Secular. A música tem mais de um século. Composta pelo patrocinense, genuíno, José Carlos da Piedade. Maestro de diversas bandas de música (como se diz popularmente “Furiosas”), inclusive na cidade, faleceu em 1939, em Betim (Colônia Santa Isabel), acometido de hanseníase. Um pouco da trajetória do sucesso, autoria errada e repercussão merecem ser destacados.
1979 – Há mais de 40 anos, este minifúndio tem colocado a boca no trombone para esclarecer a verdadeira autoria da valsa tocada até hoje por bandas espalhadas pelo País. E interpretada por cantores famosos, como Agnaldo Timóteo e Ângela Maria (falecida recentemente). Em 1978, esses cantores gravaram juntos no LP (disco de vinil) “Ângela e Timóteo”, Saudades de Matão. Entretanto, os autores indicados eram falsos (outras pessoas que não José Carlos). O LP, à época, foi um dos mais vendidos e tocados nas rádios do Brasil. Como referência, Matão é cidade do interior paulista, onde o maestro rangeliano residiu por um tempo.
1983: A INCERTEZA – Inúmeras versões e interpretações foram dadas a esta maravilhosa música desde Tunico e Tinoco até por orquestras famosas. O autor anunciado ora se dizia anônimo, ora se indicava dois ilustres desconhecidos. Corria uma notícia entre a geração passada de Patrocínio de que a música teria sido dada ou vendida para músicos de fora. Mas não se conseguiu provar tal versão e a dúvida continuou. Por que o nome do maestro José Carlos não aparece como autor?
HISTÓRICA PALAVRA – Surgiu um depoimento de repercussão nacional naquele ano (1983). Do senhor Geraldo França de Lima, do Rio de Janeiro. Sua narração está, naquele tempo, no mais conceituado jornal brasileiro, Jornal do Brasil, edição de 04 de novembro de 1983.
PRIMEIRAS PALAVRAS – “Dia 31/10/1983, pela tarde, num programa de Rádio MEC do Rio, o locutor anunciou a valsa “Saudades do Matão”, também, segundo ele, chamada “Francana”, atribuindo-lhe autoria de um músico, cujo nome agora me esqueço. Nada mais falso, nada tão inexato”. Estas foram as primeira afirmações categóricas do senhor Geraldo.
O MAIS IMPORTANTE – Ele continua: “Saudades de Matão foi composta pelo maestro José Carlos da Piedade, natural de Patrocínio, Minas Gerais, onde nasceu em 1869.”
E MAIS – “Residiu muitos anos em Araguari, tocou na igreja no casamento de meus pais, em 1904, e já então se conhecia aquela valsa, sem nome. De Araguari, transferiu-se para Barretos, Franca, Campinas e posteriormente Matão. Morreu na Colônia Santa Isabel. E lá também compôs Suspiros de Santa Isabel”, segue o depoimento.
CATEGÓRICO – O senhor Geraldo afirmou ao JB como chegou a essa conclusão: “Em 1939, interessei-me pelo assunto e fiz a duras penas algumas pesquisas, felizmente, coroadas de êxito, e obtive do Dr. Abrahão Salomão, então diretor da Colônia Santa Isabel, um ofício contendo informações sobre o maestro Piedade.”
PARA CONFIRMAR – Ao término não deixou dúvidas: “...estou à disposição de qualquer interessado pelo telefone 285-7002 do Rio de Janeiro.” (telefone fixo da época).
POR FIM – Sebastião Elói também narrou a veracidade dos fatos na sua Gazeta de Patrocínio. Assim, além do amigos Tião Elói, classificamos esse depoimento de fundamental importância para nossa história. Patrocínio necessita ter a sua memória. Suas raízes. E o maestro José Carlos, com a maravilhosa “Saudade do Matão”, é uma delas. Sem dúvida.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 28/12/2019.