# Eustáquio Amaral

CEL. RABELO: VERSÕES HISTÓRICAS DE SUA MORTE

29 de Agosto de 2021 às 16:05

 

 

      

 

História. Ela também tem os seus capítulos. Tem as suas interpretações diferentes. Um exemplo é a morte do líder patrocinense, Coronel Rabelo, no tempo do Império brasileiro. Publicadas neste minifúndio, já há duas narrativas divergentes. A da escritora Lindalva Machado Fonseca e a do excelente pesquisador genealógico Adeilson Batista. Todavia, a pesquisa histórica mostra um terceiro relato do falecimento. Por incrível que pareça, distinto dos dois apresentados. Tudo isso propícia fascinante reflexão. Como também, entretenimento.

 

REPUBLICANOS TERIAM O MATADO – Coronel Rabelo era monarquista ferrenho. Foi vereador em Patrocínio, deputado provincial, amigo de D. Pedro II, eleito como senador (mas não foi ratificada a sua eleição pelo Imperador, devido ao assassinato do juiz Eloy Ottoni.). Tornou-se também o único barão de Patrocínio, ato de Pedro II. Mas, em 15 de novembro de 1889, veio a Proclamação da República. O historiador e escritor CornéIio Ramos, da Academia Catalana de Letras, endossado pelo grande intelectual patrocinense Odair de Oliveira, afirmaram que os republicanos, após a Proclamação da República, decidiram por suas próprias mãos punir os (eventuais) mandantes do assassinato do juiz, que era líder republicano declarado. Cornélio Ramos residiu em Patrocínio e estudou no Ginásio Dom Lustosa.

 

A INVASÃO DA FAZENDA – O juiz Ottoni foi morto em 03/10/1889. Nessa ocasião, Coronel Rabelo se encontrava na capital do Império, Rio de Janeiro, visando conseguir a sua confirmação para o Senado. Não obteve êxito. Pois, o senador Christiano Ottoni foi informado do assassinato do sobrinho (juiz Ottoni), com a suspeita de que o Coronel Rabelo tenha sido o mandante. Aí, Christiano Ottoni, interferiu junto ao Imperador para não nomear Rabelo como senador. Com o insucesso da não ratificação de sua eleição para o Senado e com os comentários de que fora quem ordenou o bando de João Afonso (filho do Índio Afonso) matar o Juiz republicando, Cel. Rabelo recolheu-se em sua fazenda, no município de Patrocínio. Nisso, com a Proclamação da República, os republicanos patrocinenses partiram para a vingança. Invadiram e incendiaram as fazendas do Coronel Rabelo e dos filhos. Especificamente, na fazenda do Barão de Patrocínio, ocorreu intenso tiroteio entre os imperialistas (em defesa do Coronel Rabelo) e os republicanos. Na batalha, o Cel. Rabelo foi morto. Essa é a terceira versão de sua morte, narrada por Cornélio Ramos e Odair de Oliveira.

 

PRIMEIRA VERSÃO: SUICÍDIO – A escritora patrocinense Lindalva Machado (filha de Theodorico Machado), em seu livro “Fios Emaranhados”, escreveu que o Cel. Rabelo é o criador dos “ currais eleitorais” (eleitores das roças ficavam nos quintais dos “coronéis”) e do “eleitor de cabresto” (eleitores trazidos das fazendas a cavalo). Com a vitória de Rabelo ao Senado, os monarquistas comemoraram a vitória com cavalhada, gritaria e foguetório junto à janela do republicano juiz Ottoni. Dias após a Proclamação da República (novembro de 1889), à noite, às 21h, o Juiz (origem: cidade do Serro) deixa a sua sala no Fórum, que ficava junto à cadeia pública, ao lado da Câmara Municipal, no Largo do Rosário (região hoje onde é o Instituto Bíblico), em direção à sua casa. Sob a escuridão noturna, o assassino atira e mata o Juiz. Tobias Machado (tio da Lindalva), residente nas proximidades, e o emblemático Padre Modesto, tomam as primeiras providências, após o crime. Segundo Lindalva, ao retornar do Rio de Janeiro, Cel. Rabelo, monarquista, desgostoso com a República e com as acusações, teria atirado no ouvido, em sua fazenda. E depois, sem passar na igreja, foi sepultado do lado de fora do cemitério (região do Asilo), por ter se suicidado. Com apenas o muro separando, do lado de dentro do cemitério estava o túmulo de Eloy Ottoni. Triste coincidência!

 

SEGUNDA VERSÃO: DOENÇA DO CORAÇÃO – O pesquisador Adeilson Batista (Blog no Patrocinioonline) tem a certidão de óbito do Dr. Eloy Ottoni, emitida em 09/6/2011. Nela, o juiz faleceu dia 3 de outubro de 1889, no lugar denominado Ponte Alta, às 12h. Segundo Sebastião Elói, o juiz teria sido morto, por um Índio Afonso, numa estrada de tropeiros que ligava Patrocínio aos seus distritos de Coromandel e Abadia dos Dourados. Adeilson também, apresenta com a mesma data (09/6/2011), a certidão de óbito do tenente coronel José Rabello da Fonseca, um dos filhos do Coronel Rabelo, que se suicidou. Adeilson, por meio de uma terceira certidão de óbito, afirma que Joaquim Antônio de Souza Rabello, o Cel. Rabelo, faleceu em 23 de maio de 1897, devido a doença cardíaca. Os documentos do Adeilson são preciosos. Mas, como ocorrem em fatos históricos têm dose de suspense e intriga. Por exemplo, porque o atestado de óbito do Cel. Rabelo foi assinado por um médico de Goiás e não por um médico de Araxá, Paracatu ou Uberaba, bem mais próximos.

 

QUAL A VERSÃO PREVALECE? – Os três escritores principais são patrocinenses nativos ou adotivos. Além do que, os depoimentos dos jornalistas e historiadores Tião Elói e Odair de Oliveira têm que serem considerados também. Há viés de que a versão de Adeilson Batista se aproxima mais da realidade. As duas primeiras versões podem estar afetadas pelo rito escritural de fábulas (romances). Mas, apenas novas pesquisas e o tempo confirmarão qual dessas três versões é a assertiva. Verdadeiramente, como morreu Cel. Rabelo?

 

([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 21/08/2021.