História. Mais uma desconhecida do grande público patrocinense. Mais uma da época do Império do Brasil. Por pouco, o Município não teve um senador imperial. Briga de monarquistas e republicanos desfez o primeiro sonho político de Patrocínio. Coronel Rabelo é o personagem. Colaboram nessa fantástica narrativa três fontes indubitáveis. Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), livro “Fios Emaranhados”, escrito pela patrocinense Lindalva Machado Fonseca, em 1988, então residente em Ponte Nova, e professor Júlio César Resende, por meio de suas obras dedicadas à cidade (1985/86). A informação da Biblioteca Nacional é pesquisa do patrocinense, residente em São Paulo, Guilherme Borges.
A MAIS LONGEVA FOTO DE PATROCÍNIO – Parece, que não há dúvida. Em documento guardado na Biblioteca Nacional está escrito: “Nesta cidade do Patrocínio, província de Minas Geraes, fotographia tirada em 1878, por Luiz Calcagno. A casa do Coronel Rabello. Enviada à Biblioteca Nacional por Antonio Borges Sampaio, em 20 de julho de 1881, (de) Uberaba.” Redação ipsis litteris.
O QUE MOSTRA A HISTÓRICA FOTO – Certamente o cenário é a praça Monsenhor Thiago, a Praça da Matriz. Possivelmente, onde é o colégio Belaar. A casa de dois andares, tipo o casarão da Casa da Cultura. Ao lado esquerdo da casa do Coronel Rabelo, duas casas boas para à época (1878). Há oito homens (de paletó), na calçada, modelo de Ouro Preto. À direita, diversos casebres, dando a impressão de ser a atual Rua Governador Valadares, rumo ao centro. Assim, a casa do Coronel Rabelo era a melhor da então nova cidade (quatro anos antes, 1874, Patrocínio passou de vila à cidade).
MAS QUEM FOI O CORONEL RABELO? – Grande chefe político, fazendeiro, defensor árduo da monarquia brasileira (D. Pedro II), vereador patrocinense na época imperial. Nasceu na região da nascente do Rio Grande, na comarca do Rio das Mortes (hoje, São João Del Rei). O título coronel era dado a pessoas importantes da época, principalmente políticos. Portanto, coronel não é uma designação militar.
CAPÍTULOS DA POLÍTICA RANGELIANA: ELEITORES – 1889. Coronel Rabelo era o líder dos monarquistas. Ou seja, do Partido Liberal Monarquista. O juiz Eloi Ottoni, líder do Partido Republicano. Eleições marcadas para 31 de agosto. Ottoni requisitou reforço policial de 40 praças (soldados). O delegado proibiu bebidas, jogos de azar e cavalhadas. O Município era composto de distritos distantes: Santana do Pouso Alegre do Coromandel, Abadia dos Dourados, São Sebastião da Serra do Salitre e Cruzeiro da Fortaleza. Por isso, Coronel Rabelo pediu a amigos que tinham grandes casas e quintais para fazer os “currais eleitorais”, onde seriam alojados e alimentados os seus eleitores. Esses eleitores viriam em turmas a cavalo, trazidos por coronéis fazendeiros. Por isso, o termo “os eleitores de cabresto”. Daí, “curral eleitoral” e “eleitor de cabresto” são ainda usados na política atual.
MAIS CAPÍTULO: CANDIDATO – Coronel Rabelo concorria ao Senado. Uma vaga e quatro candidatos. Além do quórum eleitoral (poderia ser de um ou de dois ou três candidatos da Província), o imperador é que escolhia o único representante da Província. Ou seja, um senador apenas.
REPERCUSSÃO – Na farmácia do senhor Cassimiro Santos, ponto dos analistas e aficionados pela política, a vitória do Coronel Rabelo, monarquista, era dada como certa. Os republicanos da cidade, que eram maioria, com o desejo de ver Patrocínio no Senado também votaram no Rabelo. Assim, a lição de união política em prol de Patrocínio teve a primeira aula no Império. Porém, não foi aprendida nos dias atuais,
MAIS UM CAPÍTULO: O RESULTADO – Outubro de 1889. Coronel Rabelo, direto da corte no Rio, informou/escreveu que sua vitória à frente dos outros três candidatos foi expressiva. Faltava apenas o Imperador confirmar Coronel Rabelo senador da Província de Minas Geraes. Em Patrocínio, a comemoração com cavalhada e foguetório ocorreu também até em frente à janela da sala do juiz Ottoni: e na porta da casa dele. Pois, ele era o desafeto do Coronel. O povo comentava; “Quem tem peito para enfrentar um Ottoni, só um Rabelo.”
ANTIPENÚLTIMO CAPÍTULO: ASSASSINATO – Numa noite de novembro de 1889, o juiz Eloi Ottoni “conferiu as horas no seu relógio de bolso, pegou a bengala e o chapéu e desceu a escadaria da cadeia iluminada pelo lampião.” Lá era a sua sala. Nessa hora, foi assassinado por um tiro vindo das trevas. Tobias Machado, assustado, correu para lá. Padre Modesto pediu para retirar o corpo e levá-lo para a Matriz. Foram chamados os juízes de Araxá e Bagagem (Estrela do Sul). Chamaram tropa de Ouro Preto, a capital. O Delegado cercou a cidade. Providenciaram o aviso à família Ottoni na cidade do Serro. E ao seu tio no Rio, Christiano Ottoni, marinheiro, engenheiro, professor e, depois, Senador. Assim, um influente político no Império.
PENÚLTIMO CAPÍTULO: O SUICÍDIO – Coronel Rabelo, mesmo ausente, foi incriminado. Foi acusado pelo assassinato Senador Christiano Ottoni e o Primeiro Ministro Visconde de Ouro Preto passaram telegrama para o Imperador Pedro II, em Petropólis, reivindicando a não nomeação de Rabelo ao Senado. Sabendo dos boatos, Coronel Rabelo ao chegar em Patrocínio, toca a diligência direto para a sua fazenda. Permaneceu em reclusão. Dia 15 de novembro de 1889, foi proclamada a República. Os Ottoni festejaram. Coronel Rabelo, monarquista e desgostoso com as acusações, deu um tiro no ouvido. Assim, desapareceu o único Barão de Patrocínio.
CAPÍTULO FINAL: O ENTERRO – Uma carroça forrada de roxo, sem cruz, acompanhada por seis homens a cavalo, sem passar na Igreja Matriz, nem os sinos tocaram, foi direta ao cemitério (região do atual Asilo). Mas o corpo do Coronel Rabelo foi sepultado do lado externo do cemitério. Pois, tinha suicidado. O clã dos Rabelos caiu em desgraça. Próximo, do lado de dentro, separado pelo muro, estava a sepultura do juiz Ottoni. Daí, enterrados praticamente juntos.
POR FIM – Assim, Patrocínio perdeu simultaneamente as duas maiores lideranças no final do Império e início da República.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 18/4/2020.