# Eustáquio Amaral

Histórias de uma Feliz Patrocínio

30 de Maio de 2016 às 19:44

Tempo. Ele não para. Os anos passam como uma revoada de pássaros. Movimentos irregulares, com cantos e encantos. Porém, que ocorrem num piscar de olhos. Nesse interregno, fatos e pessoas se tornam inesquecíveis. Marcam a época. Por isso, são sempre lembrados e relembrados. Principalmente, se pertencem ao torrão natal. Uma amostra desfila nesta passarela da saudade.

ARTUR BOTELHO – De 1912 a 1918, Patrocínio foi administrada por Artur Fernandes Botelho. Como Presidente da Câmara Municipal assumiu também o papel de agente Executivo (um papel idêntico ao do prefeito, que somente surgiu a partir de 1930). Foi ele quem ajardinou pela primeira vez o Largo da Matriz e começou a construir a Avenida Rui Barbosa, na região para onde a cidade crescia.

1938: TAVARES – Com 24 anos de idade, José de Faria Tavares foi professor no Ginásio D. Lustosa e o mais brilhante advogado na Comarca de Patrocínio. Filho de Secundino de Faria Tavares (oriundo de Córrego Danta), mais tarde, em 1946, elegeu–se deputado estadual pela UDN, transferindo residência para Belo Horizonte. Foi o primeiro deputado com raízes em Patrocínio. E também foi senador da República.

CIRCO – Nas décadas de 40 e 50, o circo e o parque constituíam–se na grande diversão. Os que visitavam a cidade, primeiro, instalavam–se na Praça Honorato Borges, esquina com a Rua Rio Branco. Depois passou a se instalar no terreno onde futuramente surgiria o PTC, e em seguida, na Avenida Faria Pereira. Os palhaços Pirola e Pirolinha, a dramatização de Sansão e Dalila, o globo da morte, os trapezistas, as bonitas moças, os animais, a roda gigante, os balanços, entre tantas atrações, faziam o show de uma época inesquecível.

RÁDIO – Nos anos 50 e 60, a televisão é limitada e de pouca penetração. Os programas de auditório dominavam as programações de muitas emissoras de rádio. A Nacional do Rio era a grande coqueluche brasileira. Em Patrocínio, a Difusora também mantinham programas de auditório. Geralmente, nas manhãs de domingo. E por eles passaram Antônio Augusto, Petrônio de Ávila, Oliveira Júnior, Humberto Novais, Auxiliadora Guarda e tantos outros nomes que dignificaram o rádio patrocinense. No auge dos programas de auditório, a Difusora chegou a apresentar nas noites de segunda–feira, um programa patrocinado pelo Café Constante e as Casas Manoel Nunes que se destacavam entre os anunciantes.

SUCESSOS – Na primeira metade da década de 60, as músicas mais ouvidas, tocadas e cantadas em Patrocínio eram “La Paloma” com a Orquestra de Billy Vaungh, “Besame Mucho” com a Orquestra de Ray Conniff, “Roberta” com Pepino Capri, “Banho de Lua” com Cely Campelo, “La Bamba” com Trini Lopez, “I want to hold your hand” com The Beatles, “I can stop lovin you” com Ray Charles. A volta do boêmio com Nelson Gonçalves. “It’s now or never” com Elvis Presley e “Petit Fleur” com a Orquestra de Bob Crosby.

 

COMEÇO DOS ANOS 60: FUTEBOL – A equipe do Flamengo (o maior celeiro de craques que Patrocínio já viu) estava tão harmônica e jogando “por música”, sob o comando do lendário Véio do Didino, que Bougleux, júnior do Atlético Mineiro, tem que se contentar com a reserva no jogo com o Clube dos Cem, em Monte Carmelo. No segundo tempo, ele entrou e jogou entre os titulares (Bougleux jogou ainda na Seleção Mineira, Santos de Pelé e Vasco da Gama).

VICENTÃO – Até os anos 60, os fogões das residências e os fornos das padarias eram movidos à lenha. O fogão a gás não era bastante conhecido nem utilizado. A lenha vinda dos cerrados chegava à cidade transportada em carros de boi, e mais tarde, em caminhões. Para condicioná–la os troncos eram cortados. Para isso, existiam os rachadores de lenha. Entre os quais se destacava um negro forte, possuidor de uma sonora gargalhada, quase 1,70m de altura, residente no Sertãozinho (hoje Marciano Brandão). Uns o chamava de Sô Vicente, outros de Vicentão. Alguns conheciam–no por ser pai da popular Rufina. A remuneração pelo seu eficiente trabalho era curiosa. Uma garrafa de pinga e três refeições (arroz e feijão em grande quantidade) por dia, às sete, às dez e às dezessete horas, e um baixo salário. Pão e café, intermediados nas refeições, também por três vezes ao dia. Passaram–se os anos... passou a Rufina.. passou o tempo da lenha... passou o Vicentão... ficou a lenda. 

1976: PICUM – Distante de sua terra do coração, Patrocínio, morreu em Almenara, no Jequitinhonha, o lendário Geraldo Matias de Abreu. Simplesmente Picum. Dia 1º de fevereiro. Nasceu em Carmo do Paranaíba, em 9 de outubro de 1920, vindo com pouca idade para Patrocínio. Onde foi alfaiate, oficial de justiça e um dos maiores atletas do futebol patrocinense (na seleção de todos os tempos pesquisada pela Revista Presença e pela Rádio Difusora, foi muito votado). Amante do baralho (caixeta e pif–paf eram os jogos preferidos). Irmão do célebre alfaiate Matias, não passou do curso primário. Nos seus dias de glória se tornou um dos homens de confiança do vice–presidente da República José Maria de Alkmim, no Governo Castelo Branco, de março de 1964 a março de 1967. Em Belo Horizonte, transformou–se em importante ponto de apoio dos patrocinenses. Picum é um nome que pertence à história de Patrocínio.

ABRIL DE 1980: INAUGURAÇÕES INESQUECÍVEIS – Na comemoração dos 138 anos de emancipação política do Município, com as presenças do Governador Francelino Pereira, vice–presidente da República Aureliano Chaves, diversos deputados e enorme público foram inaugurados o Palácio Brumado dos Pavões (sede da Prefeitura), o Palácio da Justiça Presidente Juscelino (Fórum), o novo prédio da Caixa Econômica Federal, a pavimentação de acesso à Minasilk e Sericitêxtil, a Escola Venina Amaral (Salitre), 150 casas populares do Matinha I (e iniciadas mais 300 no Bairro Matinha II) e a pavimentação da rua Artur Botelho, acesso à Faculdade. A cidade estava encantada com o progresso. Pedro Alves do Nascimento na sua Difusora, vibrava. O prefeito era Afrânio Amaral. Que saudade!

Primeira Coluna publica na Gazeta, edição de 16/4/2016.

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