Qual a razão da palavra “vila”? Aconteceu algo similar em outras cidades? Bem resumido, dá-se para ter uma boa ideia da evolução histórica a respeito.
O FATO – Em 13 de novembro de 1873, a Lei Provincial nº 1995 criou a cidade de Patrocínio. Essa Lei foi trabalhada na cidade Imperial de Ouro Preto, capital da Província de Minas Gerais. Como havia necessidade de dois meses para a concretização (fases administrativas e organizacionais), a instalação real de cidade ocorreu em 12 de janeiro de 1874.
CENÁRIO PATROCINENSE DE 1874 – Padre Modesto Marques Ferreira era o vigário da paróquia. Existia uma banda de música. A prefeitura e a Câmara Municipal funcionavam no casarão da Praça Matriz (posteriormente, o casarão foi um pouco modificado). A Igreja da Matriz tinha duas torres. A agropecuária era a base total da economia. A população girava em torno de 5 mil habitantes, pois o Município abrangia também o que é hoje Coromandel, Abadia dos Dourados, Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza. E Dr. Antônio Oliveira Pinto Dias era o juiz municipal.
DEFENSOR DA CRIAÇÃO DA CIDADE – Não há registro bem conhecido de quem, à época, era o agente executivo (nome que em 1930 passou a ser denominado “prefeito”). Muito provavelmente, era Bernardo Bueno da Silva. Segundo o maior jornalista rangeliano, Sebastião Elói, Bernardo coordenou, no Município, as ações para o surgimento da cidade. Já que, além de ser um idealista, exercia forte liderança na Vila Nossa Senhora do Patrocínio. Na verdade, também era o agente executivo (prefeito). E vereador.
QUEM É – Bernardo Bueno da Silva, era tio-avô do jornalista José Elói dos Santos (editou um dos primeiros jornais no começo do século XX). Esse pai de Sebastião Elói, o fundador da Gazeta de Patrocínio em 1938. O diretor do Maisumonline e do jornalismo da Rádio Capital, Zé Elói, portanto, é neto de seu xará ancestral.
EXEMPLOS REGIONAIS – Durante 32 anos (1842-1874), Patrocínio foi denominado Município e Vila de N. S. do Patrocínio. Araxá, de onde Patrocínio se emancipou, também no princípio (1831), era chamada de Município e Vila de São Domingos do Araxá. Já a mais antiga cidade da região, Paracatu emancipada de Sabará (1798), foi denominada por anos como Município e Vila de Paracatu do Príncipe.
MAIS EXEMPLOS DA REGIÃO – Uberaba era o distrito de Santo Antônio do Uberaba. Tornou-se município e vila em 1836, emancipado de Araxá. Uberlândia, por sua vez, distrito de São Pedro do Uberabinha, emancipou-se de Uberaba em 1888, como município e vila com o mesmo nome (São Pedro do Uberabinha). Os uberlandeses não gostam muito do termo Uberabinha.
MONTE CARMELO – Era distrito patrocinense com o nome de N. S. do Carmo. Em 1859, incorporou-se a Bagagem (Estrela do Sul), novo município emancipado de Patrocínio, com o nome de Carmo da Bagagem. Em 1882, a terra carmelitana tornou-se município e vila.
PATOS DE MINAS – Em 1866, foi emancipado do Município e Vila N.S. do Patrocínio com o nome de Santo Antônio dos Patos, sendo também apenas município e vila, à época.
MAS O QUE ERA “VILA”? – A vila era a organização básica municipal de territórios portugueses na época colonial e imperial. Ou seja, o povoado tinha que ter uma igreja, local para a Câmara Municipal e cadeia. Passar de vila para cidade somente o poder real ou provincial poderia fazê-lo. O título de cidade era honorífico, entretanto atendia a determinados critérios, principalmente econômicos.
VILA X CIDADE – Em 1874, havia em Minas 74 municípios e apenas 61 cidades. Em 1884, a diferença passou para 106 a 92. Ou seja, em 1874, 13 vilas eram sedes de municípios. Somente, a partir de 1938, na velha República, o termo “vila” deixou de pertencer à divisão territorial. Daí, então, apenas município, cidade e distrito. O nome “vila”, por muito tempo após, continuou existindo. Todavia, só popularmente. Vila São João (S. João da Serra Negra), Vila Guimarânia (Guimarânia) e Vila de Água Suja (Romaria) são exemplos, ditos pela população, hoje praticamente dizimados.
PARA NÃO ESQUECER – Dia 7 de abril, Patrocínio comemora 178 anos como município. Dia 12 de janeiro, 146 anos como cidade. E 181 anos da Paróquia Nossa Senhora do Patrocínio, dia 9 de março.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 11/1/2020.