Amizade (do latim amicus; amigo, que possivelmente se derivou de amore; amar, ainda que se diga também que a palavra provém do grego) é uma relação afetiva, a princípio sem características romântico-sexuais, entre duas pessoas. Em sentido amplo, é um relacionamento humano que envolve o conhecimento mútuo e a afeição, além de lealdade ao ponto do altruísmo. Neste aspecto, pode-se dizer que uma relação entre pais e filhos, entre irmãos, demais familiares, cônjuges ou namorados, pode ser também uma relação de amizade, embora não necessariamente.
A palavra bíblica nos diz que encontrar um amigo fiel é encontrar um tesouro. Por isso mesmo, amigo fiel não se encontra com facilidade, como acontece também com os verdadeiros tesouros. Não basta considerar-se amigo, importa ser amigo. Há grande diferença entre apresentar-se sob forma de amigo e ser verdadeiramente amigo. Aparentar amizade é uma coisa, e ser uma estrutura amical é outra coisa.
Apesar das frustrações, o mundo ainda não se cansou de procurar a amizade. E isso é um sinal de esperança. É que a amizade está situada na área dos valores transcendem coisas e objetos. É um mistério. Muito mais para ser vivido do que para ser analisado. No clima da amizade, o homem se reencontra e experimenta sua vocação humana. Fora da amizade, encoleriza-se, ilha-se chega a dissolver a própria vida.
Aprecio muito o velho livro "O Estradeiro" do Padre/Filósofo, Juvenal Arduini, uberabense, Prof. Universitário, Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, diz-nos ele que na amizade, “conta-se com a pessoa e contar com o amigo não é contar com seu dinheiro, com seu prestígio, com seu serviço, com sua utilidade.” Amizade não é investimento, não é crediário.Concordo plenamente com o autor. Contar com alguém significa contar com sua compreensão. E contar com sua compreensão não é contar com sua aprovação indiscriminada.O amigo pode discordar de nós, pode não fazer o que fazemos. Torcer por times diferentes. Ser amigo não é rubricar procedimentos. È ajudar a escrever vidas complexas e oscilantes.
Contar com alguém é sentir que a pessoa tem a capacidade de entender nossa situação e de acompanhar nossos passos, de avaliar nossos acertos e desacertos, sem espantar-se. Contar com amigo é saber que não seremos abandonados somente porque somos o que somos. Contar com alguém é ver que a pessoa está do nosso lado, mesmo que não seja do nosso lado.
Contar com o amigo é perceber que na pessoa, a capacidade de entender é maior do que a capacidade de rejeitar. A amizade não é apenas um recanto agradável. É um momento forte da existência, em que a pessoa ainda tem a capacidade de sentir-se homem entre os homens, irmãos entre os irmãos.
Fabrico Carpinejar é o poeta mais doido e lúcido que conheço, tem umas tiradas sobre a amizade que adoro: “O amigo é aquele que tem todos os motivos para desistir de você e não desiste. Você fez por merecer a separação. Exagerou. Afastou o abraço, gritou que ele não o compreende. Mas o amigo entende até na incompreensão. Aguarda entender.
Eu preciso de um amigo que não me renuncie quando já desisti. Que me lembre de não desistir. Que seja insistente como o esquecimento dos velhos. Que desperte o meu humor no desespero, que se desespere com a ausência de notícias.
Um amigo que não numere as páginas do livro. Toda página pode ser a mesma. Um amigo que sopre meu rosto perto de sua boca, como uma gaita de mão. Um amigo capaz de esconder seu amor para proteger a amizade e de me aconselhar a seguir o que ele tinha vontade”
Qualquer dia destes dá na teia e posto este texto do Carpinejar in totum, por hora, fica com o finalzinho: “O amigo sempre volta. Pensando bem, não volta, nunca saiu do lugar. Ele é a rua que atravesso para chegar em casa.”
Todos conhecemos muitas histórias comoventes a respeito de grandes amizades e a que vamos narrar é uma delas:
Conta-se que um soldado dirigiu-se ao seu superior e lhe solicitou permissão para ir buscar um amigo que não voltou do campo de batalha.
Permissão negada, respondeu o tenente.
Mas o soldado, sabendo que o amigo estava em apuros, ignorou a proibição e
foi a sua procura.
Algum tempo depois retornou, mortalmente ferido, transportando o cadáver do
seu amigo nos braços.
O seu superior estava furioso e o repreendeu:
- Não disse para você não se arriscar? Eu sabia que a viagem seria inútil!
- Agora eu perdi dois homens ao invés de um.
- Diga-me: valeu a pena ir lá para trazer um cadáver?
E o soldado, com o pouco de força que lhe restava, respondeu:
- Claro que sim, senhor!
Quando eu o encontrei ele ainda estava vivo e pôde me dizer:
- "Tinha certeza que você viria"!
Histórias como essa se repetirão, com outras tonalidades, enquanto existir
amizade na face da Terra.
Vez por outra, gosto de relaxar, rir do passado, sonhar maluquices para o futuro e conversar trivialidades. Quero amigos que se deliciem em ouvir uma mesma música duas vezes para perceber a riqueza da letra; de comentar o filme que acabaram de assistir e o último livro que leram; e numa mesma conversa, elogiar e espinafrar políticos, atores, árbitros de futebol.
Como é bom chorar com poesia!
Quero terminar meus dias e poder dizer que, mesmo descrendo das ideologias, dos sistemas econômicos e das instituições religiosas, cri em verdadeiras amizades porque tive bons amigos.
A amizade respeita, compreende, perdoa, apóia, defende, enaltece.
Muitas pessoas confundem a amizade com cumplicidade interesseira, mas a amizade não é assim. O verdadeiro amigo sabe dizer sim e sabe dizer não quando é preciso, mesmo que para isso não seja compreendido.
Em nome da amizade, não se deve fazer tudo o que o amigo faz ou apoiá-lo em tudo. Isso é tolice.
Amigo. O coração é que escolhe e acolhe...