( Matéria de João José Oliveira- Valor Econômico, 02/07, Colaboração, para nossa coluna, Rondes Machado )
"COM NETA DE 'SEU NENÊ' FUTURO DA REUNIDAS
Marcela Constantino, da terceira geração da família que controla a Gol e opera linhas de ônibus em todos os Estados do Centro Sul do país, quer diversificar as fontes de receita da Reunidas Paulista, empresa de transporte de passageiros fundada pelo avô, "seu Nenê" Constantino, há 70 anos. A empresária planeja aumentar o faturamento com turismo e fretamento e serviços de entregas rápidas.
"Estamos investindo R$ 15 milhões este ano em renovação de frota", disse a executiva, sobre os 20 novos veículos que a empresa recebeu da Mercedes-Benz para substituir modelos antigos. "A idade média da frota, de 116 ônibus, vai cair de cinco para quatro anos", diz Marcela, que preside a Reunidas Paulista há dois anos. "Mas, com a crise precisamos buscar novas fontes de receitas, diversificar os negócios e melhorar o atendimento, renovando frota e investindo em tecnologia."
Nos últimos 20 anos, a Reunidas Paulista, que opera 33 linhas intermunicipais e interestaduais, partindo de 69 cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, comprou 420 ônibus, para renovação da frota. A fonte de recursos são linhas de crédito, como BNDES Finame.
Mas, segundo Marcela Constantino, o transporte de passageiros cresce muito lentamente nas linhas de concessão. Este ano, está apenas 4% maior que em igual período de 2017. "Seria mais se não fosse a greve dos caminhoneiros", afirma.
Segundo ela, a paralisação nas estradas derrubou em 15% a demanda e elevou os custos em 25% em maio na comparação anual. "Mantivemos a operação, pagando mais pelo diesel, mas as pessoas viajaram menos", disse.
Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o transporte rodoviário interestadual de passageiros atendeu 43 milhões de brasileiros nos percursos com mais de 75 km em 2017, retração de 12% ante 2016.
A empresária disse que o caminho da empresa para crescer passa pela diversificação da receita porque a venda de passagens nas linhas regulares depende de concessões e de preços tabelados. Além disso, a concorrência do transporte clandestino, feito por ônibus não regulares, afeta as vendas.
"Estamos negociando com um parceiro a disponibilização de entretenimento em alguns veículos, o que também pode gerar receita", disse, apontando uma forma de aumentar receita nas linhas concessionadas, atendida por uma frota que é 100% conectada à internet e tem Wi-Fi.
É nos segmentos de turismo e de fretamento que a empresária conta com as principais fontes de crescimento porque são negócios menos engessados por fatores regulatórios. Segundo Marcela, a unidade de turismo e fretamento hoje representa 10% das vendas da empresa. "Queremos chegar a 20%", afirmou, sem estabelecer prazos.
A empresa montou uma equipe comercial para fechar contratos com empresas e operadoras de turismo para pacotes, como os atendidos durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e o Grande Prêmio de Fórmula 1, em São Paulo, quando ônibus da Reunidas Paulista transportaram jornalistas e clientes dos eventos.
Outra aposta da empresária é o serviço de entregas rápidas, por meio da StarEx, lançada ano passado, para serviços de logística nas 69 cidades em que a empresa tem bases operacionais, incluindo as capitais São Paulo, Rio de Janeiro e Campo Grande. "Esse setor deve representar hoje cerca de 6% de nosso faturamento", diz a executiva, que não revela dados de faturamento.
Neta do empresário "Nenê" Constantino, Marcela, formada em Recursos Humanos e com 35 anos de idade, há dois anos tem a missão de comandar a Reunidas Paulista, fundada pelo avô em Araçatuba (SP).
Nos anos 1990, o patriarca dividiu os negócios da família. A maior parte das linhas de ônibus ficou com os irmãos Constantino Jr, Henrique, Joaquim e Ricardo, que criaram a holding Comporte - dona de viações interestaduais, intermunicipais e urbanas. Juntas, somam 6 mil ônibus que geraram R$ 1,6 bilhão de faturamento em 2017. No fim dos anos 1990, esse mesmo grupo lançou a Gol, hoje a maior companhia aérea do país, cujo presidente do conselho é Constantino Jr.
Outra parte das linhas de ônibus formou a Reunidas Paulista, empresa limitada, de capital fechado, sob controle de Aurivânia Constantino, filha de "Nene" Constantino, mãe de Marcela, que há dois anos passou a comandar o dia a dia da empresa.
Durante evento na sexta-feira em São Paulo, quando a Reunidas Paulista comemorou 70 anos, Marcela Constantino disse que a trajetória do avô, da mãe e dos tios serve de inspiração para que a empresa "possa crescer nos próximos 70 anos"