FOI BOM CONHECÊ-LO..
Corre pela cidade a triste nota do falecimento do Rev.José João, conheci-o como Ministro do Evangelho da Igreja Presbiteriana Central de Patrocinio. Possui um currículo bastante vasto, vide matéria no patrocinioonline.
Nunca fui participante/membro de sua igreja, mas, por ele, pela sua postura, tive vontade de ser. Aliás, minha geração foi marcada por alguns homens de Deus, que merecem reverência: Rev. José João, Pe. Vinícius, e Pr. Osmar Santos, mais um ou dois.
Se você não o conheceu, perdeu a oportunidade de conhecer um grande ser humano. Seu programa "Momentos com Deus" apresentado na Rádio Difusora de Patrocínio, pode-se dizer que era um sucesso. Tenho certeza que foi ouvido por muitos de outras confissões religiosas.
Rev. Zé João, tinha uma característica, que muito, muito me admirava. Não "arrastava"ninguém para sua congregação. Quem quisesse ir, iria preso aos laços invisíveis do amor cristão.
Se me permitem, narro algumas passagem com ele. Coisa de mais ou menos trinta anos atrás, mas que estão nitidamente na memória...
A primeira: Alguém bateu na porta de minha casa, fui atender, a pessoa se identificou como sendo motorista de táxi. Disse- me que um senhor estava lá em seu carro querendo falar contigo. Quando me aproximo, noto que não conheço aquele senhor. Nada familiar.
Um homem de meia idade passa a narrar pra mim uma triste história. ( Sempre há uma história triste) Acho até que alguém havia falado pra ele de meu coração molenga. sensível.
Em suma: Ele era um carreteiro lá pelas bandas de Goiás. Certa feita tranportava uma enorme carga, ao passar por certa vila, uma criancinha, apareceu de repente em seu caminho. Para não atropelar essa criança, fez uma manobra arriscada. Salvou a criança, mas no ato radical, a carreta tombou e infelizmente, teve diversas fraturas na coluna, que o obrigou a usar uma cadeira de rodas.
História narrada com muita comoção, claro me tocou.
Ato seguinte, me estende uma carta, suja que só, cujo cabeçalho se dirigida aos " Padres e Pastores e pessoas de bom coração de Goiás e de Minas Gerais". Na parte que me toca, estaria eu entre as " pessoas de bom coração".
No teor solicitava que o ajudassem financeiramente. Precisava fazer uma cirurgia bastante urgente e onerosa.
Comovido, convencido, mas sem um puto no bolso, querendo muito ajudá-lo, sugeri que deixasse comigo a carta. Ia fazer o possível para ajudá-lo. Ele consentiu e disse que me esperaria na (antiga) rodoviária.
De posse da carta, faço e refaço a leitura, pois algo me chamava a atenção. As assinaturas de todos que, até então haviam colaborado com a causa, "Padres pastores e pessoas de bom coração", tinham a mesma caligrafia. O t do fulano era o mesmo t, do sicrano; o r, o, s, idem.
Pensei que estranho!
Na mesma hora me ocorreu procurar o Rev. Zé João.
Quando cheguei, a porta de sua residência estava aberta, ela sempre estava aberta, fui entrando todo familiar. Deparei com ele lendo um livro. Assim que entrei, antes mesmo de me cumprimentar ele, olhou para o papel que eu tinha na mão, disse:
- " conheço assa caarta!"
-" Mesmo? E aí Rev? Disse curioso.
"E daí Que esse cara é um tremendo picareta"
Ele passou por aqui, percebi algo estranho. Quando neguei o que ele pedia, aprontou o maior escarcéu por aqui. Caso pra polícia.
Examinarmos as assinaturas diferentes, que ele, até então, não havia percebido. Fraude confirmada.
Falei que precisava devolver ao tal senhor na rodoviária. Ele queria por que queria ir comigo.
" Ele vai te xingar tudo, vai te rogar pragas, como fez comigo.
Insisti que devia ir sozinho enfrentar aquilo.
Lá estava ele na cadeira de rodas. ( Não sei se com deficiência ou não. Tinha dúvidas)
Cheguei pra ele devolvendo a carta. Dito e feito. Levantou a voz bastante irado, falando alguns impropérios.
Cheguei bem pertinho dele e pedi para dar uma controlada pois o polícia que estava ali perto já deu olhada pra ele. Foi um balde de água fria, se acalmou na hora...Fui embora, mas penso no ocorrido até hoje...
Em outra ocasião: Minha querida tia Naíca havia falecido, acometida de câncer, seu velório a casa ali na Casimiro Santos ficou alinhada de parentes e amigos. Lá pelas tantas algumas irmãs da comunidade católica se preparam para fazer uma celebração. Foi quando alguém me pediu para dizer a elas, que o Rev. estava chegando para celebrar um culto. Quando lhes falei nunca esqueço a resposta delas, quase em uníssono: " O quê? O Rev. José João, está vindo? Nossa, nós adoramos ele, vamos ficar aqui na frente e participar" ..e lá veio ele com palavras comoventes e confortantes...
Tudo isto tem mais ou mesmo trinta anos...
Em outra ocasião:Rev. Zé João, sofreu um trágico acidente, quase lhe ceifou a vida. No carro todo danificado estava sua esposa e mais uma senhora amiga.
A situação dele foi mais delicada, esteve entre a vida e a morte.
Senti que precisava visitá-lo. Vendo a porta devsua casa sempre aberta, comprei coragem e entrei. A casa estava com alarido alegre, repleta de jovens. Perguntei pelo Rev. ele ainda estava no hospital internada. Mas sua esposa já está de alta em casa pode ir lá no quarto visitá- la.
Lá estava Suely em uma cama e a senhora, salvo engano, Dona Alvina, em outra. Muitas cicatrizes. Me receberam muito bem. Tão bem que ela passou a narrar o trágico acidente ocorrido com eles.
Meu amigo! Fui ficando mal. As vistas ficando turvas. Esperando ansiosamente, que ela desse uma paIsa na narração, pra mim poder dar no pé. Antes de estrebuchar ali no chão. Ufa! Deu certinho. Ela nem percebeu, me despedi e casquei fora em busca da porta de saída. Como disse a casa estava repleta de jovens, escondi minha cara pálida e tentava sair despistado vi que não dava. Me assentei no sofá da sala cabisbaixo, peguei uma caneta fingindo que anotava alguma coisa. Deu certo não. Dali a pouco veio um jovem oferecendo água, outro, café e não sei mais o quê. Eu recusando todo constrangido. Até que um senhor, que não sei o nome, mas pode chamá-lo de " Sr. Prosa Ruim". Ele se assentou do meu lado e quis saber o que se passava. Camisa colada nas costa de suor frio, tive que dizer a ele que não posso ouvir história de sangue. É ouvir e lá vem um piripaque. Mas já estava bem. Ia saindo ele me chamou de volta: " Vou te dar um conselho: Quando lhe falar de sangue, pense em água. Sangue..água, sacou? Gerou algumas risadinhas por ali." Pensei vaza prosa ruim..
Passou um tempo considerável, avistei o Rev. Zé João, em uma cadeira de rodas. Estava em outro passeio, fiz questão de cruzar a rua Governador Valadares e fui ter com ele. Estava se convalescendo. Não havia chegado a sua hora. Como sempre, fui muito bem recebido. Conversamos como bons amigos de então...
Depois nos solavancos e peripécias da vida, nos perdemos de vistas.
Agora, soube que chegou a sua hora no relógio da eternidade..
Tenho certeza que todos quantos conviveram com ele,( de sua igreja, ou não) tem algo muito mais edificante para dizer.
Dele se pode dizer: "Combateu o bom combate"
...Pesarosos prosseguimos...