# Milton Magalhães

Duas folhinhas na Praça da Matriz

12 de Maio de 2020 às 11:12


A imagem pode conter: sapatos, planta e atividades ao ar livreVocê pode até dizer que não, mas a natureza nos ensina. Ensina nos detalhes e em todos lugares...Passo pela praça da Matriz, a praça está vazia. Quase deserta. Um pombo bate as asas e pousa no coreto... Uma menina conduz um cachorrinho com nome de gente...Um rapaz pensativo cruza a praça. Em cada canto da praça encontro uma saudade qualquer. Está praça faz parte de minha vida. Desde criança, ( nos meus verdes anos) ficava encantado com o mosaico de pedrinhas portuguesas. Como reproduziram aquelas ondas? Era muita arte pra minha cabeçinha. Mais tarde descobri que lembravam as ondas de Copacabana. Achei muito mais chic ainda....

Quando adolescente, depois da missa, me assentava em algum banco, muitas vezes sozinho apenas para observar o movimento...Quando fiquei jovem, praticamente todos os dias cruzava a praça para buscar a namorada para irmos ao cinema, ou apenas para bater perna pela cidade. A praça era meu caminho do roça.

Foi depois de uma missa, na escada da igreja Matriz que conheci minha esposa Solange. Alguém nos apresentou e foi embora..Eu, que tinha uma mania, ou costume, que logo conhecia uma jovem, convidava-a para visitar/ conhecer a Biblioteca Pública, ou a Casa da Cultura, no caso de Solange, fomos à Casa da Cultura. Ela gostou. Já foi um ponto de afinidade entre nós.

Ou seja, tenho um longo caso de amor com essa praça.. Queria tanto saber quantas vezes passei pra e pra cá pisando nessas pedrinhas... E quantas vezes ainda pisarei.. Depois, claro, passei por outras lindas praças em tantas outras cidades.

Mas, como esquecer a praça que tem muito do meu coração...

Enquanto estou ali na praça, vazia, uma lufada de vento desalinha a cabeleira dos coqueiros e me traz duas folhinhas. Duas folhinhas. Uma verdinha e a outra parda. Elas prenderam o meu olhar, até que fossem clicadas por mim. Parece que era tudo que elas queriam, pois imediatamente, saíram saltitantes praça a fora. Parecia duas criancinhas arteiras..Uma para um lado, outra para outro. Parecem ter entregue um recado. Parece ter cumprido uma missão.

A ficha caiu... Fiquei honradissimo... O Deus que falou com Mário Quintana, Manuel de Barros, Clarice Lispector, falou ali comigo: "Você, Milton, já foi essa folhinha verde, agora perde o viço. Logo será essa folha seca. Isto não está em você, querer ou não, é o curso natural da vida. Mas, não perca a capacidade de se encantar com as coisas simples. Viu as duas folhinhas na praça, uma verde a outra seca? Ambas conservam a mesma alegria ao toque do vento...

Tenha a leveza delas no viver"