Energia. A elétrica chegou à cidade, de maneira definitiva, em 1962. Como era a debilitada luz, como foram os precedentes para a chegada da Cemig e quais patrocinenses participaram desse movimento, que tirou Patrocínio da escuridão, são parte da história do progresso municipal.
A CIDADE DE ANTES – Por quarenta anos (1920-1960), a energia elétrica da cidade foi gerada por duas muito pequenas usinas hidroelétricas, de patrocinenses, instaladas no Município. Uma próxima da Serra do Cruzeiro (na região da Fazenda Folhados). E outra no Rio Dourados. A distribuidora da energia era a Companhia Força e Luz de Patrocínio, cuja sede se localizava na Av. Rui Barbosa (hoje, em frente à Caixa Econômica).
A NOITE ERA PARA OS NAMORADOS – Nas décadas de 40 e 50, as ruas e praças centrais tinham alguns postes de madeira com uma pequena lâmpada, de fraquíssimo brilho. Nem todo poste tinha lâmpada. Nas demais ruas tinham poste, lâmpada não. Nas casas, o lampião (a querosene) predominava. Nas casas mais humildes, a lamparina. À noite, para sintonizar uma novela na Rádio Nacional, ouvir o Repórter Esso, os programas da Rádio Mayrink Veiga ou se deliciar com a dupla Tonico e Tinoco na Rádio Record, só havia um meio, acoplar um pequeno transformador (aumentava a potência da energia) junto ao aparelho de rádio. O Cine Rosário possuía um gerador próprio.
BOM QUEBRA GALHO – Por volta de 1956, Dr. Amir Amaral trouxe de Uberaba um grande gerador, denominado pela população como “motor”. Foi instalado sob a coordenação de Gildo Guarda, o ícone da mecânica de Patrocínio. Entretanto, devido ao alto custo do diesel, funcionava apenas de 19 às 22h. Isso eliminou um pouco as lamparinas e lampiões, nesse horário. Entretanto, as ruas continuaram sob a luz do luar. E os vagalumes se destacavam com a sua luminosidade alternativa, voando pelas vias da velha cidade.
ETERNO EXEMPLO DE UNIÃO POR PATROCÍNIO – No dia 22 de junho de 1960 (quarta-feira), aconteceu histórica reunião nos salões da Associação dos Bancários e Funcionários Públicos (2º andar do edifício que abrigou o Cine Patrocínio, Praça Santa Luzia). Políticos, empresários e líderes patrocinenses participaram. Na verdade, tornou-se uma assembleia popular de Patrocínio. Objetivo: viabilizar a vinda da energia elétrica da Cemig. Nessa reunião, foi constituída a Comissão Especial da Cemig, para solucionar, de vez, a falta de luz.
GUERREIROS DO DESENVOLVIMENTO – O presidente da Comissão foi o farmacêutico e vice-prefeito Benedito Romão de Melo (UDN). Os membros foram o General Astolfo Ferreira Mendes (criador da Associação dos Patrocinenses, em BH), político José Francisco de Queiroz (PSD), Dr. Tarciso Cardoso (UDN), fazendeiro Alaor Ribeiro de Paiva (UDN), Dr. Amir Amaral (PSD), Dr. Abdias Alves Nunes (PSD), empresário Elmiro Cardoso (UDN), prefeito Enéas Ferreira de Aguiar (UDN), empresário Olnei Barreira (PSD) e Roberto Pires. Como membros suplentes nessa Comissão, fazendeiro Mário Alves do Nascimento (PSD), Dr. Joaquim Barbosa Arantes (UDN), Dr. Hélio Furtado de Oliveira (PSD) e empresário Dimas José da Silva (UDN). Apenas o senhor Dimas é sobrevivente. Reside em BH.
O CUSTO ALTO COBRADO PELA CEMIG – Naquele dia, a estatal mineira, criada pelo JK (PSD), impunha condições para operar a energia elétrica no Município. Patrocínio teria que desembolsar Cr$ 50 milhões (de cruzeiros). Dos quais, Cr$ 20 milhões (de cruzeiros) viriam do Governo Federal e Cr$ 30 milhões de compra de ações da Cemig. Esse recurso de subscrição de ações seria destinado à modernização total da rede elétrica urbana. Inclusive, os postes seriam de cimento e as lâmpadas das ruas centrais “de mercúrio”. Para a época, uma revolução no sistema de iluminação de uma cidade.
MÃOS À OBRA – A Comissão começou a trabalhar de imediato. Para a população entender, era explicado que os Cr$ 30 milhões não seriam doação à Cemig, porém “empréstimo”. Na realidade, foi compra de ações, que envolvia recebimento de dividendos e futura negociação em Bolsa de Valores.
MANIFESTAÇÕES – O vereador e advogado Dr. Expedito de Faria Tavares (UDN) fez emocionante apelo para todos os patrocinenses se unirem, visando ao bem da cidade. A Gazeta de Patrocínio, no domingo, dia 26 de junho de 1960, também conclamou os patrocinenses natos e adotivos a fortalecer a união, “sem a qual não terá solução o nosso torturante problema de energia elétrica.”
ÚLTIMO CAPÍTULO: FLORES, BEIJOS E FOGUETES – Dois anos depois, o prefeito Enéas Aguiar inaugurava a esplendorosa iluminação. Com muita festa e sorrisos nos rostos. Pouco depois, o jornal “O Diário”, de Belo Horizonte, classificava Patrocínio como a “Paris” do interior mineiro. Isso devido a sua fantástica luz nas noites de outrora. Doce recordação. E grande lição. De como amar Patrocínio sem paixão (política).
FONTES – Gazeta de Patrocínio, número 1066, guardada por Rondes Machado (Rio de Janeiro). E arquivo particular deste cronista.
Publicada também na Gazeta de Patrocínio, edição de 13/03/2021.