Tempo. É bom dar um passeio por ele. Conhecer o que passou. Ver a origem. Ver o desenvolvimento de uma nação. E muito melhor quando essa nação é a (nossa) terra natal. Então, uma amostra da cidade de um século atrás é uma boa pedida para quem curte a saudade.
POPULAÇÃO – Em 1920, Patrocínio tinha somente 15.966 habitantes. Contudo no município havia 44.007. Pois, apenas o distrito de Sant’ana do Pouso Alegre do Coromandel (hoje, Coromandel) contava com 10.511 habitantes. E ainda, Abadia dos Dourados, Cruzeiro da Fortaleza e São Sebastião da Serra do Salitre também faziam parte do município de Patrocínio.
TRANSPORTE – As rodovias eram chamadas de estradas de automóvel. Uma delas ligava a cidade à Catiara, e de lá, seguia para Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza. Patrocínio–Coromandel, Patrocínio–Patos de Minas, Patrocínio–Araxá e Patrocínio–Monte Carmelo eram os outros caminhos. A Estrada de Ferro Oeste de Minas, inaugurada em 1918, possuía seu ponto final em Patrocínio. Mas estava em construção o trecho Patrocínio–Folhados–Monte Carmelo.
TAMANHO – A antiga planta da cidade mostrava que a zona urbana tinha poucas ruas. A Rua São Vicente, hoje Artur Botelho, praticamente era a última rua. Do outro lado, era a Rua do Cisco, hoje Secundino Tavares. Na verdade, a cidade existia em torno das praças (chamadas de Largo) da Matriz, Honorato Borges e Santa Luzia. Por exemplo, a estação ferroviária era isolada, não havia casas e ruas por perto.
POLÍTICA – Osório Afonso da Silva era o presidente da Câmara e agente executivo (prefeito). Mais dez vereadores formavam o Legislativo. Entre os quais, Elmiro Alves do Nascimento (avô dos proprietários da Rádio Difusora), Antônio Amaral, Otávio de Brito (farmacêutico), Theodorico Machado e Leovigildo de Paula e Souza (jornalista).
IMPRENSA – Após o desaparecimento de “O Patrocínio”, surgiu o “ Cidade de Patrocínio”. Pertenceu a Honorato Martins Borges, cujo primeiro redator foi o padre Agostiniano Nicolau Catalan. Depois, Carlos Pierucetti, grande advogado.
COSTUME – As viagens distantes não eram frequentes. Entretanto, quando alguém viajava, seja por trem, cavalo ou automóvel, principalmente para cidades maiores, a educação e o costume recomendavam que o viajante passasse de casa em casa (casa de amigos e parentes) antes de partir para despedir–se. No retorno o ritual praticamente se repetia. Esse comportamento permaneceu inalterado nas décadas de 30 e 40.
SOCIEDADE – O centro cultural, social e administrativo localizava–se na Largo da Matriz. Entre os lugares mais procurados, havia o clube social do município. Lá eram realizados, frequentemente, encontros de políticos e lideranças patrocinenses. E eram praticados alguns jogos. Os jornais de Belo Horizonte chegavam com dois dias de atraso, pela Rede Mineira de Viação – RMV (estrada de ferro). Os jornais do Rio de Janeiro, com cinco dias. Bastante lidos, eram a grande fonte de informação (não existia rádio nem televisão).
COMÉRCIO – Os maiores atacadistas da praça, entre os quais alguns com seção de varejo, eram: Alves Cardoso & Cia., Barbosa & Cia., Mendes & Cia., Miguel Felipe & Filhos e Joaquim Ferreira & Filho. Os maiores varejistas eram: Patico & Ramiro, Casa Campos, Odorico Machado, Antônio Mansur, José Mansur, Elias Isaac & Irmão, Casa Borboleta e Telesphoro Ribeiro. De acordo com o jornal “Cidade de Patrocínio”: “Nosso comércio é composto de negociantes práticos, inteligentes e sérios.”
LATICÍNIOS – O queijo era o principal produto de exportação (para outras cidades). São Paulo era a maior cidade importadora. Quanto à manteiga, a produção patrocinense destinava–se a Carmo da Mata, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. As principais fábricas de manteiga pertenciam ao Coronel Honorato Martins Borges, Luciano Brasileiro, José Cassimiro e Mário Alves.
REMÉDIOS PATROCINENSES – O farmacêutico Otávio Alves de Britto manteve um bem equipado laboratório químico em Patrocínio. Entre diversos medicamentos, eram fabricados Sinaperesol (para reumatismo), Salsol (uso veterinário) e Hierarcite (para hemorroida).
POR FIM – As fontes desta crônica são o antigo Instituto de Geociências de Minas Gerais–IGA, do Governo Estadual, e a coluna “De Volta ao Passado”, revista Presença, de autoria deste escriba puramente amador.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 18/2/2017.