Escritos por alguns bons autores ou narrados por mestres da cidade, determinados capítulos da saga rangeliana devem ser contados e até repetidos novamente. Isso para que todas as gerações da urbe os conheçam. Principalmente, nesse momento, em que Patrocínio se aproxima de seus 175 anos. Só como município.
CONTO (I) – Saint–Hilaire, era um naturalista francês, narra no seu livro que uma viagem do Rio de Janeiro para Goiás, via Patrocínio, durava cinco meses. E a carga em um burro custava 32 mil réis. Isso em 1819–1820.
CONTO (II) – Eschwege, era um pesquisador mineral alemão, narra sua passagem por Patrocínio quando foi recebido em uma casa cujo marido estava ausente. A mulher o atendeu sem se mostrar. Deu–lhe o engenho como abrigo e as refeições por um buraco na parede. Esteve na região por volta de 1835.
CONTO (III) – Sebastião Elói e Floriano Peixoto de Paula contavam sobre diversas sedições (revolta, agitação) ocorridas em Patrocínio, principalmente entre 1850 e 1870. Em 1855 aconteceu o violento “Fogo do Mundim”, verdadeiro tiroteio comandado por Martins Mundim. Em 1868, a Vila de Patrocínio foi invadida por 140 pessoas armadas. Um pouco antes, inúmeros patenses liderados pela família Maciel trocaram tiros com as lideranças patrocinenses no Largo do Rosário (hoje, Praça Honorato Borges). Patos desejava se emancipar de Patrocínio, o que ocorreu em 29 de fevereiro de 1868 (instalação).
CONTO (IV) – Sebastião Elói dizia que Patrocínio teve um precursor de Antônio Conselheiro, o líder religioso de Canudos. Por volta de 1883, José Antônio de Souza, conhecido por “Pai Eterno”, comandou uma seita de fanáticos, sediada na Fazenda do Capão, na região de Salitre e São Benedito. Com muito sangue e mortes, esse movimento social e religioso foi combatido pelas forças do Município, compostas por militares e fazendeiros.
CONTO (V) – Tião Elói narrou. Floriano Peixoto escreveu. José Gaguinho (antigo morador da Rua Quintiliano Alves) confirmou. Por volta de 1895, aconteceu um tremor de terra na cidade. A causa mais provável seria um meteorito que caiu na região do Tejuco. Os moradores chamavam–no de “Pedra de Raio”, com cerca de 5 metros de diâmetro. Na versão menos provável, o tremor poderia ter sido causado por desabamento subterrâneo, no platô próximo a Chapadão de Ferro.
CONTO (VI) – No final do século XIX, por volta de 1890, Olímpio Carlos dos Santos ensinava os patrocinenses a ler e escrever. Era professor, músico, escritor e carnavalesco também. Sua casa ainda existe na rua que leva o seu nome, nº 181 (na região da Escola D. Lustosa). Sua neta Olga Botelho administrou o belo casarão por muito tempo.
CONTO (VII) – Antônio Rangel Galião era paulista de Lorena. No século XVIII e XIX, Patrocínio foi ponto de hospedagem e abastecimento para os tropeiros que trafegavam pela Picada de Goiás (caminho para tropas e animais), estrada lendária que ligava Pitangui a Patrocínio e Goiás. A mais famosa Pousada foi o Rancho do Rangel, à beira de águas cristalinas, vasto pasto e mulheres (o rancho ficava na região do bairro Morada Nova). Rangel assassinou a sua esposa e se casou com uma das moças do rancho. O termo rangeliano vem de Rangel, esse personagem folclórico de Patrocínio.
CONTO (VIII) – Bernardo Guimarães, de Ouro Preto, então chamada Vila Rica, capital do Estado, era juiz em Catalão–GO, nos meados de 1860. Usuário constante da Picada de Goiás, sempre hospedava na Pousada da Rua das Pedras, pertencente a Antônio Alves de Oliveira. Bernardo era jornalista, poeta, professor e garimpeiro. Na sua obra Garimpeiro, cita as cavalgadas no Largo do Rosário naquela época.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 18/3/2017.