# Eustáquio Amaral

Exclusivo: O Primeiro Censo de Patrocínio

11 de Setembro de 2017 às 22:18

Pesquisa. É o melhor caminho para a revelação do desconhecido que interessa à comunidade. Seja científico, seja histórico, seja de qualquer área. Chegou a vez de se ter ideia de como foi a nossa amada Patrocínio, quando pertencia ao município de Araxá, na era imperial, pouco depois da independência do Brasil. Os fundamentos e documentos estão no Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte.

O CENÁRIO – Patrocínio era um dos quatorze distritos de São Domingos do Araxá (Araxá). Havia também Coromandel, Carmo, Santa Anna da Barra do Rio Espírito Santo (hoje, Santana de Patos) e São Pedro da Alcântara (hoje, Ibiá), dentre outros. Araxá era parte da Comarca do Paracatu do Príncipe (Paracatu). Atenção: Isso em 1832/1835. Portanto, há 185 anos atrás. O documento enviado para a Província é datado assim: Patrocínio, 29 de março de 1832. A emancipação patrocinense ocorreu dez anos depois (1842).

IMPORTÂNCIA – Naquela distante época (1832), foi realizado o primeiro censo de Patrocínio e região, muito provavelmente. Nesse censo consta a relação nominal de habitantes, o número de fogos (casas), qualidade (cor da pele), condição (livre ou cativo, ou seja, escravo), idade, estado civil e ocupação.

CASA 1 – No fogo nº 1 residia José Estrella, branco, 47 anos, clérigo, cura (igreja). E João, preto, cativo, 19 anos, solteiro. E ainda, Benedicto, 12 anos. Padre José Ferreira Estrella foi o primeiro vigário da primeira Paróquia, a N. S. do Patrocínio, criada em 9 de março de 1839, por Lei Provincial.

... CASA 8 – No fogo nº 8, Silvestre João Júnior, branco, 32 anos, casado, negociante. Sua esposa (Maria), branca, 20 anos, e, a filha Maria Bellas, branca, dois anos. E os pretos (expressão do censo), João (24 anos), Joana (14 anos), Antonio (24 anos), Lourenço (24 anos), Adão (1 ano) e Francelina (12 anos). Todos cativos, sendo a última de cor parda. Já no fogo 46, residiam Bernardo Antônio, branco, 42 anos, casado, negociante; Cintia Maria, branca, 30 anos, os filhos Severiano (7 anos) e João (2 anos) e Catharina, preta, cativa (escrava), 30 anos.

E MAIS... – No fogo 69, a doceira Silvania Maria (92 anos) e os lavadores (deve ser de roupa) Vitoriana (70 anos) e Francisco (44 anos). Na 67, Catharina Maria (47 anos) e Theodora (30 anos), solteiras, fiadoras. No fogo 109, João Nunes (28 anos) e Anna (18 anos). No 192, José Maria dos Santos (42 anos) e Vitória (35 anos), seis filhos e Joaquim, pardo. A letra do escrivão de Paz nos documentos é bem traçada, mas por ser de uma época remota de difícil entendimento. Daí, pode haver alguma troca de nomes.

SÍNTESE – São 232 fogos (casas). E uma população de 1.752 pessoas. Assim discriminadas na linguagem da época. Entre os brancos, tinham 174 machos e 125 fêmeas casadas, 362 machos solteiros e 349 fêmeas solteiras. Já os pardos dividiam entre livres e escravos. Por exemplo, havia 19 casados machos e 15 fêmeas casadas dentre os livres. Já entre os pretos livres, dois machos casados somente, 14 machos solteiros e 15 fêmeas solteiras. Entre os escravos (pretos), 127 casados e 443 solteiros em um total de 570 escravos. Na verdade, entre pardos e pretos, 647 escravos. Ou seja, parte significativa da população (a terminologia desse censo foi conservada nessa crônica).

CRIANÇAS CASADAS! – Até 15 anos, três fêmeas brancas casadas, cinco pardas livres casadas, um macho pardo escravo casado, e nenhum preto. Como se vê, acontecia casamentos de crianças menores de 15 anos naquela época.

ESCRAVOS – A maior parte situava na faixa de 16 a 30 anos, totalizando 254 pessoas. Isso devido a força de trabalho.

IDOSOS – Com mais de 60 anos, 12 machos brancos casados, uma fêmea branca casada e sete fêmeas brancas solteiras, nenhum pardo, e apenas quatro pretos, sendo 2 livres e 2 escravos. Portanto, a expectativa de vida era muito baixa. Vivia-se pouco, comparado com os dias de hoje.

POR FIM – Essa é uma face do Censo da Província de Minas Gerais, na sua linguagem original, relativo ao Distrito de Patrocínio, pertencente ao município de São Domingos do Araxá. Época de 1832 a 1835.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 9/9/2017.

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