# Eustáquio Amaral

COMO ERA O COMÉRCIO EM 1917/1918 E A POLÍTICA EM 1930

9 de Abril de 2021 às 11:02

Pérolas. A História de Patrocínio tem as suas. A imprensa de um século atrás documenta verdadeiras joias desconhecidas. Talvez, só com exceção do conhecimento de pesquisadores. Jornais “O Patrocínio”, “A Notícia” e “O Patrocinense” são periódicos que existiram entre 1917 e 1930. Por meio deles, fatos e o cotidiano da cidade em uma distante época, tornam-se interessantes.

1917: ARMAS À VONTADE – Na Rua São Miguel (hoje, Cassimiro Santos) a Casa Gil Moreira tinha “grande sortimento de fazendas (tecidos), ferragens, armarinhos, armas de fogo, louça, molhados, etc.” Isso o jornal “O Patrocínio” publicava em sua página 4.

MAIS COMÉRCIO – Casa Machado & Souza estava na liquidação do estoque. Casa J. Dias possuía depósito de sal, arame e calçados Condor. Delphino de Mello, “negociante ambulante, comprava queijos, toucinho, arroz, feijão e café, pelo melhor preço”. Residia na Rua Nova. Jacintho Barbosa da Silveira, à Rua Coronel Rabello, fazia o mesmo (era negociante de molhados e gêneros). E a Casa Barateira, de Carlos Chaves, “colocava as suas mercadorias em queima”.

ÚLTIMA EDIÇÃO – “O Patrocínio”, de 30 de dezembro de 1917, em seu número 24 (esse semanário, durou seis meses), suspendia as suas atividades. O seu diretor Theophilo Gonçalves Barbosa escrevia que “tencionamos fazê-lo surgir em formato ampliado, após adquirir uma outra officina typographica.

1918: INAUGURAÇÃO DA FERROVIA O jornal “O Patrocinense”, em sua edição dominical de 13 de outubro de 1918 (aliás, a sua segunda edição de existência), cujo redator-chefe era Américo Machado, demonstrava que era um semanário adversário do jornal “Cidade do Patrocínio”, dirigido pelo Coronel Honorato Borges e Padre Nicolau Catalan. A chegada da Estrada de Ferro Goyaz indicou a diversidade.

NOMES ESQUECIDOS – Na notícia da estrada na primeira página (são quatro) “O Patrocinense” disse: “... os que mourejaram (trabalharam) pela conquista desse agigantado melhoramento podemos citar, que ao lado de Guilherme Hooper, Olympio dos Santos, João Lourenço Ribeiro e Antônio Souza Soares, já falecidos, estiveram também os intrépidos cel. José Antônio Dias, majores Quintiliano Alves e José Martiano Alves de Sousa... Há nove anos, o ilustrado engenheiro Dr. Francisco Palmério, numa nota de rodapé, publicada pelo “Cidade local” (modo que “O Patrocinense” denominava o “Cidade de Patrocínio”), disse ao falar de estrada de ferro que o patriota Quintiliano Alves de Sousa e Oliveira não podia ser esquecido.”

DENTISTAS DIFERENTES – Na Praça Municipal (possivelmente é a Praça da Matriz) o dentista (prático) F. Patico “executava com segurança a Prothese Dentária.” (dentadura). Já na Rua do Theatro (atrás da Igreja Matriz), o dentista Galileu Machado Barga tinha “trabalhos garantidos”. Ele era cirurgião-dentista formado pela Escola de Pharmácia e Odontologia de Juiz de Fora.

MAIS ATIVIDADES COMERCIAIS EM 1918 – Casa das Paineiras, de Tobias Baptista Machado, era na Praça Municipal (da Matriz). Pharmacia Santo Antônio, de Oscar Barreira, no Largo de Santa Luzia. Alfaiataria São Geraldo, de Lincelso de Carvalho (Beca) também no Largo de Santa Luzia. Pensão Avenida, próxima à estação, com “óptimas acomodações” pertencia a Antônio Pinto de Almeida. Casa Raul de Almeida era na Rua do Commércio. Barbearia Santos, no Largo do Rosário, de Manoel Alexandre Ferreira, oferecia “antisepcia das navalhas e massagens do rosto”. Casa América de Adelpho F. & Companhia, situava na Rua São Miguel (esquina com a rua da Matriz). Odorico Machado, à Rua Cesário Alvim, tinha o Pequeno Bazar. Essa é mais uma visão de Patrocínio em 1918, segundo o jornal “O Patrocinense”, “órgão de caracter independente”.

1930: OUTRO JORNAL – No dia 6 de fevereiro, circulava o número 23 de “A Notícia” também “órgão independente”. Oficina no Largo Santa Luzia. Os diretores eram Elmiro Alves do Nascimento (pai do ex-prefeito Mário Alves e de Pedro Alves do Nascimento) e Mário de Castro Magalhães. Era um jornal totalmente político. Tanto é que na primeira página, com foto, há destaque para o prefeito de Patrocínio, João Alves do Nascimento (também filho do diretor). “Operoso presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal. Ídolo do povo de sua terra. Chefe de real prestígio, tem João Alves em cada patrocinense um amigo sincero.

OS PRIMEIROS CHEVROLET – “A Notícia” dizia que “o Chevrolet 1929 é o único adaptado às nossas estradas. Muito econômico, faz oito quilômetros com um litro de gazolina. Quando V. S. o conduz suavemente pelas ruas da cidade, o Chevrolet 1929 é bello, elegante, luxuoso e possante.

O SURGIMENTO DA MODA MASCULINA – Mathias Alfaiate, com serviço garantido, “corte sem prova”, estava instalado na Rua Cesário Alvim (Mathias liderou a moda patrocinense até os anos 60).

APOIO POLÍTICO – “ A Notícia” apoiava abertamente Júlio Prestes e Vital Batista Soares para presidente do Brasil e vice-presidente, respectivamente, pelo partido Concentração. E Mello Vianna para presidente do Estado (nessa época, governador era denominado presidente). O adversário era o Partido Republicano Mineiro (PRM), de Olegário Maciel (candidato ao Palácio da Liberdade).

FERROVIA A CAMINHO DE MONTE CARMELO – Inaugurada em Patrocínio em 1918, o prolongamento da Estrada de Ferro Oeste de Minas (antes chamada Estrada de Ferro Goyaz) foi autorizado, visando ligar Belo Horizonte a Goiás. Por isso, o jornal anunciava que “brevemente Monte Carmelo estará ligada a Patrocínio.” “A Notícia” creditava o êxito ao empenho de Mello Vianna (candidato). Isso são cenas de Patrocínio em 1930.

 

PALAVRA FINAL

 

O inesperado falecimento de Wanderley Humberto Guarda, grande patrocinense, grande amigo, deixa muita saudade. Nossa homenagem a ele será no programa Relicário da Rádio Capital, na manhã de domingo, por meio de duas crônicas diferenciadas. Wanderley:   02/10/1949 (Patrocínio),    + 16/2/2021 (Belo Horizonte).

Primeira Coluna também publicada na Gazeta, na edição de 20/2/2021.

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