Folclore. O futebol de Patrocínio tem o seu. Quatro casos, quatro histórias. Duas envolvendo a lenda Flamengo. Outra, com atleta, que às vezes treinava no Operário, mas nunca chegou à titularidade, mas participou de um jogo indelével. Para tanto, na ocasião do fato, integrou a um novo clube da cidade. Tudo nos anos dourados.
O INACREDITÁVEL – No final dos anos 50, Flamengo, Operário de Pixe, Cabrera (pai da Denga) e Martelo, Atlético Patrocinense (CAP) e Independente eram os quatro clubes de futebol em Patrocínio. A cena descrita foi vista no Estádio Quincas Borges, situado à época entre a Igreja de São Francisco e a linha da ferrovia. O diretor do “Jornal de Patrocínio”, Joaquim Correia (grande amigo) estava no melhor estádio do Município.
O FATO, O INCRÍVEL – Corria na cidade a estória do “Gol de Bino”. Esse gol teria acontecido em um jogo entre o Independente (time do ponta Bino) e o Flamengo. Um gol inexplicável, um gol impossível. Bino cobrou o corner e (ele mesmo) marcou o gol de cabeça. Um gol “espírita”. Algumas versões informam que o gol teve a colaboração de uma forte ventania, que retardou a caída da bola. Outras versões afirmam que Bino bateu o corner e correu para a área; um zagueiro rebatera a bola, caindo na cabeça de Bino que estava vindo em direção ao gol. Verdade ou mentira, ficou registrado na agenda folclórica patrocinense o divino gol de Bino. Joaquim Correia confirma esse gol.
ATLETA DO SANTOS DE PELÉ NA RESERVA – No começo dos anos 60, a equipe do Flamengo (o maior celeiro de craques que Patrocínio já viu) estava tão harmônica e jogando “por música”, sob o comando do lendário Véio do Didino, que Bougleux, júnior do Atlético Mineiro, teve que se contentar com a reserva no jogo com o tradicional Clube do Cem, em Monte Carmelo. No segundo tempo, ele entrou e jogou entre os titulares (Bougleux jogou ainda na Seleção Mineira, Santos e Vasco da Gama).
QUEM É – Buglê ou Bougleux marcou o primeiro gol do Mineirão, na vitória da Seleção de Minas sobre o River Plate, por 1 a 0. Praticamente, em todos os meses de janeiro e julho, ele passava suas férias com o seu tio (Hélio Bougleux) e seus primos. Essa família residia à Rua Governador Valadares, quase esquina com Rua Major Tobias. E em suas férias, vestia a camisa do Flamengo, onde atuavam Calau, Peroba, Ratinho, Totonho Figueiredo, Blair e companhia.
RECORDE BRASILEIRO? – No começo dos anos 60, naquele tempo maravilhoso, o Atlético Patrocinense – CAP, de Edvar, Jovelino e Gulinha, e o Flamengo do Véio, eram a grande alegria da cidade. Como um meteoro, surgiu e logo desapareceu um clube amador chamado Sete de Setembro, dirigido por Roberto do Cícero, conhecido jovem da Rua Governador Valadares, próximo à residência da família Figueiredo. Em um domingo ensolarado da década de 60, o Sete de Setembro foi a Monte Carmelo, onde enfrentou o Operário Carmelitano. Na preliminar, jogaram as equipes aspirantes. A de Patrocínio era comandada pelo atleta Fuzil, um crioulinho franzino, dócil e de frases de efeito. Um personagem do folclore patrocinense, residente no bairro São Vicente. Primeiro tempo: Operário 14, Sete de Setembro 0. No intervalo, Fuzil, a beira de uma torneira de água, pediu raça aos companheiros, pois daria para empatar, segundo ele. O jogo no segundo tempo para o Sete de Setembro foi melhor um pouco, mas no final foi a maior goleada registrada no futebol mineiro, quiçá brasileiro: 24 x 0.
VITÓRIA COM FOME – Em um domingo dos anos 50, por volta de 1955, a lenda Flamengo foi a Paracatu para enfrentar o então poderoso Santana F. C., invicto há 36 jogos. No caminho ocorreu o almoço. Camilo, Chiquinho, Picun, Véio, Calau e Rondes estavam na mesma mesa (todos pertencentes à Seleção de Todos os Tempos). Camilo, muito brincalhão, abaixou-se, imitou um cachorro e deu uma mordida na perna do distraído Picun. Assustado, Picun derrubou toda a comida no chão. Sem terem almoçado, entraram na jardineira empoeirada e chegaram a Paracatu. Lá venceram a equipe local por 2 a 0. Depois, até o Bispo de Paracatu pediu a revanche. Isso aconteceu dois dias depois.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição 6/7/2019.