Com alegria, estamos comemorando 175 anos de emancipação política–administrativa de nossa querida Patrocínio. É tempo de dizer, escrever, fatos que marcaram a caminhada histórica dos patrocinenses. O inesquecível Sebastião Elói, e um pouco antes, o professor Joaquim Carlos dos Santos, faziam–no com maestria. Sem eles, talvez, compita a este limitado escriba puramente amador fazê–lo. É o que está a seguir.
GÊNESE – Possivelmente, à época do descobrimento do Brasil, a região de Patrocínio era habitada pelos índios araxás e catiguás. Mas, somente em 1668 (alguns historiadores registraram 1675), os primeiros homens brancos pisaram o solo patrocinense. Vinda de São Paulo, pelo Sul de Minas, rumo à região de Paracatu, passou por Patrocínio, a bandeira de Lourenço Castanho Taques, que massacrou os indígenas. Quase trinta anos depois, o famoso “Anhanguera”, Bartolomeu Bueno, comandou a segunda bandeira, que passou (com pernoite e descanso) pela região de Patrocínio. Ele veio de Sabará (Sabarabuçu), via Pitangui, em direção às terras dos índios goiazes (hoje, Goiás).
FATO MAIS IMPORTANTE – Na gênese patrocinense, a abertura da Picada de Goiás (caminho para tropas), em 1729, tornou–se o grande passo para o surgimento de Patrocínio. A Picada ligava Pitangui a Goiás (região de Catalão), passando pela gleba de José Pires Monteiro, situada entre o Ribeirão Feio e a Lagoa Seca (futura Patrocínio).
A RAZÃO – Pela Picada passavam as expedições para Goiás. Visando dar segurança aos tropeiros e resgatar escravos, o governador Conde de Valadares determinou expedições especiais para atacar os índios e os calhambolas (negros fugitivos). Entre as quais, a expedição do capitão Inácio de Oliveira Campos, que destruiu um grande quilombo na região de Dourados. E ele permaneceu nas terras do Catiguá (nome dado pelos negros à região). Isso em 1771.
A FUNDAÇÃO DE PATROCÍNIO – Em 1772, o Conde de Valadares determinou ao capitão Inácio de Oliveira Campos explorar comercialmente as regiões chamadas de Brumado e Esmeril. Nesse lugar, como escreveram os historiadores, a boa pastagem, as fontes hidrominerais para o gado “salitrar” e a uberdade (fatura) da terra, transformaram–se no apoio ideal aos viajantes, que usavam a Picada e, no sonho para os que desejam começar nova vida. Por isso, surgiu a Fazenda do Brumado dos Pavões. No final daquele ano, Oliveira Campos retornou a Pitangui. Pouco depois, morreu, deixando para a sua mulher, a lendária Joaquina do Pompéu, 4.000 cabeças de gado e uma próspera fazenda, ponto de abastecimento para tropas de tropeiros.
OS PRIMEIROS PASSOS – Em 1773, forasteiros, vindos principalmente de Pitangui, começaram a fixar residência no Catiguá. Em 1792, já existia pequeno povoado com o nome de Salitre (onde está a cidade, pois o atual Salitre de Minas surgiu somente no século XIX). Em 1798, o povoado de Salitre (Patrocínio) passou a pertencer à Sesmaria do Esmeril, concedida a Antônio Queiroz Teles. Em 1804, os moradores obtiveram licença para a construção da casa de oração Nossa Senhora do Patrocínio. Em 1807, o povoado de Salitre passou a ser chamado de Arraial de Nossa Senhora do Patrocínio. Portanto, esses são os primeiros topônimos de Patrocínio: Catiguá, Salitre e Arraial de Nossa Senhora do Patrocínio. Em 1829, o arraial é elevado à categoria de curato (indica existência de padre). E em 1839, foi criada a Paróquia N. S. do Patrocínio, pela Lei nº 114, e o Pe. José Ferreira Estrela foi o primeiro vigário.
MARCOS RELEVANTES – Até 1816, por quase duas décadas, Patrocínio pertenceu à Província de Goiás. Nesse ano, com a ajuda da lendária D. Beja, a região volta a ser de Minas Gerais. Um pouco antes, em 1812, foi criado o Distrito de N. S. do Patrocínio, pertencente a Paracatu. Em 1831, Patrocínio passou a fazer parte do município de Araxá, que se emancipou de Paracatu. Assim, Patrocínio pertenceu a Araxá de 1831 a 1842 (onze anos).
REFERÊNCIA RELIGIOSA – Em 1823, foi construída a Igreja Matriz (duas torres), numa colina central da vila, onde convergiam todos os caminhos do arraial (o local foi o mesmo onde está a atual Matriz). E ela era vista por todos os lugares do arraial.
ESCRITORES/PESQUISADORES – Nessa fase da história patrocinense, a região recebeu ilustres visitantes: Eschwege (1816), Saint Hilaire (1819), que se hospedou num casebre na atual Rua Governador Valadares, esquina com Rua Afonso Pena, João Emanuel Pohl (1818) e Castelnau (1839).
IDEAL – Embora o arraial fosse novo e seus habitantes constituídos de jovem geração, nasceu o sonho da liberdade. O sonho de ser município. Entre os líderes emancipadores, estavam Francisco Martins Mundim (primeiro agente executivo e primeiro presidente da Câmara), sargento Máximo da Costa, Damaso José da Silva, Joaquim Antônio Magalhães, Bento José Mariano, Lucas Rodrigues da Costa, Padre José Ferreira Estrela e Manuel Luís da Silva Alcobaça (ex–padre).
O MUNICÍPIO – O sonho dos patrocinenses foi realizado pela Lei Provincial nº 171, de 23 de março de 1840, que emancipou Patrocínio de Araxá (e não de Paracatu, como dizem os incautos). O município e a Vila Nossa Senhora do Patrocínio foram instalados (começaram a existir de direito e de fato) em 7 de abril de 1842. Na Vila havia 357 casas, em festa.
COMO ERA – O Município de Patrocínio compreendia as terras onde futuramente iriam surgir Araguari, Estrela do Sul, Romaria, Monte Carmelo, Abadia dos Dourados, Coromandel, Patos de Minas, Lagoa Formosa, Iraí de Minas, Guimarânia, Cruzeiro da Fortaleza, Serra do Salitre e Grupiara.
FIM DE UMA ETAPA – Em 1853, aconteceu a primeira renovação da Câmara Municipal. Nesse episódio, apareceu o mais poderoso patrocinense de todos os tempos, Antônio Côrrea Rangel (o outro Rangel foi rancheiro, à beira do córrego Rangel, no final daquele século). Ele, delegado de polícia, tornou–se vereador, presidente da Câmara e agente executivo (prefeito). Em 1857, o Largo do Rosário (Praça Honorato Borges) foi palco de sangrenta batalha entre patrocinenses e patenses. Foi a principal sedição (revolta). Em 1858, Patrocínio perdeu Estrela do Sul, incluindo Araguari e Monte Carmelo. Em 1868, perdeu Patos de Minas, incluindo Guimarânia, que se emancipou.
A CIDADE – Pela Lei Provincial nº 1995, de 13 de novembro de 1873, a vila foi transformada em cidade. No dia 12 de janeiro de 1874, surgiu a cidade de Patrocínio. Foi o resultado de intenso trabalho de lideranças patrocinenses, que se deslocaram até a capital, então Ouro Preto, a cavalo.
PARA NÃO ESQUECER – A amada Santa Terrinha tem história para contar. Ei–la, em resumo:
Gênese: 349 anos;
Fundação: 245 anos;
Município: 175 anos;
Cidade: 143 anos.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 1/4/2017.