# Eustáquio Amaral

CATIARA, QUANDO POVOADO PATROCINENSE, FOI O CENTRO DA LIGAÇÃO TRIÂNGULO–BH–RJ

11 de Dezembro de 2022 às 18:18

                                      

 

 

Patrocínio. É a essência pura nesses quase 45 anos desta saga bairrista. Neste capítulo dedicado à história (e como é frutífero conhecê-la) pequena viagem no tempo mostra o perfil do Município em 1917. Isso, há um século atrás. Na economia, fumo, cana-de-açúcar, curtume (couro cru) e gado lideravam as movimentações comerciais. Havia um único meio de comunicação rápida e cinco distritos do Município. O tamanho da cidade, a sua vizinhança e até a ortografia da época tornam-se curiosidades inesquecíveis.

 

SEM TELEFONE, SEM ÔNIBUS, MAS... – Patrocínio se comunicava com outras cidades apenas pelo telegrafo, pertencente ao IBGE, situado no primeiro andar da Prefeitura (hoje, Casa da Cultura). Não existia nem rádio (amador ou comercial). Pelas estradas de poeira (ou lama) somente poucos automóveis, que interligavam Patrocínio com Patos (ainda sem o “de Minas”), Araguari, Uberaba, Paracatu e Catiara (chamada de Lavrinhas, nessa ocasião). Portanto, ônibus era produto desconhecido. Essa localidade (Catiara) era o principal ponto de convergência de todo Triângulo (e Noroeste), pois era, até então, o final da linha de transportes de mercadorias e passageiros, por estrada-de-ferro (ferrovia), para BH e Rio (estação de Catiara foi inaugurada em 1915). A extensão até Patrocínio se encontrava em construção, por centenas de operários (a maioria de cor negra, face à recente abolição), cuja inauguração se deu em outubro de 1918. Cartas e jornais pelo correio levavam dias, muitas vezes semanas, para chegarem ao destino. Na maioria, correio a cavalo.

 

POUCAS CASAS, POUCAS RUAS, POUCA GENTE – A cidade de Patrocínio tinha população de 3.600 habitantes, morando em 680 casas. Assim, os, hoje, estádios Júlio Aguiar ou Pedro Alves do Nascimento caberiam toda a população. Inexistiam asfalto ou via com paralelepípedo (pedras tipo Ouro Preto).

 

DISTRITOS TAMBÉM PEQUENOS – Sant’Anna do Pouzo (com “z”) Alegre do Coromandel era o maior distrito. Entretanto, com apenas 945 habitantes. Lagamal e Santa Rosa já eram povoados do, então, distrito (Coromandel). Abbadia dos Dourados (com dois bês), distrito patrocinense desde 1862, tinha 980 habitantes. Daí, maior que Coromandel. S. Sebastião da Serra do Salitre foi, juntamente com Coromandel, o mais antigo distrito de Patrocínio. Lá habitavam 726 hab. E o povoado Catiara, importante e movimentada estação ferroviária. O quarto distrito era o caçula de Patrocínio em 1917, pois foi criado/instalado em 1912, Cruzeiro da Fortaleza. Nele residiam 860 pessoas. Brejo Bonito, com o possível nome Cruzeiro dos Folhados era o povoado.

 

UBERABA E ARAGUARI, AS MAIORES – Se considerar o número de casas existentes no começo do século XX, Uberaba era a maior cidade do Triângulo-Noroeste, com 2.410 moradias. A surpresa fica por conta de Araguari, no 2º lugar, com 1.536 casas. Maior do que Uberabinha, melhor dizendo São Pedro de Uberabinha, no 3º lugar (em 1929, após plebiscito, passou a ser Uberlândia). No 4º lugar, com 680 casas, Patrocínio, e, no 5º lugar, Paracatu (620 casas). Nessa época, a cidade de Patrocínio era maior do que a cidade de Patos (sem o “de Minas”, que só surgiu nos anos 40).

 

DESENVOLVIMENTO: CIDADES MENORES, MELHORES POSICIONADAS – Embora fosse a 4ª maior da região, pelo critério “número de casas”, quando considerados indicadores socioeconômicos (população + renda anual municipal), Araxá, Patos e Paracatu ultrapassavam um pouco Patrocínio. As principais lavouras patrocinenses, em 1917/1918, foram algodão e fumo (fumo de rolo para “pito” de palha de milho era o costume). Cana-de-açúcar (escrevia canna de assucar) e cereais (arroz e feijão) também eram destaques. Criação bovina era a principal atividade comercial. Barretos–SP e Rio de Janeiro, principais destinos do “gado” e seus derivados. Por isso, laticínios (queijos, manteiga) e curtume (peles) eram as principais atividades industriais (considerando o contexto da época).   

 

CENÁRIO POLÍTICO – O mineiro Venceslau Brás era o presidente da República. Delfim Moreira o presidente de Minas Gerais (hoje, governador). Arthur Botelho o agente executivo de Patrocínio (hoje, prefeito municipal). Elmiro Alves do Nascimento (pai dos “Alves do Nascimento”), Octávio de Brito (farmacêutico) e Leovigildo de Paula e Souza (poeta-jornalista) estavam dentre os vereadores. Jornal “Cidade de Patrocínio” era o grande jornal. Em Minas, havia somente 178 municípios (hoje, são 853). No Triângulo-Noroeste, por sua vez, só tinha 18 municípios.

 

FONTES – Diccionario e Estatística Chorografica de Distancias do Estado de Minas Geraes (edição, 1917). Elaboração da antiga Secretaria do Interior de Minas. E complementos extraídos do arquivo particular deste autor.

 

 

([email protected])   ***   Primeira Coluna também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 10/12/2022.