Março. É um mês que passa para a história. Há um ano exatamente, o Brasil era atacado por um “monstro” desconhecido chamado Covid-19. E esse “monstro” enfureceu de vez nos últimos dias. Nesse contexto, para suavizar um pouco o cotidiano, recordações (patrocinenses) de fatos ocorridos em marços de outrora.
1954: SURGE A GLÓRIA DO FUTEBOL – Em 19 de março era fundado o Clube Atlético Patrocinense, o nosso amado CAP. A família Silva, sob a liderança de José Luiz Silva, que tinha oito craques, juntamente com Paulinho Constantino (ex-prefeito de Presidente Prudente) concretizaram o sonho. Registro, estatuto e até a camisa alvinegra foram concluídos. O Botafogo-RJ era a coqueluche do futebol nacional à época. Por isso, tinha grande torcida em Patrocínio (Paulinho Constantino, Rondes Machado e outros). E o Atlético Mineiro era o campeão mineiro, base da Seleção Mineira, onde atuavam Múcio (o melhor jogador de futebol de Patrocínio até agora) e Pedrinho (grande lateral do Ipiranga e Flamengo do Véio do Didino). Essas foram as razões para o CAP ter a camisa branca e preta, em seus primeiros anos de vida.
GOVERNO MILITAR: 31 DE MARÇO – Nesse dia, caiu o governo populista de João Goulart, que tinha visitado o Município em campanha eleitoral. E os militares assumiram o Governo em Brasília. Mário Alves do Nascimento era o prefeito e Dr. Amir Amaral o vice-prefeito. Ambos do PSD, que no início da ditadura militar desapareceu com a reforma política. Os ferrenhos adversários UDN e PSD foram unidos (isso é incrível!) e daí surgiu um novo partido denominado Arena, sob a tutela do Governo Militar.
ÔNIBUS DE PATROCÍNIO NÃO CHEGOU EM BH – Terça-feira, 31 de março de 1964. Nessa data os patrocinenses estavam regressando à capital pelo Expresso União em seu único horário pela manhã. Ônibus lotado, como também foi o do dia anterior. Eram os dias após a Semana Santa. Por volta de 19h, o motorista (Costela ou Pó de Mico) foi avisado na Rodoviária de Pará de Minas para não continuar a viagem. Pois, o Exército estava requisitando ônibus para o transporte de tropas para o Rio de Janeiro e Brasília. Conclusão: passageiros passaram à noite na Rodoviária. No dia seguinte, com muitas conversas e justificativas, o motorista resolveu ir até a divisa de Betim e BH. Lá deixou os passageiros, que, com malas, pegaram os “lotações” (ônibus urbanos). Tudo isso devido as forças militares terem tomado os pontos (ruas e edifícios) estratégicos da capital mineira. Cenário de guerra.
FUTEBOL, MODA E RELIGIÃO – Embora o clima fosse tenso no país, o CAP, chamado naquele tempo de Atlético ou Patrocinense, alegrava as tardes de domingo. Sempre o Júlio Aguiar lotado para ver Gato, Calau, Macalé, Jovelino, Totonho, Gulinha, Edward, Anedino, Fausto, Barôfo, Romeuzinho e companhia. Do lado da fé, o holandês Padre Lamberto Verrijt era o vigário da Paróquia. O Cine Teatro Patrocínio, na Praça Santa Lúzia, em suas sessões de sábados e domingos, tornava-se a passarela da cidade. Por lá, eram exibidas as melhores roupas, os sapatos novos e os criativos penteados. E aconteciam os primeiros flertes, os primeiros sorrisos, entre os jovens dos anos dourados.
O COMÉRCIO EM 1964 – A Rodoviária se situava na Rua Artur Botelho, tendo o Mercado Municipal por um lado, e o Colégio Prof. Olímpio dos Santos pelo lado da Av. José Maria de Alkmim. Na Av.Rui Barbosa havia Bar Elite, Loja Singer, Casa Facury, Casa Mansur, Casa Daura, Casa dos Calçados, Patrocar (Posto Chevrolet), Relojoaria Diamante Azul, Alfaiataria do Matias, Farmácia Nossa Senhora do Patrocínio, Casa do Tuniquinho, Automig (Posto Ford), Sinuca do Santinho, Irmãos Felix (Posto da Vemag) e Bar Cinelândia.
BERÇO DA JOVEM GUARDA RANGELIANA – Na Rua Presidente Vargas, era a Autocar (revendedor Willys, com destaque para o Jipe, Gordini, Rural e Aero Willys), onde Wanderley Guarda e Edson Bragança ensaiaram os primeiros acordes de seus violões e guitarras. Do outro lado da Praça Santa Luzia, ainda na Rua Presidente Vargas, a tinha antológica Churrascaria Alvorada. Não se esquecendo no mesmo quarteirão, as presenças da Patrolux (móveis e eletrodomésticos), do Bemge, do Banco do Brasil e... de tanta coisa que não existe mais. Entretanto, em tudo mora na saudade.
Publicado também na Gazeta de Patrocínio, edição de 06/03/2021.