# Eustáquio Amaral

ALKMIM: TELEFONE DE BRINQUEDO, MENTIRINHAS, UDN E PSD

4 de Outubro de 2020 às 18:33

 

Positivo. A política tem o seu lado também. Ela não é feita apenas de aspecto negativo. A boa política quando é praticada unicamente em prol da comunidade ou quando é alegre vale a pena. Se juntar os dois predicados melhor ainda. Em um passado distante, Patrocínio teve os seus personagens que materializaram isso. Exemplificando, radialista Joaquim Assis, jornalista Sebastião Elói, desportista Natinho, atleta Manoelico, dentista Abdias Alves, empresário-padaria Hélio Alves de Souza e empresário José Dianamérico dos Reis, dentre tantos outros. Todos vereadores de 1960 a 1990. Somente Zé Binga sobrevive. Além, é agradável lembrar de um vice-presidente da República que tem tudo a ver com Patrocínio. Conviveu com os patrocinenses por quase trinta anos. José Maria Alkmim, deputado federal, majoritário no Município por vinte anos sucessivos. Muitos recursos para Patrocínio. Muitos cargos ocupados por ele. E muita história dele para ser apreciada.

 

  • BENEFÍCIOS PARA PATROCÍNIO – Alkmim colaborou decisivamente na implantação do Colégio Professor Olímpio dos Santos, primeiro colégio gratuito da região, ideal de Abdias Alves e prefeito Amir Amaral. Em 1958, canalizou recursos para que a Prefeitura pudesse construir uma avenida em substituição à Rua São João. Essa avenida levou o seu nome. Foi inaugurada por ele, perante banda de música, alunos uniformizados do Ginásio Dom Lustosa, alunas da Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio e grande público, em frente à Praça de Esportes (hoje, PTC). Tudo em uma manhã ensolarada de setembro. Em 1966, como vice-presidente, liberou recursos para a Santa Casa na presença dos vereadores Vicente Arantes (UDN), Hélio Furtado (PSD), do médico Dr. José Garcia Brandão, do prefeito João Alves de Queiroz (PSD) e do deputado estadual (de Patrocínio) Expedito Faria Tavares (UDN). O jovem repórter José Maria Campos, no telefone de fio, entrevistou o folclórico deputado. Outro jovem repórter, Valterson Botelho, também participou da cobertura. Três personagens dessa solenidade sobrevivem: I – J. Campos, Dr. Vicente Arantes e Valterson (delegado de polícia aposentado do Rio de Janeiro).

 

  • ALKMIM E OS PATROCINENSES – Em 1945, junto com JK e outros, o deputado se tornou fundador do PSD nacional. A partir de então, e principalmente nos anos 50, aproximou-se bastante da gente rangeliana. Amir, Abdias, Mário Alves e família Queiroz sempre o acolhiam em suas frequentes estadias na cidade (não usava hotel). Natinho e Geraldo Matias (ex-craque do Ipiranga, Picun) também pertenciam ao seu círculo de amigos. Tanto é que o simples e voz pausada Picun, raça negra, foi o seu chefe de gabinete doméstico, de 1964 a 1967, à Rua Ceará esquina com Av. do Contorno, em Belo Horizonte (hoje, Savassi). Picun administrava as visitas dos correligionários, mormente de Patrocínio, ao vice-presidente da República.

 

  • UDN E PSD: QUE LIÇÃO! – Ferrenhos adversários políticos. Só políticos. Pois, quando se tratava do progresso de Patrocínio tornavam-se parceiros pontuais. Exemplo, foi a chegada da CEMIG em 1960. Talvez, a maior realização da administração Enéas Aguiar (UDN). A Cemig foi fundada pelo governador Kubitschek (PSD) em 1952. E, em 1960, Bias Fortes (PSD) era o governador de Minas. Assim, houve entendimento em prol do Município. Em 1962, Enéas Aguiar construiu e inaugurou um dos, então, estádios mais modernos do interior: Júlio Aguiar. Na inauguração para dar o pontapé inicial, antes de Seleção de Patrocínio e América/MG, prefeito Enéas, o vice-prefeito Ditinho (UDN), Sebastião Elói, e o deputado José Maria Alkmim (PSD), dentre outros, entraram no gramado, perante aplauso de mais de 5.000 torcedores.

 

  • CASO DA CONSTRUÇÃO DA RESIDÊNCIA – Muitas passagens alegres, verdadeiras ou lendárias, são atribuídas ao grande homem de 1,60m de altura. Por exemplo, certa manhã de 1950, Alkmim foi visitar as obras de sua casa, à     Av. do Contorno, em Belo Horizonte. Logo, apareceu um futuro vizinho, que ele não conhecia:

– Dr. Alkmim, moro aqui ao lado na Rua Pernambuco. Estou à sua disposição...

– Eu sabia que você mora aqui. Isso influiu muito na minha escolha por esse lote, respondeu o matreiro deputado.

 

  • CASO DA CASSAÇÃO DE JK PELO GOVERNO MILITAR – Jornalista de BH liga para Alkmim:

– Como o senhor recebeu a cassação de Juscelino?

– Por telex, meu filho, por telex (tipo telegrama), respondeu o vice-presidente, em junho de 1964.

 

  • CASO DE PERGUNTA POR FALECIDO – No interior de Minas, Alkmim indaga um jovem, em suas visitas políticas:

– Como vai o seu pai, filho?

– Deputado, meu pai morreu há muito tempo.

– Morreu para você, filho ingrato. Para mim, ele continua vivo no meu coração...

 

  • CASO DA ESPOSA GRÁVIDA – Conterrâneo de Alkmim procura-o na Secretaria da Educação (1967, Governo Israel Pinheiro):

Minha mué vai dar à luz já já... sabe comé dotô estô desprevenido para a despesa do parto, por isso, peço uma ajudazinha...

– Ora, meu amigo, se você sabe que ela vai ter o filho há nove meses e está desprevenido, imagine eu... eu que estou sabendo disso agora!?

 

  • CASO DA LEITURA MENTIROSA DE JORNAL – O jornalista Dimas Perrin dirigia o Semanário Popular. Certo dia, encontra Alkmim, na capital mineira. O astuto político foi logo dizendo:

– Leio o seu jornal todo dia, meu rapaz.

– Mas o meu jornal é um semanário, Dr. Alkmim!

– Semanário para você, que o edita uma vez por semana. Para mim, que leio todos os dias, ... é diário.

 

  • CASO DO TELEFONE QUE NÃO COMUNICAVA COM NADA! – Correligionário procura Alkmim, em BH. Deseja saber sobre o seu emprego prometido. Na hora, o então secretário estadual pega o telefone, disca um número e fala:

– Chefe, lembra daquele emprego para o nosso amigo... Você esqueceu, Governador? Mas, vai dar um jeito, não é? Ele pode ficar tranquilo?... está bom. Um abraço.

Alkmim desliga e diz para o jovem eleitor:

– Está nas mãos do Governador. Daqui por diante, entenda-se direto com a assessoria dele, no Palácio (da Liberdade).

O candidato a emprego sai feliz, agradece, sem perceber que o fio do telefone ia só até a gaveta da mesa. Ou seja, era um telefone de brinquedo (mudo)!

 

  • TESTEMUNHAS – Fatos similares à parte dessas histórias foram presenciadas por três patrocinenses. Vereador Abdias Alves Nunes, foi um deles, segundo e-mail de 28/12/2011 de seu sobrinho-médico Thomaz J. M. Aquino. Geraldo Matias (Picun), assessor direto por cinco anos de Alkmim. E este cronista, que frequentava a casa do vice-presidente, na Rua Ceará, à procura de emprego.

 

  • QUEM É – Alkmim (escreve é assim) foi o maior político folclórico do Brasil. Nasceu em Bocaiúva/MG em 11/6/1901. Faleceu em Belo Horizonte dia 22/4/1974 (trombose), quando era provedor da Santa Casa/BH. Permaneceu nesse cargo por 36 anos. Repórter, advogado, deputado federal de 1933 a 1973 (oito mandatos), secretário da Fazenda (JK), ministro da Fazenda (JK), secretário da Educação (Israel Pinheiro) e vice-presidente da República (1964-1967), na chamada ditadura militar. Kubitschek era primo de sua mulher (dona Maria Dasdores).

 

  • FONTES – Wikipédia, Primeira Coluna de 7/7/2001, 19/4/2003, 17/5/2003, 14/1/2006, 23/6/2007 e de 7/1/2012, relatos de Geraldo Matias, e-mail de Thomaz Aquino e acervo deste cronista.

 

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