Tantos coromandelenses em Patrocínio e tantos patrocinense em Coromandel, (somos cidades/irmãs) e essa triste nota, que nos toca as cordas da alma: Faleceu no último dia 02/de Dezembro, em São Paulo: DONA ILDA ALVES DA SILVA, (Câncer, 86 anos ) Era viúva do compositor/poeta, GOIÁ. (Falecido de complicações de cirrose, aos 46, em Uberaba) Era irmã do, também coromandelense, Biá. Dona Ilda, parte, 40 anos depois do esposo. Deixa os filhos Robson,(in memoriam) Mary e Hilger ( Goiá Filho, cantor e compositor e guardião da obra do pai)
No finalzinho da década de 70 , início da década de 80, um rapazinho, andava pelas ruas de Patrocínio com um violão debaixo do braço ( Ia tomar aula com Professor Paulinho Machado ou Lazinho, este último foi meu parceiro musical) e uma bolsa carteiro. Burramente, sem ouvido musical, não tocava nada, mas tinha ambição cultural. Na bolsa alguma obra literária da Biblioteca Pública, talvez, Drummond ou Gonçalves Dias e rascunho do que eu chamava de letra de música.( Apaixonado por Bossa-Nova) MPB dos anos 70/80 era comigo. Como não se tinha Internet, era as revistas da banca da Dona Zezé e rádio dia e noite (Posso afirmar que a literatura e a cultura musical me desviou das veredas das drogas)
Já conhecia algumas apaixonantes músicas do Goiá, interpretada pela dupla Delfino e Gasparzinho e outros. E quando ganhei uma vida cassete, com um montão de músicas dele, pude conhecer mais. Como todo brasileiro fiquei fã. Conjunto da obra. Que poesia! Que lirismo! Que rima! Que melodia! Que fenômeno! Que amor contagiante por Coromandel! Quem nunca viu in loco o tal "Poço verde da esperança", mais ficou pra sempre, apaixonadinho por ele. (Aqui me lembrando do saudoso Tisunami, rasgava o peito cantando magistralmente, as canções do Goiá)
E como Coromandel, é aqui do lado, embalei um sonho: Iria conhecer Goiá, pessoalmente. Indomável sonhador como sempre fui, levaria a ele alguma música absurdamente tosca, como tudo que fiz, com isto, quem sabe nasceria, mais do que parceria: Uma amizade. Estava certo de que o amor á natureza, á poesia sertaneja, á vida simples da roça, "o trabalhador de alma gentil", nos uniria de alguma maneira.
Deixei o tal encontro pra depois, pra depois...não deu. Em 1981, um túmulo de sua cidade natal recebia um pedacinho de sua canção:
“O dia em que a morte com sua inclemência,
tirar minha vivência com outros mortais,
imploro às pessoas, às quais considero,
na campa só quero as iniciais.
Mas deixem na pedra bem fundo gravada,
de jeito que nada apaga os sinais:
Uma saudade amarga e cruel,
de Coromandel em Minas Gerais”…
Todo mundo sabe que Goiá era aquela alma generosa em demasia. Em um bar, em uma visita amiga, dava parcerias em músicas, sempre que alguém, simplesmente dizia ter gostado da obra inédita que ou/viu. Há testemunhas. Quantos amigos premiados, sem contribuir com uma nota, estão lá nas faixas dos discos. Pode ter sido o caso até de “Saudade da Minha Terra”.
PASMEM! Segundo informações, Dona Ilda, vivia e morreu em dificuldades financeiras. "A justiça cortou há mais de um ano, recursos de Direitos Autorais a que ela tinha direito, pelo surgimento de mais herdeiros".
Que ninguém venha latir no meu ouvido. Sei, não sou jurista, não me cabe julgamentos. Sem entrar em méritos, peço vênia, para arrancar da garganta o desabafo de um fã: Foram insensíveis e cruéis, não liberando, pelo menos, recurso mínimo para a sua sobrevivência digna, manutenção básica, cuidados com a saúde e suprimento de suas necessidades. Afinal, era esposa de um ídolo nacional. (Ainda bem que teve os filhos ao seu lado amparando-a).
Estamos falando de um compositor de hinos do cancioneiro sertaneja: Saudade de Minha Terra, Pé de Cedro, Aurora do Mundo, Esquina do Adeus, Tardes Morenas de Mato Grosso, Recordação, Campos amados de Coromandel, Feitiço espanhol, Caminheiro da Saudade, Poço Verde ... Autor de um acervo de 750 músicas gravadas...
"Os versos que fiz os colegas gravaram": Pedro Bento e Zé da Estrada, Liu e Léo, As Galvão, Zilo e Zalo, Caçula e Marinheiro, Tibagi e Miltinho, Chico Rey e Paraná, João Mineiro e Marciano, Milionário e Zé Rico, Sérgio Reis, Lorena e Rafaela... e tantos outros que interpretam divinamente suas canções divinais.
E daqui a 50 anos garanto que terá gente regravando e cantando suas músicas com o frescor de atualidade.
É muita gente que viveu, vive e viverá desfrutando da qualidade de sua obra...Menos a sua esposa do poeta, que viveu de brisa...
Lamentável. Fico desolado... Como pode acontecer crueldade desse tipo. Me permitam aqui ajoelhar: "Por tamanha injustiça e ingratidão, perdoa-nos, Dona Ilda"
O Brasil não valoriza seus artistas. Explora-se ao máximo e não valoriza o autor e sua obra. (O Compositor, então, hoje não tem nenhuma espécie de reconhecimento). Ponha na conta da faminta indústria cultural e fonográfica brasileira, que deixam os ruins, muito ricos e os bons, muito pobres.
Refrigério é sabe que a musa Dona Ilda, que esteve ali ao lado do esposo, seja pescando peixe, seja pescando versos, agora estão lá no sereno lago azul da eternidade...Onde a justiça reina. ( Foto raridades. Grupo Público Coromandel)
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