Tempo. O segundo mês do calendário propícia a uma distante viagem pela história patrocinense. Quer seja, apenas uma amostra dela. Famosas casas, a região, a privilegiada localização da cidade e opinião de célebres forasteiros.
1819: SAINT HILAIRE – A caravana de Saint-Hilaire segue de Araxá para o arraial de N. S. do Patrocínio, também chamado de Salitre. Um pouco à frente, o peão José Mariano vai a Patrocínio para procurar hospedagem. O vigário não pode recebê-los, pois sua casa é muito pequena. Uma casa recém-construída é indicada a José Mariano, onde ele deixa as bagagens. Quando Hilaire chega, Mariano apavorado informa-o de que a casa está cheia de bichos de pé. Por um instante todos têm os pés cobertos pelos insetos. Pela primeira vez, desde o Rio de Janeiro (a caravana partiu em 26 de janeiro de 1819), Saint-Hilaire e sua gente passam a noite ao relento. O cientista e naturalista francês acha o povo de Araxá mais evoluído do que o de Patrocínio.
1880: VIOLÊNCIA – A cidade de Patrocínio é conhecida como a vila da anarquia. Sedições, muitas brigas, invasões da cadeia para libertação de presos e farras são frequentes. Por sugestão de Elói Otoni, pertencente ao Império, é designado juiz da Comarca seu sobrinho Elói Benedito Otoni. Devido a sua conduta irregular e desonesta, os ânimos no município se acirram, ao invés de apaziguamento. Algum tempo após, Otoni é morto pelos Rabelo, a caminho do arraial de Abadia dos Dourados, onde se reuniria com o escrivão de crime.
1885: CASA – Uma das melhores da cidade pertence ao escravo, que recebeu alforria de seu senhor, Mateus José de Almeida, pai de Chiquinho Mateus, medidor de terras e lendário funcionário da Prefeitura, nos anos 50 e 60 (a casa resistiu ao tempo até a década de 80; depois eliminada pela cultura destruidora e demolidora; estava situada na Rua Cesário Alvim, quase esquina com Rua Tobias Machado, ao lado do antigo Armazém Padre Eustáquio).
1890: NOME ANTIGO – Muita gente tem dúvida por que o Triângulo Mineiro era chamado de Farinha Podre. Os primeiros bandeirantes, vindos de Desemboque, ao penetrarem as inexploradas terras, até encontrarem a estrada do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, deixavam algumas provisões próximas a um ribeirão para o regresso. Como a farinha apodreceu, eles denominaram o ribeirão, perto de Conquista, e a região de “Farinha Podre”. O nome “Triângulo Mineiro” começou a ser dito em 1884 numa polêmica entre os jornais de Sacramento e Uberaba.
1922: SAGA DE UMA MANSÃO – O importante fazendeiro e homem público Honorato Borges constrói a mais majestosa casa da região, na Rua 15 de Novembro. De seu primeiro casamento (com dona Maria Felizarda de Aguiar), há seis filhos, entre os quais, D. Emigdia de Aguiar, que se casa com o coronel João Cândido de Aguiar. Dessa união, nascem Júlio Aguiar, Enéas Aguiar, um inesquecível ex-prefeito, que casa-se com D. Lili Aguiar, tendo como filhos Maria Emidia e Cândida. Cândida casa-se com o grande fazendeiro Edmundo Coutinho. Edmundo faleceu há alguns anos. Portanto, residiram na mansão da Rua Presidente Vargas, ao lado da Igreja Matriz: Honorato Borges, seu genro João Cândido de Aguiar, seu neto Enéas Aguiar e sua bisneta Cândida Aguiar.
1926: COMPORTAMENTO – No histórico jornal “Cidade de Patrocínio”, edição de fevereiro se lê: “Seja qual for o lado por que entremos nesta cidade, avistamo-la de muito longe, em face da sua posição topográfica que é, incontestavelmente, magnífica. Os novos visitantes que, comumente, chegam aqui pela Ferrovia Oeste; esses são que mais admiram a nossa topografia, porque à grande distância, se avista Patrocínio, como que um ninho engastado no estrelejado firmamento.”
1941: MELHOR RESIDÊNCIA – A maior e mais confortável casa da cidade é a construída pelo Cel. Honorato Borges na Praça da Matriz, ao lado da Igreja, durante a década de 20 (nos anos dourados, foi residência de seu neto Enéas Aguiar, ex-prefeito). Entretanto no início dos anos 40, é edificada a casa mais moderna, pelo casal Elmiro Alves do Nascimento (Mirote) e Clérida Borges Alves, na Rua 15 de Novembro (atual Rua Presidente Vargas) esquina com Rua Tobias Machado. Posteriormente, a casa é vendida ao Sr. Osório Silva, de Uberaba, e, na década de 60, ao Sr. Geraldo Hipólito. Para a construção, parte do material veio de Formiga (hoje, felizmente, as duas casas resistem à voracidade dos destruidores “modernistas” e continuam se destacando na arquitetura urbana patrocinense).
1963: CINEMA – Começa a surgir “The Beatles”. Em Patrocínio, nas poucas lojas que vendem discos, e uma delas é a Joalheria França, e no rádio (Bandeirantes, Nacional-SP, Tupi e Mayrink Veiga) a música “I want to hold your hand” é campeã de vendas e preferência. XXXX O Cine Patrocínio (Praça Santa Luzia) exibe, no domingo, dia 10 de fevereiro, em sessão às 18:30 e 20:30 o filme “Golias contra os bárbaros” com Steve Reeves e Bruce Cabot. O cartaz na porta do cinema diz: “1001 mulheres sonhavam com os seus braços! Um jovem gigante se ergue contra os bárbaros. Em cinemascope e eastmancolor (é a técnica cinematográfica moderna da época, ou seja tela inteira e cores mais vivas)”.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 3/3/2018.