# Milton Magalhães

Aniversário de Rondes Machado - Recado ao seu netinho

18 de Fevereiro de 2021 às 21:05

 

Rafael Machado Weisz, hoje é aniversário do Vovô Rondes Machado, mas meu coração, não sei por que, quer se dirigir inicialmente  a você. A data de seu aniversário,Rafa,  é 18 de Dezembro; ano, 2009; você nasceu ás 13:42, pesava 2,730 kg.

Veja que tenho um leve conhecimento sobre você. Vovô é discreto, feito um comedor de pão de queijo  vindo das montanhas de Minas, mas a sua chegada gerou festa no coração dele. Alegria esta compartilhada com os amigos chegados.  

Em 25/02/2014, Vovô Rondes, Vovó Carminha, mamãe Suzana, papai Bernardo e você estiveram em nossa casa em Patrocínio. Não deve se lembrar pois contava apenas com cinco anos.

Também sei que o amor pela bola une vocês dois. Para usar termos futebolês.

O time do  “Tempo Esporte Clube”, com sua firulas, continuou seu jogo implacável, depois do segundo, terceiro , quarto tempo, enquanto seu avô foi convocado para jogar em outros campos da vida. Onde foi igualmente grande craque. Carreira profissional concluída com sucesso. Família bem criada. Chuteira pendurada há 66 anos. 

Foi quando você chegou e   foi  pra ele um gol de placa marcado aos 45 do segundo tempo.  

Há muleque! Olha só você.  Começa bem, digamos com “gol relâmpago”.  Tocando a bola-digo- a vida.

Já treinou com o Zico e já balançou a rede do  Maracanã.

Vovô Rondes também me contou que você já esteve na Espanha, acompanhado dos pais, Suzana e Bernardo, assistindo ao  clássico Atlético de Madrid e Barcelona, pelo  Campeonato Espanhol. Deve ter visto  somente “perna de pau”,(brincadeiriinha)  em campo, tipo:  Neymar, Xavi, Iniesta e Messi.

Mas, absolutamente nada se compara a alegria de ver você tirar nota dez na escola. Pegue esta visão pra vida. O time do  "Tempo Esporte Clube", vai continuar  seu jogo implacável, depois do segundo, terceiro , quarto tempo... Mas com os benefícios  que somente o esporte poder lhe trazer, você poderá ser convocado para outros campos da vida e ser igualmente craque. Igual ao seu avô.  

Sobre outros campos da vida...Já te vi no You Tube, debulhando um piano, tocando Águas de Março de Tom Jobim e Bohemian Rhapsody   de Freddie Mercury. Mamma, que foi aquilo! Já vi também ( não sei como se diz hoje, no meu tempo era redação) uma produção de texto sua. Quanta imaginação e criatividade. Em suma,  na escola você  é camisa 10. Outros campos da vida...

Agora meu coração pediu a bola. Vamos passa-la de prima para o vovô aniversariante.

Sei que você tem muito orgulho dele. E não pode ser diferente. Eu tenho um amigo e você tem um avô que é destas pessoas que, pelo conjunto da obra de sua vida,  merecem aplausos de um Maracanã, ou de um Vicente Calderón lotado.

Cedo, a vida mandou um recado para o vovô Rondes, que o jogo seria duro.

Perdeu o pai, Rodrigo Machado  aos 10 anos. O chefe do lar era garimpeiro, mas não deu tempo de tirar  a sorte grande. Com cinco filhos para criar,( José, Linconl Rondes, Lia e Abadia) Dona Conceição do Alto da Estação, pegou forte as rédeas da vida. Mantendo uma pensão com comida a tempo e a hora para os viajantes de trem.

O menino Rondes,  foi engraxate, quando, com sorte,  levantava algum para  ajudar em casa e garantir a entrada no cinema, ou em algum circo que aparecia na cidade. Morava longe da escola. Faltava sapato, não tinha roupa nova, mas não faltava ás aulas. Se era longe  o Grupo Escolar Honorato Borges, muito mais longe, posteriormente o  Ginásio Dom Lustosa.

Uma escola que, era uma “Universidade do Caráter”.  Ministrava-se ali, português, francês, latim, matemática, desenho, hora cívica e atletismo.  Os Padres Holandeses tinham a atividade esportiva  como  fio condutor para o desenvolvimento integral – físico, psicológico e social da juventude. E como não poderia ser diferente o Futebol, entre outras modalidades,  era o carro-chefe,  predileto da meninotada.

Diversos talentos, craques na vida e na bola, foram revelados nos campos desta escola exemplar. Um deles foi o vovô, Rondes, que ali, foi apesentado ao futebol. Mas parecia que já conhecia a bola fazia tempo. Pra ele a função de meio-campo, caiu como uma luva, pois jogava futebol, com toques precisos, antes de receber a bola já sabia o que fazer com ela.

Dos jogos vibrantes dos campos do Ginásio Dom Lustosa, para os jogos memoráveis do Ipiranga no Estádio Quincas Borges. 

Um celeiro  de craques na região. Time emblemático, treinado pelo mítico Tenente Amorim. Para você fazer uma ideia, segundo o jornal Gazeta de Patrocínio, a equipe ficou quatro anos sem perder em seus domínios.

Do Ipiranga para o Flamengo do Véio do Didino, (pôs o nome de Flamengo, mas era botafoguense roxo) outro time que metia medo na região. Equipes de Patos de Minas, Carmo do Paranaíba, Monte Carmelo, Paracatu, piava fino, tremia na base quando tinha que enfrentar o time patrocinense.

Para você ter uma ideia o time em que seu avô jogou celebrou 30 jogos invictos.

URT e Mamoré, duas equipes da vizinha  Patos de Minas. Dois bichos papões do futebol rangeliano em todos os tempos. A última vez que vovô Rondes jogou contra eles ( Ipiranga ou Flamengo do Véio)  sabe  quanto ficou o placar? 5 x 1  e 4x 0,  respectivamente. A paturebada queria, por que queria que o vovô ficasse morando por lá e, claro, jogando no time deles.

 (Time do Ipiranga. Rondes 4º em pé da direita para esquerda)    Sabe quem era o capitão do time. Isto mesmo. Vovô Rondes.  Voce sabe que para ser capitão de um time é preciso   muito mais do que o coração na ponta da chuteira. Precisa ter disciplina, ser exemplo dentro e fora de campo e  liderança. Ele é voz do treinador, é  quem comanda o time nas quatro linhas. Perna de pau e cabeça de bagre não serve pra função. E vovô Rondes, era  chamado pelo Blair, lendário  goleiro do time, de  "O Grande Capitão”.

O saudoso Negrinho do Zé Camilo, por exemplo, me  disse assim,  Eu era um beque central, não destes  de  hoje, que rifam a bola pra onde o nariz aponta. Eu desarmava os adversários, ‘arredondava  a bola’ passava para o companheiro, Rondes,  um dos atacantes mais inteligentes e aplicados que já vi jogar. Atrás era comigo, na frente era com ele”

Veja bem.  Alguns  dos seus colegas de time de então,  foram jogar no Atlético Mineiro, Palmeiras, Santos, Vasco...

 Naturalmente no alto de sua mineirice e modéstia,  Vovô Rondes, por si mesmo, jamais se incluiria nesta lista,  entretanto, fontes confiáveis,  asseguram que ele,  poderia, ter seguido carreira profissional  e  tranquilamente teria sido um dos grandes craques no cenário  brasileiro, revelado em terras Mel-Rangelianas. Teria cacife e  tutano para  ter jogado ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo.  Segundo o patrocinense/baiano, Serginho Aníbal, o moço do Alto da Estação que você chama de vovô, tinha “a rapidez de Romário, a inteligência de Tostão e era um finalizador como o Ronaldo Fenômeno” 

Mas vovô Rondes foi convocado para outros campos da vida...

Morando ao lado da  estação ferroviária,  vendo o trem chegar e partir, chegar e partir  parecia  convidar o menino/moço a buscar outra vida.

Ao completar 21 anos, apenas  com um  diploma de técnico de contabilidade, muitos sonhos na bagagem, deixava a cidade, os amigos conquistados para a vida toda.

Foi doloroso o adeus  ao Ildeu, Paulinho Constantino, Veio do Didino, Blair Damasceno, Negrinho do Zé Jardineiro, Quebinho, Carmo, Zé do Cleto, Nadir das Baterias e tantos outros. Que continuaram amigos, muito de vez, em quando uma “pelada” para matar a saudade. Mas isto também foi ficando mais raro para todos.

Inicialmente foi para a Capital Mineira em busca de novos horizontes. Pretendia ser bancário, quem sabe, Banco do Brasil,  chegou a fazer algumas provas.  Não esquece uma prova de digitação em máquina de  datilografia.  Na sala do teste o som parecia rajadas  de  metralhadoras.  “Como competir com os dedos velozes dessa gente”, pensou descabriado.  

Mas o script do destino para ele era bem outro. Comprou um jornal foi logo nos  classificados. Um anúncio emprego, lhe prendeu a atenção. Uma empresa oferecia vaga para contador. "Na gaveta". Foi lá "onde a coruja dorme"  Era o que Deus tinha pra ele. Passou a residir  com conterrâneos,  na pensão da rua Paraíba. ICOMINAS (Empresa de mineração controlada pela gigante CAEMI), assinou pela primeira vez a sua Carteira de Trabalho. Três anos depois, seguia para o Rio de Janeiro, onde  se fixou e trabalhou como contador da CAEMI, (mais  tarde vendida pelos netos do Dr Antunes para a  Vale).

  Já ouviu vovô Rondes falar o nome de Augusto Trajano de Azevedo Antunes.? E Dr Antunes?

Rondes teve na vida um só patrão. 42 anos. Um só contrato de trabalho numa empresa que chegou  a ter 80 mil funcionários.

 A vida  e obra empresarial de Dr Antunes,  não encontrou sucessor  no país. Fora o  fundador da mineradora Caemi. ( hoje, patrimônio da  Vale) “O homem que comprovou Jarí,” (diz a Revista Veja de 1982, numa super reportagem, se referindo a um de seus projetos) com um consórcio de 27 mega empresários, projetos com o  PIB maior do que o do Paraguai e Uruguai,  650,000 funcionários, maior do que a população de Rondônia na época. 10 Bancos envolvidos, transação  fabulosa. Fora de série. Mas, para se ter uma ideia da dimensão humana do Dr Azevedo Antunes, basta transcrever o que Dr Eliezer Batista da Silva, disse, sobre este  lendário e saudoso  patrão do vovô Rondes: “Augusto Trajano de Azevedo Antunes, merecia um feriado cívico e uma estrela no pavilhão nacional. Muitos brasileiros amaram seu país; tantos outros trabalharam por ele. Mas raros foram os homens que, como Antunes, soldaram a ferro e fogo virtudes que nem sempre se conjugam: o intenso espírito empreendedor e a capacidade incomum de colocar a nação acima de qualquer outro interesse. Antunes era um brasileiro puro-sangue.”

Vovô foi uma de suas jóias de  confiança.  Entre planilhas e balancet de muitos dígitos, vovó foi craque e encontrou um patrão mega empreendedor, humano e  que se fez amigo leal.

 Vovô Rondes,  nunca esqueceu as suas origens mineiras. Tantos anos de Rio de Janeiro, não se cariocou. 

Um exemplo de quem não esquece o solo sagrado, onde o coração deu as primeiras batidas; onde deixou o colo da mãe para os primeiros passos; onde  aprendeu as primeiras letras; onde teve os primeiros sonhos; onde fez os primeiros gols, onde teve  os primeiros amigos, a primeira namorada, a primeira viagem de trem.

 Radicado no Rio de Janeiro, há anos, antes da pandemia, era duas três vezes ao ano, agora já faz mais de 04 anos que o casal não vem passar seus quinze dias na terrinha. Ele  e vovó Carminha trocavam  o Corcovado, pela Serra do Cruzeiro; o Jardim Botânico, pela Matinha; o Ap. na rua Amélia Angélica, pela casa vede abacate na Praça do T.G. Nunca esqueceu das suas origens, suas amizades e as entidades que ele sempre ajudou anonimamente. Por exemplo. Se o lar da Criança, teve uma gráfica que profissionalizou dezenas e dezenas de criança e trouxe renda significativa para a entidade, foi graças a ele e seu patrão Dr Antunes. Sem falar  nas judas em silêncio publicitário á APAE de Patrocínio.

Lembra da tocha Olímpica percorrendo o pais? Passou por Patrocínio. Não soube o critério de escolha dos condutores, mas gostaria muito que o vovô Rondes, fosse um dos condutores da flama  aqui em terras rangelianas. O “Grande Capitão Rondes”  fez por merecer. Foram injustos com ele.

Mas na década de 90, vovô Rondes recebeu da Câmara Municipal de Patrocínio uma importante honraria, (deve de estar ai na estante dele) cujas letras dos dizeres vão se apagando, coisa  do  “Tempo Esporte Clube,” que não zera o placar por nada neste mundo: “ RONDES VOCE COMO CRAQUE DO PASSADO, COM ARTE E AMOR Á CAMISA, HONROU E DIGNIFICOU O FUTEBOL DE NOSSA TERRA. HOMENAGEM CÂMARA MUNICIPAL DE PATROCÍNIO”

Vinte e sete anos nos separam. Conheci-o tardiamente em 2007,  através das páginas do JP, onde assinava uma coluna, ele, como leitor leu alguma sobre a Barra do Salitre, lugarejo onde nasci e onde ele tinha uma fazenda,  nos enviou uma carta amistosa, desde então, conheci um dos seres humanos mais deslumbrantes..

Vô Rondes, tem, não sei dizer se é um dom, sei que é  uma particularidade rara. Só vista, nas grifes da  literatura, tipo,  correspondência entre  Monteiro Lobato e Lima Barreto; Jorge Amado e José Saramago;  Hermann Hesse e Thomas mann; João Guimarães Rosa com o seu tradutor alemão Curt Meyer-Clason;   Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade;  Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade.

 Mas vovô Rondes supera todos eles:  Ele lê os grandes jornais impressos, pensando nos amigos. Nunca se viu igual. É virtude rara. Recorta, graficamente,  o texto que julga ser de interesse para este ou aquele amigo,  grifa, faz um comentário no rodapé,  ou escreve um bilhetinho alusivo ao conteúdo do texto,  dobra artisticamente e envia, via Correios, para alguns felizardos. Entre outros, Eustáquio Amaral, Paulinho Constantino, Jussara Queiroz, Neudon Veloso, outros tantos  e... eu. Chamo de “Universidade de Recortes” de tão edificantes que são. Não falei dos livros que dele recebi. Uma biblioteca. Me falta palavras para agradecer...

Rondes, seu avô e meu amigo, tem memória privilegiada. Não conhece somente o nosso passado,  mas acompanha o nosso presente,  e aponta melhorias para o  futuro.

Como esquecer. Aqui em Patrocínio, após o almoço, passamos, muitas e muitas vezes, a tarde inteira percorrendo vagarosamente no seu carro  as ruas de nossa cidade. Centro, Alto da Estação, Bairro São Vicente. O antes e depois de cada cantinho de nossa urbe. Momentos para guardar na eternidade. Nossa terra-mãe com  sua história, sua cultura, seus valores, seus atributos, seus pleitos, seus vínculos eternos, seus vultos célebres e seu regaço maternal. 

Como aquele vez que percorremos o fundão  da Matriz, cadeia velha e Vovô, Rondes,  chama a atenção para a arquitetura popular. Casas simples de extremo  bom gosto. Algumas daquelas residências  estão  abaixo do nível da rua, sugerindo que foram construídas bem antes do asfalto passar. Casas bem conservadas, pintadas periodicamente. Algumas com bancos nas calçadas para aquela conversa mineira no final da tarde.

Vovô, Rondes, foi, é e sempre será um craque em todos campos da vida. E como os frutos não caem longe da árvore,  você, para a alegria  dele e nossa também o será.

Agora deixe-me terminar por aqui, Domingo, religiosamente por volta das 14: 30 ele vai me ligar, querendo saber como estão as  coisas por aqui. Cerca de uma hora, vamos passar em revista a nossa cidade. “ Tá faltando assunto por ai, Sr Milton” 

Não tinha nada mais importante para dizer. Convidei o Rafinha, para concordar comigo.  Parabéns, Rondes, Feliz 19/02!  Um vencedor em todos os campos da vida!

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

O MEIO E MAIS

 Explicando  o título de nossa coluna: O MEIO.  É o supro sumo do nosso cotidiano. A vida dinâmica e efervescente da sociedade rangeliana. Do nosso raio de ação, do nosso campo visual, o fato e o comentário, obedecendo sempre a ética interna deste jornal e a inteligência do nosso leitor. O Meio é, portanto  Patrocínio. Nossa gente e nossa terra Mel-rangeliana.

E  MAIS

 É  a transcendência de nossa coluna fora do quadrado, acima da mediocridade. O encorajamento á vida, a palavra consequente, a indignação justa, a ética do evangelho, a língua morta, a língua viva. A palavra velha a palavra nova, perambulâncias literárias, cultura inútil, o que rola na rede, a crônica daquilo que  meu olhar pousa,  a colaboração do leitor. Tudo com muito respeito e bom senso. Tudo sem um centavo envolvido.