Querida. É a terra natal. É a terra em que se vive. Querida é a nossa Patrocínio. Dia 7 de abril é o seu aniversário. Agora, comemorou-se 180 anos de seu nascimento (emancipação/vida própria). Cento e oitenta anos para não serem esquecidos. Cada fase de sua vida é capítulo de sua história existencial. É bom recordar quem escreveu cada fase, cada capítulo. Na verdade, alguns autores, algumas celebridades, de um magistral tempo que se foi, merecem (ou mereceriam) estar numa imaginária grande festa de aniversário da cidade que tanto amaram.
MUNDIM NÃO PODE FALTAR... – Francisco Martins Mundim, o primeiro prefeito (utilizando o nome de Agente Executivo), batalhou muito pela emancipação patrocinense. Por volta de 1830-1840, comandou belicosas batalhas na Vila (Patrocínio). Os assaltantes de pedras preciosas e bandos de invasores das terras agrícolas eram os principais adversários. O seu prestígio junto ao Império atraiu o título de capitão (da Guarda Nacional) para si e ao seu pai Pedro. O Imperador também lhe concedeu o título de Cavalheiro da Imperial Ordem da Rosa do Brasil e favoreceu decisivamente à emancipação municipal.
MAIS CONVIDADOS... – Os primeiros vereadores também não podem se ausentar: Sargento Jerônimo, Fortunato Botelho, Lucas Rodrigues, Bento Mariano, José Fernandes e o intelectual Dâmaso José, que era juiz e delegado ao mesmo tempo, e Joaquim Magalhães, que quatro anos depois tornou-se o segundo prefeito (avô de 4º grau de Milton Magalhães).
O MAIS PODEROSO TEM CADEIRA CATIVA – Rangel. Há dois. Um festeiro, farrista, dono de rancho. Mas isso antes da emancipação. O poderoso Rangel surgiu dez anos depois (1853) da emancipação. Antônio Correa Rangel: vereador, presidente da Câmara, Agente Executivo e delegado. Esse patrocinense queria levar todos os vereadores para a prisão, devida à resistência ao seu nome para prefeito (a Câmara e a cadeia ficavam no mesmo prédio). Aí surge a inteligência de Francisco Alves Souza (famoso jurisconsulto patrocinense no Império). Com habilidade supera a dificuldade instalada. Tanto Rangel como Francisco são bem-vindos à festa.
PRESENÇA OBRIGATÓRIA: BERNARDO E ÍNDIO AFONSO – O escritor/juiz Bernardo Guimarães (patrono da Academia Brasileira de Letras) escreveu diversos romances de enorme êxito e popularidade. Patrocínio consta de, pelo menos, duas obras: “O Garimpeiro” e “Índio Afonso”. Esse, herói para alguns (grandes fazendeiros e Bernardo), bandido para outros (Guarda Nacional e juízes). Pela imprensa do Império, tornou-se a maior celebridade de Minas e, talvez, a maior do Brasil, nessa época final imperial. Patrocinense, conforme Censo de 1832-1835, viveu entre Patrocínio e o rio Paranaíba na região de Catalão-GO. Um pardo muito forte e de coragem alucinante.
CORONEL RABELO, O ÚNICO BARÃO DE PATROCÍNIO – Joaquim Antônio de Souza Rabelo nasceu em Santa Rita de Ibitipoca, viveu e faleceu no Município. Residiu na melhor casa da cidade, situada na Praça da Matriz (onde é hoje o Colégio Belaar). Monarquista, era tenente-coronel da Guarda Nacional (só título), foi o primeiro deputado (provincial) de Patrocínio e eleito senador do Império (não confirmado pelo Imperador Pedro II, devido ao crime do Juiz Ottoni). No ano da Proclamação da República (1889), em agosto, ganhou o título de “Barão de Patrocínio”. Como grande fazendeiro, Cel. Rabelo era acolhedor da histórica família do Índio Afonso, em suas fazendas. Por isso, é tido como o mandante do assassinato do juiz Eloy Ottoni, seu adversário político. Um de seus filhos foi prefeito (agente executivo) e depois suicidou-se (José Rabello da Fonseca).
OUTRO HERÓI... – Esse também tem que estar presente na surreal festa de aniversário. Olendino Francisco de Souza, o Comandante Souza. De origem humilde, o incrível e corajoso patrocinense retirou do inferno 307 pessoas. Sim, no incêndio em São Paulo (1972), Souza, com o helicóptero do Governo paulista, enfrentando chamas e fumaça, deu nova vida às pessoas no alto do trágico edifício. As emissoras de TV testemunharam a façanha.
HERÓIS DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – Nessa fabulosa festa de aniversário não poderiam se ausentar os cinco patrocinenses que estiveram frente a frente com os alemães liderados por Hitler. São eles: Amadeu Lacerda (Rua Artur Botelho), Francisco Caracioli de Freitas (carteiro dos Correios, por último), Expedito Dias (família do Padre Modesto), Pedro Barbosa Vitor (voluntário patrocinense), e, Francisco Pedro da Silva (de Silvano-Folhados). E também da mesma maneira, os 21 patrocinenses desconhecidos pela história, presentes em outra guerra: a do Paraguai (1864-1870).
JORNALISTAS... – Carlos Pieruccetti (jornal Cidade de Patrocínio), Sebastião Elói, Odair de Oliveira (jornal Estado de Minas), Padre Nicolau Catalan (jornal Cidade de Patrocínio), Pedro Alves do Nascimento, Humberto Cortes, Petrônio de Ávila na reportagem... e tanta gente mais.
AS GRANDES LIDERANÇAS DO SÉCULO XX... E DE SEMPRE! – Engraçado, todos de terno branco, mostrando a honestidade e pureza que foram para a cidade. Honorato Borges (responsável pela ferrovia), Amir Amaral (o “JK patrocinense” e 1º lugar geral na Faculdade Nacional de Medicina), Mário Alves do Nascimento, Enéas Aguiar (promoveu a vinda da Cemig), Abdias Alves Nunes, Olímpio Garcia Brandão e... pouca gente a mais.
MESTRES DO ENSINO NO DESFILE... – Passando pela passarela da saudade, Padre Caprázio, Franklin Botelho, Olga Barbosa, Irma de Carvalho, Iraídes Machado e sua turma, Leonor Magalhães, prof. Hugo... e mais alguns.
LÁ VEM OS ARTISTAS... – Maestro José Carlos (autor da música patrocinense mais divulgada), prof. Olímpio dos Santos (aulas e arte), Baim (música), violinista Paulinho Machado (compositor), José Frazão (cantor), Massilon Machado (poeta), Joaquim Carlos dos Santos (maior historiador), e... também comparecem na utópica festa.
MOMENTO DE PRECE – Um quase santo, Padre Eustáquio (beato, que viveu em Patrocínio). Outro caminha para a beatificação, Dom Lustosa (bispo diocesano que criou a mais marcante escola regional, que leva o seu nome). Ambos são a luz maior dessa eterna festa. |
E NÃO PARA DE CHEGAR GENTE – Agora, o bloco do esporte liderado por Véio do Didino (o “Telê Santana” rangeliano), Múcio (Seleção Mineira e Palmeiras), Pedrinho (Atlético Mineiro), Blair (Seleção Mineira do Interior), Rondes (o gênio da bola), Dedão, Calau, Romeuzinho, Ratinho, Macalé, Chapada, Natinho (o criador do PTC, que lhe custou uma lata de jabuticabas), Mathias Alfaiate (o criador da Corrida da Fogueira) e...
ENFIM – É uma festa de arromba. Gente demais. Tanta gente que escreveu a história de Patrocínio. Todos sopram as 180 velinhas desse sagrado chão, localizado no coração de Minas. Que recebe dos Céus a permanente benção.
([email protected]) *** Crônica publicada também na Gazeta de Patrocínio, edição de 09/042022.