Heróis. Como é bom revivê-los. Cultuá-los. O cenário principal da 2ª Guerra, para os brasileiros, é a Itália (1º/9/1939-2/9/1945). Como fonte (isso é importante sempre dizê-lo), diversas edições da Gazeta de Patrocínio, com destaque para a de 7/4/2001, expedicionário da FEB Murilo Magalhães (professor deste cronista na UFMG), livro Patrocínio Ontem e Hoje, escrito por Fátima Machado e acervo pessoal (deste escriba), inclusive contendo jornais da época.
RESUMO DA SEGUNDA GUERRA – De um lado, o Eixo liderado pela Alemanha de Hitler, Itália de Mussolini e Japão. De outro lado, os Aliados com EUA, Inglaterra, França e mais quase 70 países, inclusive o Brasil. Isso porque cinco navios mercantes brasileiros foram afundados por submarinos alemães em 1942. Já em 1944, o Brasil enviou 25 mil soldados, que lutaram no norte da Itália, sob o comando do general Mascarenhas de Morais. Os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram intitulados “pracinhas”. Em 1945, atuaram nas batalhas de Monte Castello, Castelnuovo, Montese e Fornovo di Taro. Morreram 454 pracinhas. E foi lá que os patrocinenses estiveram e voltaram vivos.
AMADEU, O VIZINHO – Filho de José Ferro de Lacerda e Teodora Lacerda. Nasceu, em 1922, à Rua São Vicente, a três casas do Jornal de Patrocínio (hoje, Rua Artur Botelho). Tinha três irmãos: Carmem (ótima costureira), Luiza e Têco (portadora de deficiência mental). Após o retorno da guerra, o valente Amadeu, aloirado, cabelo liso, adquiriu um caminhão FNM (na época, falava-se Fê Nê Mê). Tornou-se motorista, transportando mercadorias de e para Patrocínio. Isso no final dos anos 50. Depois, trabalhou nos Correios e Telegráfos.
AMADEU, O HERÓI – Participou de diversas batalhas, integrando a FEB, principalmente em Monte Castello, Montese e Castelnuovo. A de Monte Castelo durou três meses. Já a de Montese, muito sangrenta, durou três dias (abril/1945), e, teve 430 baixas (soldados mortos, feridos e aprisionados). Amadeu Lacerda foi um dos combatentes vitoriosos. Dia 17 de setembro de 1945, retornou ao Brasil (Rio de Janeiro). E de lá, por trem, via BH, chegou a Patrocínio, cinco dias depois. Multidão foi esperá-lo na Estação de Patrocínio. Como era usual, o trem se atrasou cinco horas, o que reduziu o público. Porém, antes de ir para a sua casa, passou na Igreja Matriz, onde participou de um terço em ação de graças.
O SEGUNDO PRACINHA: FRANCISCO – Como integrante da FEB, embarcou para a Itália em um navio americano, no Rio. E desembarcou em Napoli. Depois de passar por Livorno e Pisa. Acampou em Gaiz Montano (Alpes). Tempo de neve e frio. Assim, foram os primeiros passos do patrocinense por adoção, Francisco Caracioli de Freitas. Depois de ter aprisionado alemães, Caracioli recebeu como recompensa, dias de folga na frente de batalha, transformada em pequena viagem a Roma, Vaticano e Pompeia. No retorno, participou do emblemático combate a Monte Castelo, Soprasso e Montese, onde foi ferido. E internado no Hospital de Napoli. De lá, em avião das tropas norte-americanas, dias depois, chegou ao Rio, onde foi internado no Hospital Central do Exército. Meses depois, recuperado, foi condecorado e lhe dado opção de baixa. Três anos após, foi atendido o seu pedido de emprego, tornando-se funcionário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística–IBGE em Patrocínio.
PATROCÍNIO E FRANCISCO – Depois do IBGE, trabalhou na Prefeitura, em três mandatos, Amir Amaral (PSD–1955/58), Enéas Aguiar (UDN–1959/62) e Mário Alves do Nascimento (PSD-1963/66). Ainda em 1963, foi nomeado carteiro do então Departamento de Correios e Telégrafos. Casou-se na cidade (Helena Miranda) e na reta final de trabalho, foi oficial de Justiça Adjunto, no Fórum local.
O TERCEIRO PRACINHA: EXPEDITO – Também nasceu em junho, porém de 1920, em Patrocínio. Na adolescência, transferiu residência para Ipameri. E lá, aos 22 anos de idade, ingressou no Exército como voluntário. Segundo Júlio César Resende, no livro “As Ruas de Patrocínio”, Expedito Dias hasteou a bandeira brasileira (da vitória) em Monte Castello, em 21/2/1945. Expedito pertencia ao destemido Batalhão Franklin do 1º Regimento. Neurótico de guerra, faleceu em Patos de Minas, aos 31 anos de idade (1951).
PRACINHA Nº 4: PEDRO – Nasceu em Patrocínio em 1919. Como voluntário, integrou à FEB, via 11º RI (São João Del Rei). Pedro Barbosa Vitor também participou dos combates de Monte Castelo, Montese e Castelnuevo. Em 17 de setembro de 1945 foi recebido por multidão, banda, na Estação Ferroviária. E depois rezou o terço na Matriz. Esse herói, segundo Júlio César Resende, também faleceu novo, aos 29 anos de idade (1948), vítima como Expedito de neurose de guerra, além de doença cardíaca, no Hospital Militar de Juiz de Fora.
O QUINTO PRACINHA: FRANCISCO (DOS FOLHADOS) – Pouca informação há desse herói, de família humilde, conforme a escritora Fátima Machado. A não ser uma carta dele, Francisco Pedro da Silva, publicada em 18/2/45, pela Gazeta de Patrocínio. Nela, Francisco afirma que iria à Firenza, como prêmio por vitórias sobre o Exército de Hitler. A dúvida é que Francisco escreveu a carta em 18/1/45, Sebastião Elói a comentou um mês após (Fevereiro), e a participação bélica da FEB terminou depois de abril/1945. Por isso, não se sabe se retornou ao Brasil vivo ou se faleceu (heroicamente) na Itália, esse voluntário-herói de Folhados (Silvano).
OUTRA GUERRA: PARAGUAI – O conflito ocorreu entre 1864 e 1870. Brasil, Uruguai e Argentina se uniram contra o Paraguai, que sob o comando do ditador Solano Lopes, queria uma saída para o oceano. No começo, Paraguai invadiu Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Corrientes (Argentina). Em 1869, Duque de Caxias toma Assunção, e em 1870 morre Solano Lopes.
PATROCÍNIO NESSA...? – O ícone histórico, Sebastião Elói, em um de seus poemas, “Minha Vila e Cidade de Patrocínio”, descreve diversos personagens e fatos reais da história patrocinense. E em uma estrofe, Tião Elói diz:
“Minha Vila e Cidade era um grande município:
Pertenciam-lhe Patos, Bagagem, Abadia dos Dourados,
Araguari, Coromandel, Serra do Salitre e
Cruzeiro da Fortaleza!
Que beleza!
Tomaram parte na Guerra do Paraguai
Vinte e um heróis patrocinenses
Que bravura!”...
POR FIM – Patrocínio nessa época do Paraguai era ainda apenas Vila. Todavia, não há outros registros sobre esses heróis ancestrais. Existiram, segundo a credibilidade do Briola. Tenho dito, diria e diz esse escriba.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 09/5/2020.