Tempo. É bom viajar por ele. Que tal visitar (nossa) Patrocínio em 1965. Para tanto, o veículo a ser utilizado é a edição nº 7, de 18 de julho, do semanário Jornal do Comércio, que circulou durante todo o ano na cidade. Um pouco do comércio, do futebol, de cinema e de gente naquela época que vivem na lembrança de gerações.
A MOVIMENTADA PRAÇA HONORATO BORGES – No Edifício Rosário, sob a gestão dos três irmãos Ferreira (Manoel, Antônio e José, este o proprietário), o Bar Itapoã é atração. O seu telefone é 245, (ainda) da Companhia Telefônica de Patrocínio S/A. Ao lado do Cine Rosário, o Barão engraxate (na entrada) e a Joalheria França (de Joaquim França). Sua (bela) filha Terezinha, colunista do jornal, anuncia que LP (Long Play, grande disco de vinil), 78 (vinil, com duas músicas) ou compacto (pequeno vinil, com quatro gravações) o cliente encontra na loja e pode escolher. E depois, para ouvir, é só colocar no pick-up (espécie de toca-discos) ou na radiola (toca-discos e rádio convencional, ondas médias e curtas). Na oferta, segundo Terezinha, dois LP’s custam apenas Cr$ 11.000,00 (onze mil cruzeiros).
PRAÇA SANTA LUZIA – O Bar Caçula, de Mário Batista, anuncia os campeonatos Mineiro e Paulista pela TV (com muito “chuvisco” Patrocínio assistia à TV Itacolomi de BH. Não havia satélite). Telefone 376 e o bar era localizado no prédio do Hotel Santa Luzia.
AINDA NA PRAÇA – Ao lado do Cine Patrocínio, Bar e Restaurante Elite, telefone 349. E no luxuoso cinema da Família Elias, sob a gerência do Sr. Virgílio Gimenez, em duas sessões, às 18h30min e 20h30min, a apresentação do filme “Vingança dos Bárbaros”. Em cinemascope (tela inteira) e colorido (às vezes, havia filme preto/branco), com Anthony Steel. Já no Cine Rosário, no mesmo horário, o filme “Esquina do Pecado”, com Suzan Hayward e John Gavin. Nesse cinema, as cadeiras eram sem estofamento. E havia o chamado “poleiro” (cadeiras no segundo andar, ingresso mais barato, onde a “molecada” fazia a festa).
FAMOSA ARTISTA – Virgínia Lane, conhecida como a “Vedetinha do Brasil” fará grande show no Cine Teatro Patrocínio, junto a 28 artistas nacionais. Depois, baile-show na Autocar (revendedor Willys, na Rua Presidente Vargas, 1.721). (Esse show aconteceu duas semanas depois).
CAP CAMPEÃO E EXPULSÃO DE TODOS! – Segundo o Jornal do Comércio (JC), “o alvinegro mais querido da cidade” foi campeão invicto no quadrangular com URT, Mamoré e Tupi, de Patos de Minas. Mas o incrível aconteceu. No jogo com o Tupi, onde o CAP, chamado de Atlético, venceu por 2 a 0, em Patos, todos os 22 atletas foram expulsos pelo juiz. A partida final, CAP 4 X URT 2, também ocorreu na vizinha cidade. Fausto marcou dois (depois, foi jogar no Vasco da Gama), Anedino e Sabino marcaram os outros dois gols. Detalhe: a camisa do CAP era igual à do Botafogo-RJ e Atlético-MG, às vezes branca com calção preto.
CENAS DE PATROCÍNIO NA VISÃO DO JC – “... a cidade conta com dois ótimos cinemas. Aos domingos, os desportistas se deslocam para o Estádio Júlio Aguiar, onde vê com satisfação os cobras do Atlético (que é o CAP, hoje), que muito prometem (para alcançar a Divisão Extra). O nosso Estádio é o melhor da região. Temos dois clubes de diversão: Churrascaria Alvorada e Associação dos Bancários (onde foi o Itamarati). Grandes noitadas com o moderníssimo conjunto Magnatas do Ritmo. No setor de Ensino, Patrocínio é considerada a capital intelectual do Alto Paranaíba, devido aos seus quatro ótimos ginásios e à Escola Normal. Nossa Estância de Serra Negra, água e hotel, é utilizada por turistas de todo o Brasil...” Isso é um pouco da cidade em julho de 1965, conforme texto do jornal. Porém, hoje, tudo isto parece apenas um retrato na parede.
O COMÉRCIO QUE DEIXOU SAUDADE – Panificadora Maracanã, pão com gosto de pão, à Av. Rui Barbosa, 704, Fone 625. A reabertura das Casas Manuel Nunes, o Barateiro. Armazém Santa Terezinha, de Belchior de Castro, à Rua Gov. Valadares. Armazém Irmãos Constantino, colaborando em baixar o custo de vida. Ribeiro S/A, materiais para construção, mármores e madeiras. A Ciclista, na Av. Faria Pereira, 332, tem bicicletas Caloi e consertos. Joalheria Diamante Azul, na Av. Rui Barbosa, 211. E ao lado, Casa do Tuniquinho com “preços rebentados”. A Camponesa, a maior fábrica de balas e doces da região. Bar São Geraldo, praça Honorato Borges, o bar dos desportistas. Café Mirim na Av. Rui Barbosa.
INTERESSANTE! – Médico (dr.) Latif Wadhy escreve sobre o combate ao câncer. Assis Filho é narrador esportivo da Difusora e Clube de Patos. Edson Pinheiro e Leonardo Caldeira trabalham “lá e cá”. É o intercâmbio entre as duas emissoras. Praça de Esportes (hoje, PTC) continua caindo aos pedaços (escreve o jornal). O patrocinense, grande radialista, Petrônio de Ávila, apresenta a Crônica do Dia (ele trabalhava na Rádio Independência de São José do Rio Preto). Rural Jeep, veículo da Willys, muito é comercializada na cidade. Massilon Machado, o poeta maior, apresenta a sua (poesia) “Súplica”.
FONTE – O Jornal do Comércio, com quatro páginas, tinha o radialista Leonardo Caldeira como diretor, Dr. Vicente Arantes (advogado) como redator e custava Cr$ 1.500,00 (um mil e quinhentos cruzeiros) a assinatura anual. Escritório à Rua Cassimiro Santos, 689 e tiragem de 1.000 exemplares.
([email protected]) *** Crônica também publicada na Gazeta de Patrocínio, edição de 24/07/2021.