Continuo no ringue do cotidiano, esperançoso, produtivo e Feliz..
Há um soneto de Luiz Camões que diz: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança”. E completa: “Todo o mundo é composto de mudança...” Há mais de 400 anos, o genial poeta português, já falava em mudança, mas convenhamos, não chegou a ver tanto em relação a atualidade. O mundo de seus dias, saia dos tempos Medievais, para a Idade Moderna. Do modo de produção feudal para o modo de produção capitalista. Desde então, a sociedade humana deu saltos evolutivos incríveis. Vivemos a era da profusão digital. Com o mundo na palma da mão, o homem urbanizado, metropolizado, narcisista, é superbém informado, contudo, na prática, ás vezes porta-se como um bicho bisonho. “O ‘feminejo’ domina o mercado musical em 2016”. Camões, mesmo tendo perdido um olho, foi feliz. Nunca leu isto. Ops! Brincadeira srsr.
É neste mundo de mudança, que na medida do possível, continuo esperançoso, produtivo e feliz..
Deixa-me pinçar da lira do poeta lusitano a frase: “Muda-se o ser”. Antes, acho de bom alvitre dizer. Eis aqui uma crônica poética que não pretende fincar os pés nos terrenos da antropologia, da sociologia, da sociobiologia, da psicologia, da escatologia, ou da psicologia evolutiva, mas pede vênia para passar leve-e despretensiosamente- por algumas delas.
Meu ser, bio, lógico, tem mudado; minha essência, meus valores, não. Voce não é de ver que outro dia, me peguei, com o dicionário na mão buscando o significado da palavra “climatério masculino”. O alfarrábio, dizia: “O climatério masculino, ou andropausa, é a versão masculina da menopausa na mulher e, neste período do envelhecimento, o homem é marcado por mudanças fisiológicas e psicológicas." Pensei: ‘Lá vem chumbo grosso, por ai, Miltinho!”
Diante disto, vou me cuidar. Exame de próstata? Já fiz. Gostei, não, mas vou fazer de novo. É coisa de cabra macho que quer viver. Um em seis homens têm câncer de próstata. Descuido terrível este. Uma doença que, se diagnosticada precocemente, tem tratamento simples. O machismo que afasta os homens dos consultórios; leva-os para o cemitério. Simples assim.
É verdade, que os anos passaram, contudo, não perdi a minha essentia. Ainda luto para não perder a sensibilidade de minha alma. Graças a Deus não perdi a afetividade de meu coração. Não aceito que o absurdo seja normal. Não fico em paz sabendo que as 85 pessoas mais ricas do mundo têm o mesmo dinheiro que as 3,5 bilhões mais pobres. Não tenho sono bom ao saber que a fome é a causa número 1 de mortes no planeta. Não posso fingir que não me incomoda saber que 80% da população mundial sobrevive com menos de US$ 10 por dia (R$ 32,5). Poderia dizer que estou bem, mas não estou. Estou no Brasil, onde, pessoas ao meu redor, gente do meu convívio, (ou não) enfrentam a violência, a injustiça, a dor, a desigualdade social. Diante deste quadro, a coragem de muitos foi roubada. Quem se indignava não se indigna mais ... Renato Russo, tem uma música que traz uma pergunta nesta linha:“Até bem pouco tempo atrás. Poderíamos mudar o mundo. Quem roubou nossa coragem?”
Na turra política entre “direita” e "esquerda”, saio de fininho, pois, jogo minha rede mais longe. Não existe singularidade ou supremacia institucional tipo, alguém bater no peito e dizer: “O meu Partido Político é o Melhor”. “A minha Religião é a Verdadeira”. “A minha Ideologia é a Correta”. “A Minha Cultura é Superior” Isto por que tenho presente, que, onde está o ser humano, estão as falhas, as dissimulações, as ambiguidades, as mentiras. Acertos são possíveis, vem da poderosa relação entre o conhecimento, a vigilância, a sabedoria, a humildade, o respeito e a renúncia...
Continuo esperançoso, produtivo, feliz e em um relacionamento sério com a simplicidade, a delicadeza e a emoção boba.
Voce vai achar graça de cada lugar que gostaria de estar. Por exemplo, gostaria de estar presente naquele Programa Som Brasil de 2007, quando a cantora Simone, cantava a música “Começaria tudo outra vez” de autoria de Gonzaguinha, de repente surge uma voz nos bastidores, com o timbre idêntico ao do cantor falecido... Simone, sem entender o que se passava, se vira e vê Daniel Gonzaga, filho de Gonzaguinha, vindo ao seu encontro cantando com ela a música do pai. Seu grande parceiro de outrora. Foi emoção pura. Gostaria de estar lá num cantinho daquele auditório.
Não me foi dado, também, ver o encontro emocionado da cantora Maria Rita, com a cantora Argentina Mecedes Sosa. A filha de Elis Regina, assim descreveu: “Ao vê-la pessoalmente, na sala de sua casa, andando vagarosamente, a grandeza de sua pessoa, de sua história me atropelou. Me levantei em respeito, como haviam me ensinado quando pequena, mas inesperada e ingenuamente corri para seus braços. Ela colocou sua cabeça no meu colo, mulher de pequeno porte que é, e eu só fiz chorar. Em meio a um silêncio ensurdecedor instalado naquela sala. Pude confirmar a força que aquela mulher tem. É só ouvir atentamente tudo o que ela já cantou, e como o fez.” Posteriormente, Maria Rita, pode dividir o palco com a “Velha Índia”. Foi em 2007 no Credicard Hall,em Sampa, ambas cantaram “Gracias a la Vida que me ha dado tanto”. A filha da ‘Pimentinha’, disse, depois desta apresentação: “Senti que podia ir pro céu depois de ter cantado com Mercedes Sosa”. Foi épico. Mas, que pena, eu não estava lá.
É assim que prossigo. Em busca do que me acrescenta e promove como ser humano. Por isto, tem sites e blogs que nem leio mais, senti que era um campo minado online. E repito, não tenho tempo a perder com quem nivela a vida nos pântanos da mediocridade. E também repito. Busco o que me acrescenta e promove como ser humano. Não me acho na responsa de mudar o mundo. Quando me aportei neste planeta, um turbilhão de coisa errada já acontecia; quando deixar, outro turbilhão de coisa errada vai continuar acontecendo alheio ao meu poder de influência.
Para descontrair. Você conhece a estória do galo que cantava para fazer nascer o sol? Pois havia um galo que julgava que o sol nascia porque ele cantava. Toda madrugada batia as asas e proclamava para todas as aves do galinheiro: “Vou cantar para fazer o sol nascer”. Ato contínuo subia no poleiro, cantava e ficava esperando. Aí o sol nascia. E ele então, orgulhos, disse: “Eu não disse?”. Aconteceu, entretanto, que num belo dia o galo dormiu demais, perdeu a hora. E quando ele acordou com as risadas das aves, o sol estava brilhando no céu. Foi então que ele aprendeu que o sol nascia de qualquer forma, quer ele cantasse, quer não cantasse. A partir desse dia ele começou a dormir em paz, livre da terrível responsabilidade de fazer o sol nascer. Sentia-me mais ou menos como este galo. Já me achei, por ai. Achei que os sinos dobravam por mina causa. Já quis a primeira e bombástica palavra numa roda; depois quis ter a última, a mais sóbria, a mais sábia, a que tampava a boca de todos; Hoje, mil vezes, prefiro a sabedoria do silêncio. Tenho poucas respostas, e cada vez mais perguntas.
Ela vem para todos. Sim, estou falando da morte. Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. “Muita gente já morreu nessa casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição. Voltou a ele e disse: “O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a única pessoa que sofria nas mãos da morte”
Bem...falando na “Madame do gorro preto”, nesta altura da vida, sinto-me totalmente no lucro. Isto por que fui ver, gente, mais nova e infinitamente superior a mim, já atravessaram para o outro lado da vida. O poeta brasileiro Álvares de Azevedo viveu apenas 21 anos. Casimiro de Abreu, também nos deixou aos 21. Castro Alves, aos 24 anos. Noel Rosa morreu aos 26 anos; O cantor Cazuza, se foi aos 32 anos; Airton Senna, 34; Mozart, aos 35 anos, van Gogh morreu aos 37 anos; Lima Barreto, aos 41; Vander Lee e Michael Jackson, aos 50 anos...
Privilégio. Continuo por aqui, construindo o meu caráter. E sobre construir. Uma pessoa perguntou a um pedreiro que trabalhava numa construção: “O que você está fazendo?” De mau humor, ele respondeu: “Estou quebrando pedras, não está vendo?” Mais adiante fez a mesma pergunta a um outro operário, que fazia o mesmo trabalho e este disse que estava ganhando o pão de cada dia, para sustentar a família. Mas um terceiro trabalhador, que também arrebentava pedras, quando questionado, afirmou, orgulhoso: “Estou construindo uma catedral!”
Garimpo mais pessoas, neste ofício de “construir catedrais”. Quem sabe ela, seja uma destas construtoras? Há pouco vi uma nota em que a Ministra, Cármem Lúcia, Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), foi vista por populares em Montes Claros e Porteirinha, MG, caminhando humildemente pelas ruas, sem status, sem pompa, parou num estabelecimento, comeu uma coxinha, bebeu suco e deixou o local tranquilamente...
Ai me lembrei de Alberto Caeiro, personagem de Fernando Pessoa. Ele sugere que: “Sejamos simples e calmos,
como os regatos e árvores,
e Deus amar-nos-á fazendo de nós
belos como as árvores e os regatos,
e um rio aonde ir ter quando acabemos! […] “
O poeta nos pede para imitarmos a simplicidade e a calmaria típica de um riozinho percorrendo as colinas verdejantes. Pede-nos também para imitarmos a simplicidade e a calmaria típica das árvores que bailam ao roçar da brisa. A tarefa não é fácil, sobretudo, falar de calmaria e simplicidade, neste universo turbulento e ostentoso o qual nos envolve, contudo, a recompensa valerá a pena. Além de nos fazer “belos como as árvores e os regatos”, Deus no promete um destino. Tem um rio nos esperando quando tudo acabar. Achei o mais lindo e rico propósito de vida.
Sei que é um clichê desbotado, mas é isto mesmo. Quero viver muito e não apenas existir. Materializar sonhos, enquanto tenho tempo, saúde e cuca boa. Se Papai do Céu me chamasse agora, chegaria lá em cima chutando tudo enquanto há. (Obvio que é modo de dizer) Isto de chegar lá em cima bem na fita, juro que gostaria de aprender com o altruísmo de Rubem Alves. Ao falecer em 19/07/2014, o escritor, deixou, um documento escrito, com uma síntese tocante: “Sou grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. As que tinha para dizer, disse durante a minha vida. Recebi Muito. Fui muito amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza, lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Procurei fazer aquilo que meu coração pedia.” Gostaria tanto de ter a fronte erguida desse jeito lá no fim da linha. Posso não conseguir, mas, eis a minha meta.
Só não suporto mais as pessoas falarem: “Daqui há 50 anos o médico vai saber as doenças que você terá durante sua vida” “Toda Energia utilizada em todas as áreas será energia renovável.” “Até 2060 apesar de tudo há previsão de que nos aproximaremos cada dia, cada ano, mais e mais da Mãe natureza. Valorizando-a, respeitando-a em estado de absoluta gratidão” “ Daqui há 50 anos , a expectativa de vida média dos seres humanos será acima de 120 anos; e será uma vida de qualidade”. Alto lá! Daqui há 50 anos não estarei aqui. Façam, mais previsões de curto prazo. Vamos combinar. Quero um mundo melhor para meus filhos, netos, futuras gerações, mas, quero um mundo melhor para mim também..
Somos seres de fácil nocaute diante da dor e dos problemas. Mas existe gente forte, que chega a nos envergonhar. Aprendi que, “Dançando sobre cacos de vidro”, é aguentar, superar; ou se acovardar e fugir. E que lição! Lucy Houston e Mickey Chandler não deveriam se apaixonar. Os dois sofrem de doenças genéticas: Lucy tem um histórico familiar de câncer de mama muito agressivo e Mickey, um grave transtorno bipolar. No entanto, quando seus caminhos se cruzam, é impossível negar a atração entre eles. Contrariando toda a lógica que indicava que sua história não teria futuro, eles se casam e firmam – por escrito – um compromisso para fazer o relacionamento dar certo. “Lucy, todo casamento é uma dança: complicada às vezes, maravilhosa em outras. Na maior parte do tempo não acontece nada de extraordinário. Com Mickey, porém, haverá momentos em que vocês dançarão sobre cacos de vidro. Haverá sofrimento. Nesse caso, ou você fugirá ou aguentará firme até o pior passar.”
E por fim. Devo aprender que é preciso o ‘como’ para enfrentar um ‘por que’: Victor Frankl (1905-1997) foi um psiquiatra austríaco que, durante a 2ª. Guerra Mundial, esteve prisioneiro em Auschwitz. No período em que lá permaneceu sob condições desumanas também perdeu alguns dos membros mais importantes de sua família, dentre eles pais e esposa.
“Nós que vivemos nos campos de concentração podemos lembrar de homens que andavam pelos alojamentos confortando a outros, dando o seu último pedaço de pão. Eles devem ter sido poucos em número, mas ofereceram prova suficiente que tudo pode ser tirado do homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas – escolher sua atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho... Em seguida, Victor Frankl, que todos nós devemos coloca-la no mais alto relevo:“Quem tem um porquê enfrenta qualquer como”.
Graças a Deus, ainda esperançoso, produtivo... e Feliz!
"Ao som desse bolero
Vida, vamo nós.."