Raridade. Alguns dados, informações, oficiais de longa data são raros. São considerados como pedras preciosas. O documento “Diccionário e Estatística Chorographica de Distancias do Estado de Minas Geraes”, edição 1917, é uma delas (“chorographica” é escrita hoje corográfica).
ORIGEM – Esse documento foi editado sob a responsabilidade da Secretaria do Interior do Estado e impresso na Imprensa Oficial, quando o mineiro Venceslau Brás Pereira Gomes, como o décimo presidente da República, determinava a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, ao lado dos Aliados. E Delfim Moreira da Costa Ribeiro, nomeado, era o governador de Minas Gerais.
HÁ UM SÉCULO – Em 1917, eram distritos de Patrocínio a (própria) cidade, São Sebastião da Serra do Salitre, Sant’Ana de Pouso Alegre do Coromandel, Abadia dos Dourados e Cruzeiro da Fortaleza.
CARACTERÍSTICAS E CURIOSIDADES – Mantendo a ortografia da época (entre aspas) para não prejudicar a originalidade, são transcritos as informações socioeconômicas de Patrocínio, cidade ligada somente ao telégrafo nacional. Telefone, rádio, linhas de ônibus não passavam nem pelo pensamento do homem regional daquele tempo.
A HISTÓRIA – “Cidade e sede de comarca, freguezia creada em 1839 pela Lei Imperial nº 114, foi elevada à Villa em 1840 pela Lei nº 171; em 13 de novembro de 1873, foi à cidade, de acordo com a Lei nº 1995.”
A GEOGRAFIA – “Tem a séde uma população de 3.600 habs. em 680 casas. Os principaes rios são: Santo Antônio, Pavões e Dourados. As principaes serras: existem ramificações da Serra da Canastra. Pertencem ao districto da cidade e distam de sua sede os seguintes povoados: Barreiros – 54K, Folhados – 27K e S. Benedicto – 27K.”
A ECONOMIA – “As principaes lavouras são: algodão, fumo, canna de assucar e cereais. As principaes industrias: lacticínios e cortume. Principal commercio: gado. Principaes produtos de exportação: gado e cereaes. Renda annual do município: 37:000$000. Exportação anual: 750:000$000. Importação anual: 580:000$000.”
EXPLICAÇÃO – Entende-se que exportação e importação referem-se ao contexto de município para (ou de) outro município. Já a moeda é reis (leia-se réis), que vigorou até 1942, quando surgiu o cruzeiro. Um conto equivalia a um mil (1.000) cruzeiros (velhos). Um cruzeiro valia 1.000 réis. Portanto, um conto de reis equivalia a 1.000.000 de reis.
O TRANSPORTE – “A séde dista: de Araxá – 84K; de Carmo do Paranahyba – 90K; de Estrella do Sul – 90K; de Monte Carmello – 72K; de Patos – 72 K. Acha-se em construção a E. F. Goyaz.”
ESCLARECENDO... – Na época, o povoado da Lavrinhas (hoje, Catiara) do distrito de S. Sebastião de Serra do Salitre já tinha estação ferroviária. Ligando a cidade de Patos (ainda não se escrevia “de Minas”) à Lavrinhas existia uma linha de automóveis como tantas outras linhas que operavam em diversas cidades mineiras. Imaginem que automóveis e que estradas! Sobre a linha férrea, mais tarde ela se tornou a famosa Rede Mineira de Viação (RMV, inaugurada em Patrocínio em outubro de 1918).
DISTRITO DE ABADIA DOS DOURADOS – “Abbadia dos Dourados está a 90K da sede do município; districto creado em 1862, tem uma população de 980 habs. e uma renda annual de 3:000$000.” Estes são os principais dados do atual município de Abadia dos Dourados, que foi desmembrado de Coromandel pela Lei nº 336, de 27 de dezembro de 1948.
DISTRITO DE COROMANDEL – “Sant’Anna do Pouzo Alegre do Coromandel está a 72K da sede do município: districto desde 1839, foi à frequezia em 1870, em virtude da Lei nº 1.670, de 17 de setembro. Tem uma população de 945 habs. e uma renda anual de 2:600$000 e pertencem-lhe os povoados de Lagamal e Santa Rosa.” Por sua vez, Coromandel foi desmembrado de Patrocínio seis anos após ao ano em foco, ou seja, em 7 de setembro de 1923, data da Lei Estadual nº 843.
DISTRITO DE SERRA DO SALITRE – “São Sebastião da Serra do Salitre está a 42k da séde do município; districto creado em 1839 pela Lei nº 147, foi à freguezia em 1869, pela Lei nº 1.617, de 2 de novembro. Tem uma população de 726 habs. e uma renda annual de 3:800$000. Pertencem-lhe os povoados de Lavrinhas (distante 6K) e Santa Rosa (distante 30K).” Em 12 de dezembro de 1953, pela Lei nº 1.039, o município foi desmembrado de Patrocínio. Lavrinhas (atualmente, Catiara) era o principal ponto de transportes da região, pois contava com estação ferroviária, que recebia passageiros e mercadorias, de Patrocínio, Patos e Paracatu, com destino a BH e Rio de Janeiro. Havia linhas de automóveis interligando as cidades e pequenos caminhões de madeira.
DISTRITO DE CRUZEIRO DA FORTALEZA – “Cruzeiro da Fortaleza está a 36K da séde do município; districto creado pela lei nº 556, de 30 de agosto de 1911, foi instalado em 15 de novembro de 1912. Tem uma população de 860 habs. e uma renda annual de 2:000$000. Pertence-lhe e dista 30K, o povoado de Cruzeiro dos Folhados.” Este povoado deve ser hoje Brejo Bonito. O município caçula da região, Cruzeiro da Fortaleza, foi desmembrado de Patrocínio em 30 de dezembro de 1962, pela Lei nº 2.764.
COMO ERA O ESTADO – Minas contava com apenas 178 municípios, nesse ano, dos quais, o município de Patrocínio tinha limites territoriais com Araxá, Carmo do Paranaíba, Patos de Minas, Monte Carmelo e Paracatu; este devido aos limites do distrito de Sant’Anna do Pouso Alegre do Coromandel, atualmente o município de Coromandel.
A REGIÃO – Especificamente, na região do então (mais tarde) proposto Estado do Triângulo, existiam somente 18 municípios, grandes em extensão territorial, a saber: Araxá, Araguari, Carmo do Paranaíba, Conquista, Estrela do Sul, Ituiutaba, João Pinheiro, Frutal, Monte Alegre, Patos, Patrocínio, Paracatu, Monte Carmelo, São Gotardo, Sacramento, Prata, Uberaba e Uberabinha (Uberlândia). Entre eles, apenas nove eram sedes de comarcas. Patrocínio, Patos e Monte Carmelo são exemplos de comarcas da época, abrangendo seus diversos distritos de paz.
TAMANHO DE PATROCÍNIO – Pelo documento “Diccionário Chorographico e Estatística Chorographica de Distancias do Estado de Minas Gerais”, Patrocínio era a sétima maior cidade da região (Triângulo-Alto Paranaíba-Paracatu), tomando-se como referência o número de casas nas cidades, a população das sedes e a renda anual dos municípios.
POR FIM – A maior cidade era Uberaba, numa proporção quatro vezes maior que Patrocínio. A surpresa fica por conta da ocupante do segundo lugar, Araguari, que, na época, era maior que Uberabinha, hoje Uberlândia, e, das pequenas proporções de Ituiutaba, apenas a décima cidade da região. A ordem de grandeza socioeconômica era; 1º - Uberaba; 2º - Araguari; 3º - Uberabinha; 4º- Araxá; 5º - Paracatu; 6º - Patos; 7º - Patrocínio e 8º - Sacramento.
E MAIS... – Restringindo-se somente ao indicador “nº de casas na sede”, Patrocínio se posicionava em 4º lugar. A ordem passava a ser: 1º - Uberaba (2.410 casas); 2º - Araguari (1.536 casas); 3º - Uberabinha; 4º - Patrocínio (680 casas) e 5º - Paracatu (620 casas).
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 1/12/2018.