Depois que acabar “ Setembro Amarelo” é preciso continuar cuidando dos nossos tristes. Concorda?
“ Francamente esta ficando insuportável aqui pra mim. Já vivi muito posso morrer não tem problema. Não Estou suportando mais
Posso morrer ou matar, já vivi muito. Deus ou o demônio me espera em algum lugar”
Passou alguns dias, que recebi essa mensagem via Wats…veio a notícia de seu suicídio. A dor no peito falou mais alto. Olhou para um lado e para o outro não enxergou motivos para permanecer. O coração pesou muito. Ele preferiu partir… Escrevo estas palavras com os olhos orvalhados. Faz alguns anos, ainda estou abalado com a perda.
Quantos deles por aí, tocando a vida, disfarçando, arrastando um coração de chumbo. A maioria nem nota essa batalha interna.
Isto me faz lembrar um episódio, mas precisamente uma pessoa muito especial que conheci…
Morei na cidade de Uberaba, nos anos 80, cerca de um ano. Não encontrei emprego, mas não me faltou trabalho. Defendo a seguinte tese. Enquanto o emprego dos sonhos, não aparece, há um monte de serviço por aí para se sobreviver com dignidade.
Fui trabalhar como guarda noturno em uma vidraçaria ainda em construção. Muitas histórias e transtornos por ali com o público da noite.
Meu patrão se chamava Homero Homem Brandão. Nome forte, imponente. Presença marcante. Um milionário no setor de vidraçarias com vendas no atacado em toda região.
Todos as noites cerca de 21: 30, 22h, um automóvel preto clássico, estacionava em frente, ele, que poderia tanto, passar para outro essa tarefa, me trazia, pessoalmente, um pão e um cafezinho. Perguntava sempre se estava tudo bem. Não demorava. Pedia que não abrisse o porta para ninguém..
Uma bela manhã, um moço apareceu por lá, querendo que eu abrisse o tal portão, porque ele precisa pegar um caminhão que se encontrava no pátio da empresa. Segundo argumentava, precisava viajar cedo. Ele pediu mil vezes, me chingou de tudo que é nome. Não abri. “ Você estará no olho da rua ,rapazinho”
Lá pelas 7 h, Sr Brandão apareceu, o motorista, nem esperou ele descer do carro e já fez a minha caveira, me espinafrou todo.
Indefeso, pressenti que estaria mesmo no olho da rua, enquanto eles conversavam, peguei um sacolinha, abri uma gaveta e peguei todas minhas coisas. livros, papel, caneta…
Sr Homero me chamou: “ Realmente este motorista precisava mesmo sair cedo. Está bastante atrasado. Mas me lembro que pedi a você que não abrisse o portão para ninguém. Parabéns. O erro foi meu meu, por não ter lhe avisado”
Com este atitude justa e coerente ele cresceu ainda mais em meu conceito. Adoraria continuar trabalhando com ele. Disse que me arrumaria um serviço melhor. Enquanto isto, arrumei um emprego e era em Patrocinio. Tive de voltar…
Algum tempo depois recebi a notícia de seu suicidio...
Num domingo à tarde, pediu a um de seus colaboradores, que tal hora sim a sim fosse a uma de suas empresas encontrar com ele. Chegou, o portão estava destrancado, procurou por ele aqui e ali. Chegou no pátio lá estava Sr Homero Homem Brandão, com uma corda ao pescoço, já sem vida.
A sociedade uberabense ficou estarrecida. Eu, tantos anos depois, ainda não acredito. Um homem rico, bem conceituado, invejado por muito, não era um homem feliz. Mas, a filha de Marlon Brando, que era dono de uma ilha, suicidou-se…
Depois que “Setembro Amarelo” se for, precisamos seguir com a tarefa sútil tentando identificar os nossos tristes. Gente com o coração pesado ao nosso redor.
Sei. Sei que não é fácil, é triste conviver com uma pessoa triste. Você faz uma comida boa ele não elogia; você conta a melhor piada ele não ri; você lhe dá um presente, ele custa lhe agradecer. Você quer festa, ele prefere o silêncio.
Mas não desista dele, mesmo que ele desista de si. Busque ajuda profissional. Garanta-lhe que ele ainda dará boas gargalhadas de tudo. Nada como um dia atrás do outro. As cores das coisas voltam. O riso volta ao rosto. Pois, tristeza ou alegria, tudo p.a.s.s.a.r. á. Na dúvida, ESCOLHA VIVER!