Lembrança. Sempre é bom tê–la. Ainda mais referente à terra natal. Viajando pelo tempo, vamos a exatamente 61 anos atrás. Com a fundamental colaboração da Lista Telefônica da então Companhia Telefônica de Patrocínio S.A. (de patrocinenses). Naquela época, cada grande cidade tinha a sua própria telefônica e empresa de energia elétrica. Não havia Cemig, nem empresas de telefonia de maior porte. Ligações interurbanas nem pensar. Uma amostra de muitas pessoas de expressão e fatos rangelianos dos anos 50 entram na passarela da saudade agora.
COMO FUNCIONAVA – Havia na Praça Santa Luzia, nº 1.292, uma rudimentar central telefônica. Sua operação era semelhante a um PABX com telefonista. Por exemplo, para ligar para a Prefeitura Municipal (Praça da Matriz onde é atualmente a Casa da Cultura), discava 1–0–6. A telefonista na companhia telefônica atendia e completava a ligação. Ainda não existia no Município o serviço de interurbano. Outro detalhe, ao pedir a ligação deveria ser dito um, zero, meia, neste caso.
CURIOSIDADES – Segundo o regulamento, o pagamento da conta era adiantado. O assinante não deveria permitir o empréstimo do telefone. O uso de linguagem obscena ou falta de educação motivavam à retirada do aparelho que era da empresa.
QUANTIDADE – Existiam pouco mais de 300 telefones. Na letra A da lista poderiam ser destacados o número 3–6–4 do Dr. Amir Amaral, o 1–6–1 do Juiz Altamiro Amaral (felizmente vivo), o dentista Joaquim Barbosa Arantes 2–7–6 e do Armazém São Lucas (Rua Governador Valadares com Rua Rio Branco) com o nº 3–8–6.
LETRAS B E C – A cidade contava com quatro bancos: Brasil, Minas, Mineiro da Produção e Comércio Indústria de Minas Gerais. E ainda o elitizado Clube Itamaraty na Praça Santa Luzia (ao lado do prédio onde funcionou o Cine Patrocínio), fone 1– 4–0. E com gente inesquecível como Casimiro Barbosa, João Barbosa, Olney Barreira, Otávio de Brito, Anibal Carvalho e João Moreira Caldeira. O sobrenome é que comandava a ordem alfabética.
SEM LUZ, SEM DOCUMENTO – Na letra E era encontrado o 1–9–4 da empresa Força e Luz de Patrocínio (a Cemig apenas assumiu o serviço nos anos 60). O município tinha pequena hidrelétrica para o dia. À noite a urbe era abastecida com a energia de um motor a diesel (gerador), de 7h às 10h. Não havia iluminação pública. Apenas o luar.
VOCÊ SE LEMBRA? – Na letra F, existiam os números de Jorge Facury (1–0–5), Frederico Lopes (2–1–4) e Demócrito França. Nas outras letras não faltaram os nomes de patrocinenses de sempre. Joaquim Leonel, Elmiro Machado, Antonio Mansur, Matias Alfaiate (um dos criadores da Corrida Fogueira), Levy Matos, Geraldo Alves do Nascimento (o famoso Baim, residiu em BH, onde faleceu), Mário Alves do Nascimento (ex–prefeito), Geraldo Barbosa, Januária Novais, Abdias Alves Nunes (o maior vereador que a cidade conheceu). José Constantino, Péricles Paiva, Carlos Pierucceti (Rua Marechal Floriano, nº 165), Lindolfo Queiroz (fone 1–6–5) e Modesto Teixeira (o mais conhecido dentista “prático”).
E MAIS... – Neste saudoso desfile incluímos José Elói dos Santos (pai do emblemático Sebastião Elói e avô do jornalista José Elói), Alexandrina Silveira (e seu Gordini – pequeno automóvel dos anos dourados), José Luiz Silva (o desportista) e Wadhy Miguel Felippe (revendedor Ford).
OS ADVOGADOS – João Aguiar Amaral (parente do político Márcio Amaral) que residiu na Rua Coronel João Cândido, nº 331. Roberto Pires Barbosa e Tarciso Cardoso atendiam na Rua Pres. Vargas. Waldoliro Carvalho na Rua Marechal Floriano nº 404. O quinto nome registrado no catálogo telefônico era do lendário Hélio Furtado de Oliveira, com o telefone 3–3–3.
OS MÉDICOS – Na Rua Presidente Vargas moravam dois: Amir Amaral (JK patrocinense) e José Garcia Brandão. Na Praça Honorato Borges, nº 834, o oculista Joaquim Otávio de Brito construiu casa de dois pavimentos onde residia. Com residência e consultório na Rua Gov. Valadares nº 1.167, José Figueiredo era especialista em “doenças de senhoras, partos e cirurgias”, como dizia o anúncio. E somente tinham esses médicos.
AUTOMÓVEIS – A Auto Comercial de Patrocínio Ltda., de Dimas José Silva, felizmente, residindo em BH, representava a Chevrolet e a Atlantic. A Miguel Felippe & Cia. a Ford. Seu endereço era Av. Rui Barbosa com Av. Faria Pereira. Na mesma esquina, do outro lado, localizava–se o Posto São Cristovão de Antônio Felix, revendedor Studebaker (caminhonete). Já na Rua Pres. Vargas, nº 1.721, havia o Posto Internacional de Cherulli & Cia.
TÁXI – O táxi era chamado de carro de praça pela população. A publicidade do Ponto de Automóveis nº 1 indicava os “chauffers” (motoristas) daquele local. Eram João de Deus (o símbolo de bom no volante – tranquilo e seguro), João Pereira de Melo, Agostinho Luiz da Silva, Jair Francisco de Deus, José de Lourdes e Milton Marques. Praça Santa Luzia com o telefone 4–0–6.
NOTÁVEL – O grande anúncio na Lista informava: “Rádio Difusora, da cidade que mais cresce no Alto Paranaíba” (hoje, nem se pensa nisso). E mais “ZYW–8, transmissor de 250 watts, 590 KHZ e auditório para 200 lugares” (nos anos 50 e 60 eram comuns e concorridos os programas de auditório). A emissora era no 2º andar do Edifício Rosário, na Praça Honorato Borges. Assim, terminava o quadro publicitário: “o maior porta–voz da região”. Ainda o é.
QUE SAUDADE! – Dragão das Louças de João Mansur. Instituto de Beleza Manon de Idalice Mendes Nascimento (Praça Honorato Borges). Casa Americana de Joaquim Leonel Filho. Farmácia N. S. Perpétuo Socorro de Benedito Romão de Melo (vice–prefeito em 1959–1962), na Praça Honorato Borges. Casa Nova (tecidos, sedas e chapéus) de Miguel Elias. Fábrica de Balas Tamandaré de Queiroz, Barreira & Cia. Bar e Restaurante Caçula de Geraldo Barbosa Naves (refeições até às 2h da madrugada). Bar Trianon, dos irmãos Caixeta, na Praça Santa Luzia.
A MODA – Pedro Rodrigues Pereira (marido de D. Tuniquinha Borges, residente à Rua Presidente Vargas), o primeiro nome em roupas, era revendedor Ducal. O endereço: Praça Santa Luzia, nº 329 – Fone: 2–0–4. Na mesma praça, Caldeira Alfaiate (brins, linhos, casimiras). Já na Rua Governador Valadares, Matias Alfaiate, o maior nome nos anos dourados em confecção de ternos, um dos pilares da elegância patrocinense.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 6/8/2016.