# Milton Magalhães

Caro Diretor-Presidente da Vale, Murilo Ferreira

23 de Janeiro de 2017 às 19:19

*Caro Diretor-Presidente da Vale, Murilo Ferreira,

Perdoe-me  esta  informalidade inicial, deveria usar  um vocativo á  altura do alto posto  o qual  honradamente ocupa. Acabei dispensando todo florilégio e ‘devorteios’ verbais para uma fala fluente, simples,  direta e passo a explicar-lhe por que.  Não,  por favor, não é desrespeito, nem petulância de minha parte, sei que me dirijo ao  diretor de uma empresa com atuação global. Acontece que busquei saber a seu respeito, sei que possui um corrículo digno de respeito. Soube que é um executivo de empresas, analista financeiro e econômico, com especializações até na Suíça e achei saliente saber que   possui   mais de 30 anos de experiência em mineração.(Mineração, segure esta palavra) E por fim, me dei com um detalhe que  me levou a dispensar toda pompa. Soube que é mineiro e mineiro de Uberaba. Foi isto que quebrou todo gelo. Sou de Patrocínio, cidade vizinha da sua.

Deve se orgulhar de sua cidade natal. Sempre falei e aqui provo em três tempos, que o uberabense é  o povo mais gentil, solidário e com o maior senso cívico do país.

GENTIL. De modo especial conheci a gentileza da gente de sua terra. Foi quando minha mãe conduzia meu  pai ao hospital, saia vagarosamente pelas ruas, era recorrente  parar  um carro com pessoas desconhecidas,  oferecendo-lhes uma carona até a porta da instituição de saúde que iam.Não é uma atitude comum em outro lugar. Em Uberaba cenas assim se repetem.

SOLIDÁRIO. Digo sem medo de errar, que o legado de solidariedade do, "Maior Brasileiro da História", Francisco Cândido Xavier, é algo entranhado no cotidiano do uberabense.

SENSO CÍVICO. Nenhum outro município tem um lema na bandeira, que aponta mais para o vigor cívico de seu povo:  “Indefesse pro Brasilia!-"Incansável na defesa do Brasil" . Só por ser mineiro de Uberaba,tenho certeza que estes valores e ideais plasmaram  a  sua rica personalidade que fazem a diferença no mundo corporativo. Li na Revista Veja, que tem uma grande capacidade de  negociação.Que é ” metódico como um japonês e trabalha em silêncio, como bom mineiro” Confirma que não errei em meu prognóstico.

Sae-se de Minas, mas, Minas não sai de dentro de nós. Ou, vai me dizer, que, de vez em quando, não lhe chega o Queijo Minas, o café puro, doces, polvilho, torresmo e outros ‘trem bão de Minas’. Tenho certeza de que se orgulha de sua gente, laboriosa e aguerrida. Gente, ali, no eito com altivês, promovendo Uberaba, no melhor sentido e em diversas frentes.  Além da raça e marca internacional,Zebu,Comércio e Indústria vibrantes, Pólo Educacional,tem  o Sítio Paleontológico, Chico Xavier, os Lagos, Mineração, Turismo Tecnológico, Turismo Religioso,Turismo de Eventos.

Elenquei de bom grado as qualidades de seu povo e de sua cidade, aos quais reafirmo minha admiração. Agora peço vênia, para lhe apresentar a minha cidade.(Mantenha como pano de fundo, a palavra: Mineração)

Patrocínio,conta com, aproximadamente,87.178  habitantes, uma cidade que bem poderia ser cognominada de DOCE COLO DE MINAS GERIAS. Lugar onde a hospitalidade típica do povo mineiro, acabou por fazer  nascer uma pujante cidade. Receber bem visitantes, é um traço cultural todo nosso.  História de Patrocínio originou-se no século XVII como um ponto de parada de bandeirantes com destino aos Sertões de Goiás em busca de ouro. Correram-se os anos a cidade  prosseguiu  acolhendo em seu regaço, filhos que tanto contribuíram para o seu desenvolvimento. Há uma coleção infindável de histórias de pessoas que  passaram pelo município prestando algum tipo de  trabalho e mais tarde ao se aposentarem,  regressavam, escolhendo Patrocínio entre milhares para abrigar  suas famílias.O que fazem com que as pessoas voltam?  O clima? a água? as dádivas da natureza? Sim, tudo isto, mas principalmente os afagos no coração das pessoas, que somente os mineiros de Patrocínio sabem fazer.

O município focou na pecuária leiteira até a década de 1970, com a  implantação do Polocentro, pelo então Ministro da Agricultura Alisson Paulineli. Na época, várias famílias, procedentes dos estados de São Paulo e do Paraná se mudaram para cá. Ocorreu-se  então o “Eldorado da Cafeicultura” O município tem investido forte na produção de café nos últimos quarenta anos. Em 2005, veio a conquista da  certificação de origem de café do cerrado, o que lhe permite exportar o produto com identidade única no mundo. Aliás, gostaria que o pessoal da  Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado - Expocaccer, fizesse chegar a você o café ‘Dulcerrado’.Vai correr o risco de não querer outro.

Garanto-lhe que Patrocínio é  uma cidade magnífica em todos os aspectos. Sua  história  é singular, mas o que mais encanta em Patrocínio, são as pessoas. Exemplares humano de rara grandeza de alma. A cidade apenas reflete isto.

Agora, quatro décadas depois  do “Boom da cafeicultura”, a cidade, vive a expectativa de iniciar uma nova atividade que mudará drasticamente - para melhor- o seu futuro. 

A Vale, empresa da qual, é  diretor-presidente, está em vias de ser implantada no município. E antes de mais nada, na qualidade de colunista, arrebatado de amor pela minha cidade e conhecendo o projeto da Vale, que tem como premissa as responsabilidades, sócio-econômico-ambiental nos territórios nos quais  opera, me apresento como autor do mantra: “Seja bem-vindo a Patrocínio,Vale!”

Bom. Quando se fala em Mineração muita gente torce o nariz,ou faz o sinal da cruz, por aqui, não tem sido diferente.Deve-se saber que é  uma atividade essencial e indispensável para a sociedade moderna, está na base de tudo e não temos a opção de viver sem ela. Senão, mire e veja: A sociedade precisa de minerais e metais para cada vez mais finalidades. Minerais industriais como a mica são componentes essenciais de materiais industriais avançados. A agricultura necessita de fertilizantes à base de minerais. A indústria depende dos metais para seu maquinário e do concreto para as fábricas necessárias à industrialização. Nenhuma aeronave, automóvel, computador ou aparelho elétrico funcionaria sem metais. O fornecimento de energia elétrica depende do cobre e do alumínio. O titânio é fundamental para motores de aeronaves. Um mundo sem o chip de silício hoje é inimaginável. Os metais continuarão a atender às necessidades das gerações futuras através de novas aplicações nos setores de eletrônica, telecomunicações e aeroespacial. O grande  desafio é harmonizar a mineração com a responsabilidade ambiental. A Vale vive este conceito nos mais de 30 países e nos cinco continentes onde atua. Não seria em Patrocínio que pisariam na bola.

Como presidente da Vale, vai concordar comigo se disser que  é uma empresa com a “consciência limpa”no Planeta. Como exemplo, cito a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNUDS), conhecida também como Rio+20 , quando a Diretora-Executiva de Recursos Humano, Saúde & Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale, Vania Somavilla, proferiu uma  palestra, olhando nos olhos dos presentes: “Temos que deixar mais do retiramos.Não basta mais obter apenas as licenças formais para operar, buscamos a ‘licença social’”, e  afirmou que a Vale está diante do desafio de deixar no planeta mais do que retirou. Para uma atividade que causa impacto e transforma realidades, criar e compartilhar valor para as comunidades é o eixo para sustentabilidade. Uma empresa que degrada a natureza, subiria na tribuna na Tribuna da Rio+20? Mas, nem morta! Concorda?

O  chamado "Projeto Salitre" teve sua prospecção, ainda sob a direção da Fosfertil,(adquirida pela Vale em 2010) era para ter tido o seu startup em 2013. Previa a construção de um complexo industrial químico, para aproveitar o minério que seria  extraído e beneficiado aqui em Patrocínio, com capacidade para produzir 560 mil toneladas por ano de ácido fosfórico (insumo intermediário para a produção de fertilizantes fosfatados de alta concentração). Além disso, a empresa previa  instalar em Patrocínio, unidades de ácido sulfúrico e outras plantas. 60% do maior insumo dos fertilizantes seria  feito em Patrocínio. Com um investimento no valor de R$ 2 bilhões que ia  gerar 1.500 empregos diretos e 4.500 empregos indiretos. Lembra-se que em  2011, você o Governador da época, Antonio Anastasia e o Prefeito de Patrocínio,Lucas Siqueira, assinaram um Protocolo de Intenção reafirmando o projeto? Mas em 2012 o escritório da Vale em Patrocínio, foi desativado.Silencio sepulcral...

O projeto em stand by, o sonho acordado prosseguia. Para se ter uma imagem da grandeza do empreendimento o volume de concreto que seria usado na construção do complexo industrial é suficiente para erguer cinco estádios do tamanho do Maracanã, no Rio de Janeiro. Com a implantação da mina de fosfato no município, a expectativa de crescimento populacional, apontada por uma agência de Patrocínio é de aproximadamente 30% até 2025, passando de 87 para 110 mil moradores. Como vê, muita especulação. E sabe por que? Até aqui, as lideranças local e  vocês da Diretoria da Vale, não harmonizaram o discurso. Sei, muitos políticos montam palanque eleitoral no caso (Por isto,  indico, que procure o Deputado e Presidente do Conselho Nacional do Café (CNC) patrocinense, Silas Brasileiro, é discreto, inteligente e íntegro) A palavra chave é parceria, reciprocidade, convergência, nada menos do isto em um negócio  previsto para durar 100 anos...

Infelizmente o anuncio oficial de que a Vale vai extrair o minério e levar por ferrovia para Araxá, onde será beneficiado. Para isso vai construir um ramal ferroviário de Patrocínio até Araxá. A alteração do projeto original irá transformar Patrocínio apenas no fornecedor de matéria-prima, com a geração de no máximo 10% dos empregos e renda que eram previstos no projeto inicial, foi desalentador. Sabe aquela andorinha indo de encontro a  parede branca?  O economista, Acadêmico da Academia Patrocinense de Letras e Colunista da Gazeta, sintetizou: “Para Patrocínio é a maior derrota, desde o seu primórdio em 1772. É idêntico à derrota do Brasil pelo Uruguai, em 1950, na final da Copa, e ao famigerado 7 a 1, diante da Alemanha, no Mineirão, em 2014.” Aí para usar um minerês caipira: “nóis tá levando manta”. Não obstante, a frustração,tem a minha admiração, pois em plena crise, você está firme desengavetando projetos.

A propósito, recebi um bilhete de Rondes Machado. Este fala de cátedra, conhece as duas pontas do tema em voga. Além de patrocinense  apaixonado, tem no currículo quase quarenta anos no pelotão de frente do Dr Antunes- Sim, falei Dr. Antunes- patrocinense/carioca, um dos homens de confiança do Dr Antunes. Pinço e compartilho parte do bilhete de Rondes:

“..No momento e Vale enfrenta situação crítica, com o preço de seu principal produto - minério de ferro-  no fundo do poço ou sendo vendido na bacia das almas O fato, é que a Vale está cortando fundo nos seus custos e nos investimentos e pode (suposição) não ter recursos  para realizar o nosso projeto inteiro agora, até podendo não ser sua prioridade... Simplesmente dizer “que não concordamos”, ou “não aceitamos”o novo projeto da Vale (extração do minério aqui e beneficiamento acolá), é precipitação. A Vale está tratando de negócios (business na língua dos gringos) Para cumprir suas responsabilidades sócias, antes, o negócio tem que gerar lucro, o carro não pode passar adiante dos bois...Lamento profundamente, pela não realização integrado. AGORA, quem sabe poderíamos aceitar o novo projeto (podado) AGORA,com o compromisso firme (estabelecendo data?) da Vale de ampliá-lo para igualar depois ao original, assim quq a crise passar e a situação permitir, TODA CRISE PASSA E  a atual passará como passará o atual governo...

Citei Dr Antunes, ou melhor: Augusto Trajano de Azevedo Antunes, nome de imperador e de fato fundou e dirigiu um grande  império da mineração. (Fundador da holding CAEMI, que atualmente pertence a Vale) O “Mauá do século 20".  Dr Eliezer Batista, ex-presidente da Vale, disse que Dr Antunes- que pra mim era o mais mineiro dos paulistas-  “Foi a  jazida mais valiosa que Deus colocou em terras brasileiras”. 'Mire e veja' o que disse Dr Antunes: “A sociedade precisa de tomar consciência do verdadeiro papel que cabe às empresas e aos seus dirigentes, parte integrante que são da mesma sociedade. No complexo da economia moderna, toda atividade criadora de riquezas é essencialmente social, uma vez que dela depende o bem-estar da coletividade. A livre iniciativa deve, assim, estar cônscia de suas responsabilidades e deveres, impostos pelo seu caráter de atividade socialmente útil e fecunda. Esta ordem de idéias é que nos leva a afirmar que não pode existir autêntico homem de empresa sem espírito público.”

O “Projeto Salitre”, pede diálogo e respeito bilateral. Pede a memória/cidadã de Dr Antunes. É um desafio á sua (E nossa) “grande capacidade de  negociação” .“Seja bem-vindo ao diálogo; seja bem-vindo a  Patrocínio,Vale!”

Um patrocinense confiante!

*(Essa Carta aberta foi publicada em 2015, no  Blog anterior aqui no POL e em nossa coluna na Gazeta de  Patrocínio.Publicação esta enviada ao  Presidente da Vale)