# Milton Magalhães

"Diga lá meu coração conte as histórias das pessoas"...

7 de Outubro de 2023 às 09:00

 

Pode ser uma imagem de 2 pessoas, criança e pessoas sorrindoVoce que mora dentro, perto e até longe do meu coração, tenho uma notícia pra lhe dizer: Ele- meu coração- está bem.

Hoje foi dia de uma consulta de praxe com o cardiologista Dr Rogério Queiroz, na Policlínica. Meu bronze, o porta-joias do meu ser, onde mora muita gente, ( olha a responsa) está em ordem.

Mas não é sobre o meu coração, é sobre o que está dentro coração das pessoas, que aqui importa: “ Diga lá meu coração conte as histórias das pessoas nas estradas dessa vida” ( Gonzaguinha)

“ A história das pessoas…” Cada um com seus percalços, suas agruras, sua cruz pesada. E tem aqueles portadores de uma alma leve…

Logo que chego na Policlínica, me aproximo do Sr Pedro, ( nome fictício) que já estava por ali, com muitas outras pessoas. A conversa flui e logo sei o vai dentro do coração do Sr Pedro. Muita preocupação. Ele com problema na coluna, diz que a esposa tem diabetes, pressão alta e acaba de fazer uma cirurgia de câncer no intestino. Tem tomado duas bolsas de sangue e perdido três. Para comprovar, Sr Pedro, vascular o celular até encontrar as fotos das bolsas repletas de sangue. E como tenho problema sério em ver sangue, para não ter um piripaque, ali, finjo que vejo. Tem uma menina ao seu lado, é sua neta, a mãe está trabalhando, ele que cuida da netinha e está ali para uma consulta com a psicóloga. Muito inteligente mas, anda dispersa na sala de aula. Enquanto, esperava, a psicóloga sai da sala de atendimento para tomar água, o avô, pergunta se a netinha pode ir junto com ela, pois, também quer tomar água. Daqui a pouco as duas regressam abraçadas e entram para a consulta. Achei a cruz do Sr Pedro muito pesada. Desejei-lhe ombro forte, para cumprir sua jornada...

Bem do meu lado, estava o Sr Antônio. Inicialmente, arredio. Sistemático. Mas logo nossa prosa fluiu. Não gosta de ir ao médico “ Quem procura, acha” Falei com da importância de prevenir, cuidar antes, depois da doença instalada é muito mais difícil. Com o que ele acabou concordando.

Sr Antônio é da região da São da Serra Negra, veio para a cidade aos 22 anos. Ainda se lembra, quando a rodoviária era naquele local. Quando trazia verduras de São João, para vender no mercado municipal bem ao lado.

Ele lamentou comigo, que Patrocinio não tem mais nem Ceasa. Caminhões e caminhões de verduras, produzidas em São João, são levadas para a Ceasa de Uberlândia, depois os comerciantes de Patrocinio, vão lá comprar para revende-las aqui. Um despropósito…

Assentada do meu lado,uma mulher - vamos chamá-la de D. Maria, as pessoas tem nome- faz um tricô com uma linha azul. Fico admirado com a sua habilidade. Uma terapia. A rosa azul já estava sendo finalizada, enquanto aguardava o atendimento.

Me conta que uma cascavel,lhe picou aos 16 anos. Chegou a ficar cega. Não morreu por milagre. E conta ainda que, alguns anos depois, numa colheita de maracujá, ainda com as visitas turvas, não viu, uma outra cascavel, que estava bem a sua frente. Foi salva por um amigo que viu o perigo bem tempo. A vista voltou. Tanto que fazer tricô, tem de ter boa visão. Aconselhei- a ficar longe de locais, que possa ser hábitat das peçonhentas….

Nisto um rapaz passa distribuindo um papelzinho com um texto pedindo ajuda. Ajuda no pix.Sr Antônio, achou chic demais, avançado. Ele não usa e eu tenho a maior dificuldade com essa geringonça moderna. Outra Sra. se manifesta, diz que conhece o rapaz. Ele ganha as coisas lá na radio, vende tudo. Quando voltou recolhendo o papelzinho, acho que nenhum pix foi feito. Tá fácil pra ninguém…

De repente, ele, Luiz Arnaldo, ( Banda Alfa e Omega) estava ali assentado depois do Sr Antônio. “ Você é o Milton Magalhães?”

E já me mostrou na tela do seu celular, uma crônica que fiz intitulada: “ Há 50 anos- o dia mais triste de Patrocinio”, quando 17 pessoas perderam a vida na 465, indo para Romaria.

Aí, Luiz Arnaldo, aponta para seu pai, que ali estava ali para uma consulta: “ Meu pai seria o motorista naquele dia” … A mãe ali do lado confirma. Luiz, nasceu naquele ano.

Coisas envolvida em mistérios. “ Não era a hora dele” É tudo que a gente pode dizer…

Luiz Arnaldo é destas pessoas que vale a pena conhecer. Consultor imobiliário confiável, voz radiofônica e a presença agradável, fala de sua integridade da caráter.

Conversa vai, conversa vem, Luiz me fala de sua prima tetraplégica, (me esqueci o nome. Vamos chamá-la de “Vitória”) e a sua extraordinária força interior. Me mostra uma foto do antes e depois do incidente, linda antes, mais linda depois.

“ Vitória” estava em uma festa, cercada de amigos. Cansada, com sono, certamente havia bebido um pouco, vai para o carro e deita no banco de traz e dorme. Alguém pediu o carro emprestado, foi avisado que “ Vitória” estava dormindo lá e que deveria ser acordada. De repente se envolveu em acidente grave. O motorista perdeu a vida é “ Vitória” ficou tetraplégica. Não se movimenta da altura do seio pra baixo, não sente o corpo, mas sente dores no local. A tal da dor fantasma.

Os amigos a procurou nos primeiros dois anos, depois desapareceram por completo. Aí é Deus e a família. No caso dela teve um médico muito humano, cheia de compaixão, mas muito realista. Disse a “ Vitória” que no caso dela, pela ciência, não havia possibilidade dela andar mais. E que ela deveria fazer uma escolha. Morrer ou viver. “Vitória” escolheu a vida. Voltou aos bancos da universidade, concluiu o Curso de Direito. Já prestou as provas da OAB está aguardando o resultado.

Quem mais vai passar a torcer para que o fardo do Sr Pedro, seja mais leve; que Sr Antônio, tenha nunca o tal Alzeimer que ele tanto teme; Que as cobras cascavéis desapareçam de vez do caminho da D. Maria; que a incrível “ Vitória”, seja uma brilhante advogada e que Luiz Arnaldo, continue sendo essa presença boa, iluminada e esse cidadão exemplar do nosso Bairro Morada Nova.

Na foto Luiz Arnaldo, está com a sua esposa Luciana, casados há 25 anos. É aquele casal que você não encontra uma foto dela ou dele sozinho...

E que meu coração siga por aí contando as histórias das pessoas…