Momento. Ele é esportivo e político. A idade de um personagem rangeliano permite comparar o passado recente com o presente. Principalmente, envolvendo o futebol e a política. Pois, em sua vida há incríveis passagens que testemunhou, viu, com os próprios olhos.
ATLETAS – Neymar é craque? É, mas não é excepcional. Quem viu o Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Piaza, Raul e Brito jogar inúmeras vezes sabe disso. Quem viu o Atlético de Reinaldo, Eder, Cerezo, Luizinho e Paulo Isidoro jogar, também sabe disso.
E MAIS – Quem viu o Santos de Pelé, Coutinho, Carlos Alberto, Zito, Gilmar e Lima, mesmo caminhando para o seu crepúsculo, sabe o que é craque. O que é ser gênio. Um pouco mais tarde, quem viu o Cruzeiro de Nelinho e Joãozinho. Depois, o Cruzeiro de Ronaldo Fenômeno (1994, por exemplo, despedida do CAP da Elite Mineira), sabe disso.
SELEÇÃO BRASILEIRA – Quem assistiu à Copa de 1970 pela novel TV em cores sabe disso. Quem viu, pela TV, em 1982, a perfeita equipe de Telê Santana (Zico, Falcão, Sócrates, Júnior e mais três craques do Galo, Luizinho, Cerezo e Éder – Reinaldo encontrava-se machucado) sabe disso. Aquela tarde do inesperado placar para a Itália provocou dor maior que o 7 a 1 e essa derrota na Rússia.
POR FIM (I) – A Seleção 2018 é esforçada apenas. Neymar é bom. Porém, não teria lugar no ataque de 1970: Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé e Rivelino. Quem viu, compara e concorda naturalmente.
GOVERNADOR: MELHOR E PIOR – Como servidor público estadual, a testemunha ocular em referência passou por quatorze governadores, dentre os quais dois por mais de um mandato (Hélio Garcia e Aécio). Muito difícil apontar, mesmo que subjetivamente, o melhor. Talvez, Rondon Pacheco (o único do Triângulo) pelo seu empreendedorismo. Talvez, Aureliano Chaves pela sua austeridade. Talvez, Hélio Garcia pela sua boa política. Talvez, Aécio Neves pelo seu planejamento. E o pior? Tancredo Neves? Newton Cardoso? O honesto Itamar? Os números, a situação de Minas, não deixam dúvida. Nessa galeria de governadores, todos líderes de seus tempos, o atual (Fernando Pimentel) faz a pior administração do Estado já vista. Claro, desde 1972 até agora.
O MAIS FOLCLÓRICO DO BRASIL – Deputado estadual, deputado federal, ministro da Fazenda do Presidente JK, candidato a governador de Minas, deputado majoritário por diversos anos em Patrocínio (anos 50/60) e vice-presidente da República (primeiro governo militar-1964/67): esse é o perfil de José Maria Alkmim (escreve é assim mesmo). Nos idos de 1964/65, a então jovem testemunha ocular patrocinense visitou o vice-presidente da República, por diversas vezes, em sua residência à Rua Pernambuco, esquina com Av. do Contorno, em BH. Lá, o seu amigo patrocinense Geraldo Matias Picun era o chefe de gabinete doméstico de Alkmim. Inclusive o jovem patrocinense presenciou um diálogo entre Alkmim e empresários de S. Paulo, pelo telefone, visando tirar o poder dos militares.
UMA HISTÓRIA DE ALKMIM – Contos e narrações sobre o comportamento desse pitoresco político, nascido em Bocaiúva-MG, é encontrado em alguns livros e jornais da época. Em Patrocínio, teve grandes amigos. Entre os quais, o prefeito Amir Amaral, o prefeito Mário Alves do Nascimento, Abdias Alves Nunes e Picun (servidor do Fórum e ex-atleta). Era a turma do velho PSD (não é o PSD atual). Ele sempre visitava a cidade trazendo benefícios. E como trouxe! Entre tantas histórias engraçadas, há a de uma sobre seus compadres no interior de Minas.
Certo dia, apressado e ansioso, esse compadre habituado às “facadas” (empréstimos), visitou Alkmim e foi logo dizendo:
– Compadre, minha esposa está passando mal para ter criança. Levei-a ao hospital e lá me pediram R$ 5 mil de depósito. Como estou desprevenido, vim pedir ao amigo compadre para me emprestar o dinheiro.
Alkmim, de primeira, não titubeou e lhe disse:
– Prezado compadre, você sabe disso há nove meses e está desprevenido; o que dizer então de mim que estou sabendo agora?!
Na época de seu falecimento, em 1974, integrantes de sua família confirmaram esse acontecimento à imprensa.
UMA PRESIDENTE NO CAMINHO – No final dos anos 60, o jovem patrocinense era estudante de economia na UFMG (Rua Tamóios-BH). Quase 90% dos estudantes tinham viés à esquerda. A ditadura militar não dava trégua. Muitos estudantes eram militantes esquerdistas. Entre os quais, Dilma Rousseff (residente na Av. João Pinheiro-BH). Daí, o patrocinense assistiu as primeiras manifestações de Dilma e seu grupo na FACE/UFMG. Pois, Dilma foi sua contemporânea na escola, onde ela não graduou-se (teve que fugir para o Sul).
POR FIM (II) – Essa testemunha ocular que assistiu as inaugurações dos Estádios Júlio Aguiar, Pedro Alves do Nascimento e Mineirão (1965). Que viajou, algumas vezes pelo Expresso União (Patrocínio-BH), com o eficiente, correto e mãos limpas prefeito Olímpio Garcia Brandão (acredite, prefeito no ônibus!). Que teve como amigo, Sebastião Elói, Padre Caprázio, Prof. Franklin Botelho, Abdias Nunes (outro passageiro frequente do Expresso União) e hoje, tendo tanta gente amiga, com poder ou não. Essa testemunha é um privilegiado. É um abençoado por Deus. E como tem sorte! Essa testemunha é este escriba puramente amador. Que rabisca fatos da história que presenciou ou leu. Afinal, apenas tenta escrever. Com honra e prazer.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 14/7/2018.