# Eustáquio Amaral

1962:Futebol, Câmara Municipal, Política e a Economia Rangeliana

26 de Abril de 2019 às 12:01

Inesquecível. Outra época que o tempo não apaga. Embora distante 57 anos, é bom recordar a pujança patrocinense em fazer o melhor no esporte, diversão e na política. Mais do que isso, é um ensinamento de como trabalhar pela cidade, somente pela cidade. E jamais para si ou para grupos. Vale a pena essa pedagógica viagem a maio de 1962. Assim, Patrocínio de outrora é o destino.

DIA 1º MAIO – Completamente lotado, foi inaugurado o estádio Júlio Aguiar. De um lado, o poderoso América de Belo Horizonte (naqueles anos, melhor que o Cruzeiro) com Caiô, Marco Antônio, Zuca e Ari. De outro lado, a seleção de Patrocínio com quase todos os jogadores do antológico Flamengo, comandado pelo Véio do Didino (técnico também da Seleção). Na cabine da Rádio Difusora, a voz potente de Sérgio Anibal, o narrador do jogo.

PARA SEMPRE – Como o Brasil de 70 (Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino), aquele selecionado é eterno. No gol o fenomenal Dedão. Gato, Calau (o maior zagueiro que Patrocínio conheceu), Macalé e Manoelico eram a zaga. No meio de campo, a arte pura de Rubinho, Peroba e Romeuzinho. O ataque era dos sonhos: Dizinho, Totonho e Ratinho. Todos genuinamente patrocinenses que faziam o domingo ser diferente. Alegre e folclórico.

NO GRAMADO – Antes da partida, o público assistiu a um clássico encontro. UDN e PSD juntos. Os pessedistas são liderados pelo ex-prefeito Amir Amaral, ex-vereador Abdias Alves Nunes e Deputado Federal José Maria Alkmim (o deputado mais folclórico do Brasil). Os udenistas são capitaneados pelo prefeito Enéas Ferreira de Aguiar, responsável pela obra, vice-prefeito Benedito Romão de Melo e secretário estadual José Faria Tavares (patrocinense). No meio deles, o indelével Juiz de Direito de Patrocínio José Pereira Brasil. Ao lado, Sebastião Elói da Gazeta de Patrocínio (este escriba, ainda menino, teve o privilégio de presenciar essa página histórica do Município.).

PERFIL – O nome Júlio Aguiar foi uma homenagem ao falecido desportista, irmão do prefeito. Júlio, um dos fundadores do Ipiranga Esporte Clube, charme esportivo da cidade, nos anos 30 e 40. Com gramado oficial, capacidade para 8.000 torcedores, três portões de saída e colaboração do comércio na sua construção, o estádio foi considerado o 4º maior de Minas, pela crônica da capital mineira (o Mineirão não existia).

FORÇA ECONÔMICA – Os irmãos Elias Abrão (Jorge e João) eram proprietários da Indústria de Carnes (Frigorífico), maior arrecadador de impostos da cidade (Jorge Elias é pai do ex-prefeito Júlio Elias). O capital da empresa era de Cr$ 200 milhões de cruzeiros, moeda da época. Também pertencia aos irmãos Elias um dos mais modernos cinemas do interior, segundo “O Diário” de BH. O Cine Teatro Patrocínio possuía 880 poltronas, aparelhos de alta fidelidade Philips, tela panorâmica, ar condicionado, sala de espera e bomboniere, grande novidade naquela ocasião. Sua construção foi iniciada em 1947 e concluída somente no final de 1958, na Praça Santa Luzia (até então, o predomínio era exercido pelo Cine Teatro Rosário, na Praça Honorato Borges, que no final de sua existência passou dos irmãos Cardoso para os Elias).

LEGISLATIVO PATROCINENSE – A Câmara Municipal é composta por onze vereadores que não recebiam remuneração. Totalmente voluntários e idealistas. Da UDN, vitoriosa nas eleições de 1958, eram seis: Alaor Paiva (presidente da Câmara e do partido no Município), Gervásio Marques da Silveira, Generino de Castro, Pedro de Paula Nunes, João Côrtes de Castro e José Constantino de Oliveira (irmão do empresário Nenê Constantino). Do PSD, que ganhou a maioria das eleições municipais até o seu desaparecimento, eram: Casimiro de Faria Barbosa, João Alves de Queiroz, Lauro Borges de Araújo, José Fernandes de Melo e João Batista Queiroz (tio do ex-prefeito Betinho), esse grande orador. A Câmara localizava-se no 2º andar da Prefeitura, Praça da Matriz (hoje, Casa da Cultura).

PATROCINENSES AUSENTES – Na comemoração dos 120 anos de emancipação do Município (abril de 1962), a Associação dos Patrocinenses e Amigos de Patrocínio – APAP, com sede em BH, participando do programa de festividades, realizou solene Assembleia Geral no Cine Rosário. O presidente era o General Astolfo Ferreira Mendes. Poeticamente, a caravana deslocou-se de BH para Patrocínio, em comboio da Rede Mineira de Viação – RMV (trem), partindo às 17h da capital e chegando às 12h, no dia seguinte. Foram recebidos na estação ferroviária pelo prefeito, vice-prefeito, juiz de Direito, banda e grande público.

O COMEÇO DE UMA ERA – Organizada pelo engenheiro Olímpio Garcia Brandão, assessor técnico do prefeito Enéas Aguiar, foi realizada a 1ª Exposição Industrial de Patrocínio. Nela foram exibidos os produtos da indústria patrocinense. Tais como da Metalúrgica Garcia Brandão, Ribeiro & Cia. (ladrilhos), Engarrafadora Saúde (águas minerais), Irmãos Constantino (Café Constantino, o antecessor do Café Constante, e, Sabão Espumol), fábrica de móveis, fábricas de bebidas (refrigerantes Banho de Lua e outras) e também de diversas empresas sediadas em Monte Carmelo.

REGISTRO – O governador Magalhães Pinto (UDN), o Bispo de Patos de Minas, Dom José de André Coimbra, o secretário de segurança José de Faria Tavares e o presidente do Ipsemg Dário de Faria Tavares (patrocinense adotivo) participaram, dentre diversas autoridades, da inauguração da Exposição. Olímpio Garcia, também chefe do DER em Patrocínio discursou: “... O Governo do Dr. Magalhães Pinto é testemunha desse momento histórico na vida do Município, quando se verifica a transição de uma estrutura econômica fundada nas atividades agropastoris para uma época de industrialização...” (naquela oportunidade, já era notória a preocupação pela presença de indústrias em Patrocínio, que infelizmente ainda não alcançou o seu desejável patamar).

RELIGIÃO – Sob a direção do vigário Padre Lamberto (holandês), a imagem de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja visitou a cidade. Exatamente, dia 27 de maio. Desde o Sertãozinho (hoje, Bairro Marciano Brandão) até a igreja Matriz, o carro-andor foi cercado por enorme massa de fiéis.

TESTEMUNHAS OCULARES – Felizmente, históricos patrocinenses sobrevivem para narrarem essa etapa dos anos dourados. Sérgio Anibal é empresário em Salvador–BA. Fábio Macalé, Totonho Figueiredo e Gato residindo nessa terra de Deus. Romeuzinho Malagoli em BH. Provavelmente, Peroba em Goiás. João Batista de Queiroz, em São José do Rio Preto-SP. Nenê Constantino, em Brasília–DF. E há mais gloriosos e privilegiados patrocinenses que podem realizar semelhante narrativa. Salve, terra amada!

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 20/4/2019.

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