(Foto Mesa) "Nós iremos cobrar de cada Município a implementação da política de Promoção da Igualdade Racial." (Erivaldo Oliveira da Silva – Presidente da Fundação Palmares). E, a partir desta fala, inicio o meu relato sobre o Fórum Regional de Políticas Públicas na Promoção da Igualdade Racial, ocorrido dia 24 de março, em Patos de Minas.
Diversos representantes do Alto Paranaíba e Triangulo Mineiro participaram do evento, que tem como propósito implementar um Estatuto que fundamente e oriente as políticas de igualdade e o combate ao racismo e discriminação étnico-racial na região.
Graças ao trabalho incessante do Sr. José Antônio Ventura, que o Fórum contou com a presença do presidente da Fundação Palmares, que ressaltou: "Foi graças ao Sr. Ventura que a Palmares está aqui. Eu quero pedir licença aos nossos antepassados. Quero uma salva de palmas para a Capoeira de Brasil. Eu quero falar para cada um que veio essa hora da noite para esse encontro: as demandas das comunidades quilombolas não estão em Brasília, elas estão nas comunidades. É triste saber que as comunidades estão abandonadas, pedindo socorro, em miséria! E o que estão fazendo? O que cada governo está fazendo?
A prioridade é colocar na pasta a legalização das terras quilombolas. Por isso, o objetivo estratégico e absoluto de fazer política pública para as comunidades quilombolas. No Governo Federal, onze Ministérios fizeram corte na política de igualdade étnico-racial. Cada Estado vai apresentar sua política. Chega de aceitar as migalhas que caem no chão.
Precisamos escrever a história de cada comunidade quilombola. Nós vamos continuar a fazer cultura, mas nós vamos levantar cada comunidade. É muito fácil dizer que o negro é lindo, o negro é belo. Mas quando ele abre o livro de história, ele não se vê representado. Por isso, a Palmares lançou o livro para que o negro se sinta representado. Está a disposição de vocês e das escolas de cada município. Queremos que a criança negra seja respeitada na escola e não que sofra a intolerância religiosa. É necessário avançar em cada Município e vocês vão sim cobrar de cada governo municipal para que a política da promoção da igualdade racial já saia de dentro de cada orçamento, de cada Secretaria”.
O Sr. Ventura continua: "Pensamos em fazer parceria, Poder Público e sociedade. O negro tem uma história que não foi contada e essa história precisa ser mudada. As desigualdades precisam ser combatidas, temos que nos fortalecer".
Existe hoje, em Patos de Minas, um movimento para reivindicar direitos e titulação do território pertencente à Comunidade Remanescente do Quilombo de São Sebastião. Tal Comunidade "habitou terras nos arredores das Fazendas São Luís e São Bernardo, no distrito de Boassara. A certidão de auto-reconhecimento, foi emitida pela Fundação Cultural Palmares, no ano de 2014 e, em seguida, foi instaurado no INCRA o respectivo processo visando a futura titulação do território".
(Foto: Público) Com a presença do senhores Pedro Correa (101 anos de idade) e Manuel da Cruz, remanescentes da Comunidade, o recado foi dado: "Nenhum município vai ficar livre de apresentar o planejamento de ações capazes de propor soluções e alternativas de desenvolvimento sustentável das comunidades que possuem patrimônio cultural ou estruturas de interesse de preservação. Nenhum município vai ficar livre de ações para o enfrentamento ao racismo e promoção da igualdade racial". "A tarefa de desmontar o racismo e os mecanismos de reprodução das desigualdades raciais, está em curso. E, positivamente, sinaliza os primeiros resultados em uma sociedade marcada por níveis de desigualdade que permitem que negros sejam 70% dos extremamente pobres e 67% dos analfabetos e uma sociedade em que os jovens negros são as maiores vítimas" – a cada 23 minutos um jovem negro é morto. Isso não pode ser normal, não é natural. A população negra representa 54% da população brasileira, mas configura apenas dois a cada dez mais ricos do país.
Mais do que nunca, há uma dívida histórica a ser paga e não se pode negar a importância da população negra na construção do Brasil, na constituição deste enquanto país e nação. Não se pode mais aceitar o “branqueamento” e a invisibilidade do negro socialmente – tais absurdos nunca deveriam ter sido naturalizados.
Portanto, é preciso reconhecer, em cada município, as desigualdades existentes e, assim, trabalhar meios para avançar, abrir e persistir em caminhos nunca antes explorados, realizar um enfrentamento diário para com as situações de desigualdades – é corrigir o seu colega quando fala uma frase preconceituosa, com a desculpa de “é só uma piada” e também não fazer. O preconceito e discriminação étnico-racial não é uma piada.
(Patrocinenses presentes) Estivemos presentes juntamente com Revalina Aparecida Silva, vereador Alexandre Castro da Cruz, Kenia Tina, Zé Preto, Antonio Silva, João Meira, Lázaro Carlota, Liliane Patrícia ,representantes do poder público de Patrocínio: Eliane Nunes, Jô Caixeta , Waldir Junior .
Por fim, foi assinada nessa noite a Carta de Intenções, para que cada Município possa trabalhar com diversas ações, tais como: o respeito à religião, o estudo da cultura afro, a pesquisa da história de cada negro, índio, cigano, descendente das comunidades quilombolas, que contribuíram para a construção de cada município: o resgate da comunidade quilombola, o levantamento de dados históricos: a correção de desigualdades históricas, no que se refere às oportunidades e aos direitos.
O destino da população negra, não é mais - e nunca deveria ter sido- a marginalização, a vivencia da discriminação, a falta de oportunidades. Cabe a cada Município buscar o enfrentamento e desenvolver um plano de ação detalhado e específico, a partir das diretrizes contidas na Carta, para promoção da igualdade de gênero, raça e etnia.
TEXTO: MONICA OTHERO NUNES (Ex - Presidente do Conselho Municipal de Política Cultural em Patrocínio)