# Eustáquio Amaral

DOIS CRIMES POLÍTICOS QUE MANCHARAM A BELA HISTÓRIA DE PATROCÍNIO

24 de Outubro de 2020 às 15:05

Historiadores. Dois cultos amantes da vida rangeliana nos escreveram perguntando se são dois assassinatos de caráter político na memória municipal. Ou seja, desde 1842. São eles o professor Israel Machado Caldeira (mestrado em História) e professor Ivan Batista da Silva (fundador-proprietário da Escola Atenas). Parece que não há dúvida. Sim, são dois, mas de conteúdos diferentes. O primeiro ocorreu em 1889. Portanto, há 131 anos. O segundo agora, com a morte trágica de Cássio Remis

 
   

 

CRIME NO IMPÉRIO – O juiz Eloy Ottoni foi morto, numa noite de outubro de 1889. Segundo a escritora Lindalva Machado Fonseca, eram 9 horas da noite. O juiz Ottoni fechou as gavetas (ainda estava trabalhando) e desceu as escadas de madeira da cadeia, iluminada por apenas um lampião, no Largo do Rosário (hoje, seria a parte de trás da Escola Honorato Borges). A cadeia e o Fórum, juntos, eram lá. Após descer, mandou um soldado colocar no xadrez um intolerável bêbado. A única luz no largo (praça) era o lampião. De repente, pequena luz surgiu da escuridão. Era um tiro, que atingiu a cabeça do juiz Ottoni. Ele nem viu de que morreu. Quem atirou? Até hoje, ninguém soube. O coronel Rabelo foi acusado de ser o mandante, por ser o seu adversário político.

 

  MOMENTOS DEPOIS... – Tobias Machado, que morava no Largo, foi o primeiro a chegar. O delegado e o soldado não sabiam o que fazer. Praticamente, a pequena cidade, em pouco tempo, estava em volta do corpo. O vigário, Padre Modesto, mais calmo, recomendou que levasse o corpo para velório na Igreja Matriz (duas torres).

 

APREENSÃO DE CAVALOS – Horas depois, na madrugada, mais de 50 cavalos (com cavaleiros), requisitados dos moradores, rumaram para diversos locais. Um estafeta foi até Divinópolis, pois lá tinha fios do telégrafo para enviar telegramas. Serro (maior cidade de Minas), onde residia a família Ottoni, recebeu telegrama sobre o crime. Senador Christiano Ottoni, tio do morto, e a Corte Imperial, no Rio de Janeiro, também foram avisados. Por telegrama, ainda, foi requisitado um contingente armado à capital da Província de Minas, Ouro Preto. Pelo outro lado, mensageiros foram buscar o juiz de Bagagem e o juiz de Araxá, e, o Dr. Montandon (médico). A cidade foi cercada para pegar o assassino... mas aí todos os presos, na cadeia, fugiram, aproveitando tumulto.  

 

CORONEL RABELO A CAMINHO – No retorno do Rio de Janeiro, onde foi reivindicar sua nomeação como único senador de Minas, Coronel Rabelo foi informado do assassinato. Lá na Corte, como deputado provincial e como Barão de Patrocínio, Rabelo teria acertado a nomeação de senador, pois foi também o mais votado dos quatro candidatos de toda Minas.  

 

CASSADO ANTES DA POSSE – Como adversário do juiz Eloy Ottoni, Rabelo tornou-se o maior suspeito de ser o mandante do assassinato (embora estivesse à época na capital imperial). Com isso, o senador Christiano Ottoni, e o Visconde de Ouro Preto, pediram ao Imperador Pedro II a suspensão da nomeação do Coronel Rabelo. No Império, não era suficiente ter mais votos em uma eleição para senador. Era necessário também a ratificação (nomeação) pelo Imperador.

 

REPÚBLICA X IMPÉRIO – O juiz Ottoni era republicano. O Coronel Rabelo era liberal/monarquista. Nessa mesma ocasião, foi proclamada a República, a família imperial foi expulsa para a Europa e o Coronel Rabelo recluso em sua fazenda, após a volta do Rio de Janeiro. Nessa fase, a versão fundamentada da escritora Lindalva Machado relata que ele cometeu suicídio. Há outra versão que teria falecido poucos anos depois. Existe um intrigante (?) atestado de óbito, assinado por médico de Goiás (Dr. Jozias Leopoldo Victor Rodrigues). Nele, em papel recente, Joaquim Antônio de Souza Rabello (Cel. Rabelo) teria falecido em 23/5/1897, por doença do coração. A versão de Lindalva predomina.

 

FINAL DO PRIMEIRO CRIME POLÍTICO – Com substâncias químicas aplicadas no corpo do juiz Ottoni pelo Dr. Montandon, o sepultamento ocorreu dois dias, após o assassinato, no cemitério municipal, localizado, hoje onde é o Bairro São Vicente, na área da localização do Asilo. E o desfecho do Coronel Rabelo merece maior dedicação e tempo (narrativa já iniciada por (nossa) crônica publicada em abril/2020).

 

SEGUNDO CRIME: – Tarde de 24 de setembro/2020, quando o relógio marcava 15h:30min. A cidade, para não dizer o País, toda sabe o que aconteceu. Vídeos rodaram o planeta. Autor confesso do assassinato, ex-secretário de Obras Jorge Marra. A vítima o mais novo presidente da Câmara Municipal até hoje: Cássio Remis, candidato a vereador. Jorge, situação. Cássio, oposição. Daí, falar ou escrever mais sobre a ocorrência não é necessário. Até a imprensa internacional noticiou e analisou o fato.

 

IMAGEM DE CÁSSIO COM O CRONISTA – Durante os dois mandatos de Remis (2009/2012 e 2013/2016), inclusive como presidente da Câmara Municipal (2013/2014), o inesquecível vereador prestou algumas homenagens a este autor. Moção de aplausos (2012), Mérito Legislativo/2013 e correspondências. Entretanto, a principal ação em prol de pedido deste escritor, foi a viabilidade e concretização do meritório título de Cidadão Honorário ao (então) deputado Marcus Pestana. Certamente, o secretário estadual de Saúde, e deputado, que mais canalizou recursos para Patrocínio sem ser votado no Município. Nem pediu. Nem articulou para tanto. Cássio reconheceu isso. E agiu. No dia da solenidade, em seu carro particular (ele na direção), foi ao aeroporto de Patos de Minas recepcioná-lo e trazê-lo para a cidade (e a este cronista).

 

MAIS TARDE... – Por volta de 2015, o cronista agendou encontros de Cássio com Pestana, então presidente do PSDB em Minas. Provavelmente, a partir daí correu em seu sangue puramente político, conforme diz o seu pai Marcos Remis, o viés do PSDB. Cássio morreu como presidente do PSDB patrocinense. Deve ter aprendido as lições políticas do correto, inteligente e ilibado Pestana.

 

VEZ POR OUTRA – Por telefone, Cássio, quando em dúvida com a administração estadual, consultava, ocasionalmente, este humilde ex-servidor público estadual, o modus operandi. A última vez, ocorreu há cerca de três meses. Lá ficou o último contato. Aqui, encontra-se a saudade.

 

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