# Eustáquio Amaral

ÍCONE DA MEDICINA PATROCINENSE FOI GRANDE PREFEITO SEM SER POLÍTICO

28 de Dezembro de 2020 às 21:48

Lendas. Patrocínio tem várias. Na política, esporte, comércio, educação, cultura e saúde há pessoas que se tornaram lendárias. A medicina oferece uma lenda na cidade. Dr. Brandão.  Mais precisamente, médico José Garcia Brandão. Um pouco de sua vida, de sua atividade pública e de seu exercício profissional, mostram quem foi ele. O seu legado é referência, é modelo, para as gerações que sucedem.

A ORIGEM – Dr. José Brandão é o primogênito do capitão (título simbólico) Marciano Brandão e Modestina Garcia Brandão. Teve quatro irmãos: Leopoldo, Rosa, Eny e Olímpio Garcia Brandão (prefeito exemplar de 1971 a 1975). Casado com a Sra. Maria Carvalho Brandão (Lilia) e nove filhos. Nasceu em Iguatama em 1º/03/1911 e faleceu em Patrocínio no final da década de 80.

APÓSTOLO DE HIPÓCRATES – José Garcia Brandão formou-se em Medicina, em 1935, na UFMG (BH). Quando chegou em Patrocínio, como médico, a Santa Casa, criada em 1924, se encontrava fechada. Como idealista, mobilizou a comunidade, visando a sua reabertura. Isso ocorreu em 1938. “A vida da Santa Casa se confundia com a vida dele, tendo sido Provedor e Diretor Clínico, por mais de uma vez.”, palavras de seu filho Maurício Brandão.

LÍDER COMUNITÁRIO – A peculiar solidariedade levou Dr. Brandão à Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), que assiste e assistiu à classe menos favorecida da população. Lá, comandou a construção da chamada “Vila dos Pobres”. São aquelas pequenas casas em volta do Asilo, no bairro São Vicente.  Assim, as famílias carentes, sem casa, passaram a ter moradia digna.

MAIS CONTRIBUIÇÃO AOS DESPROVIDOS – Dr. Brandão também não se esqueceu dos extremos da vida. Um pouco depois, para os idosos, participou da fundação do Asilo de São Vicente de Paulo, em 1956. Para as crianças, mais tarde, colaborou na criação do Lar da Criança.

RELIGIOSO FERVOROSO – Católico praticante pleno, durante a sua vida. Por isso, chegou a ter rara autorização do bispo Dom Alexandre do Amaral, diocese de Uberaba, a qual Patrocínio pertencia, para à leitura de livros, classificados à época, “proibidos pela Igreja”. Exemplo, a Bíblia, por ser de difícil compreensão. Palestrante vicentino regional, ainda participou de inúmeros movimentos eclesiásticos.

ÓTIMO PREFEITO EM TEMPOS DIFÍCEIS – Nomeado pelo governador Benedito Valadares, Dr. Brandão foi prefeito do Município de 1941 a 1945, em substituição ao também médico Vicente Soares. A sua administração coincidiu com a Segunda Guerra Mundial. Tempo em que quase tudo faltava. Principalmente, sal, açúcar, gasolina e querosene. Naqueles anos, a energia elétrica era precária, por isso lamparina e lampião eram comuns em qualquer casa de Patrocínio. E cabia ao prefeito controlar e administrar o racionamento. A probidade de Dr. Brandão não agradava aos poderosos. Nem a sua nomeação agradou.

PREFEITO COMANDOU A FESTA DO FIM DA GUERRA – Houve muita comemoração na cidade no dia 2 de setembro de 1945. Principalmente, porque havia cinco pracinhas de Patrocínio na guerra (Itália). No desfile popular, uma passeata, pelas ruas centrais, Dr. Brandão empunhou a bandeira brasileira, à frente. Com civismo e alegria.

GOVERNADOR – Benedito Valadares (antigo PSD), em rara visita ao interior, hospedou na casa da família Brandão, à rua Presidente Vargas (na época, rua 15 de Novembro). Nessa ocasião (1944), houve benefícios anunciados para no Município. Tais como um avião e Cr$ 50 mil cruzeiros para a Santa Casa.

PREFEITO RENUNCIOU – Todavia, por ciúme das lideranças locais (Dr. Brandão não era político), o prefeito José Garcia Brandão solicitou ao Governador demissão irrevogável. Por carta, explicou as razões da renúncia. Mas sem rancor, sem mágoa. Isso provavelmente ocorreu em setembro/outubro de 1945. O conteúdo da carta não foi revelado por ele em vida nem pela família após a morte. Sabe-se que é uma literária missiva.

NÃO EXISTIA CÂMARA DE VEREADORES – Durante o Estado Novo (ditadura do presidente Getúlio Vargas), de1937 a 1945, as câmaras municipais foram fechadas. Ou seja, o Poder Legislativo foi extinto nos municípios. Por isso, o prefeito Dr. Brandão lidava muito com o Departamento de Assistência aos Municípios, em BH, comandado por Lourival Brasil (PSD). Esse mais tarde, tornou-se o deputado estadual por Patrocínio, em diversos mandatos (até os anos 60). Por outro lado, os prefeitos também eram nomeados pelo Governador (devido ao Estado Novo).

OBRAS DE SUA GESTÃO – Construção do Campo de Aviação, em junho de 1941 (hoje, região da Av. Faria Pereira com a rodovia para BH). Plano de Urbanização da cidade. Prolongamento da Av. Faria Pereira e abertura da Rua Otávio de Brito, acessando à Praça Honorico Nunes (Santa Casa). E mais, construiu 7.550 metros de rede de esgoto, 220km de estradas municipais, 4.640 metros de meios-fios, passeio ao redor da Praça Santa Luzia e Praça Honorato Borges, praças e ruas encascalhadas (não havia asfalto por aqui), e o emblemático obelisco com o resumo histórico de Patrocínio, no Largo do Rosário (hoje, Honorato Borges). Destruíram o obelisco por insanidade intelectual, porém, parece, que as placas com a história estão ainda preservadas na Praça.

UM PREFEITO DE VISÃO – Criou o cadastro imobiliário. Implantou duas escolas noturnas: Padre Mathias e Leão XIII. Viabilizou o serviço de água no Distrito de Serra do Salitre (emancipou-se em 1953). Criou o abono para filhos dos servidores municipais (6%). Instalou a Comissão Municipal de Preços (paritária, com a participação dos comerciantes, consumidores e Poder Público), uma espécie de antecessora do Procon. Como prefeito e vicentino, em janeiro de 1941, inaugurou o novo cemitério municipal (hoje, é o atual), transladando (transferindo) os ossos exumados do antigo cemitério (hoje, Bairro São Vicente). Lá, onde fora esse segundo cemitério de Patrocínio, promoveu a construção da Vila dos Pobres de São Vicente. A SSVP, quinze anos depois, construiu o Asilo.

POR FIM – Além da Santa Casa, Igreja, Sociedade São Vicente e Prefeitura, o médico José Garcia Brandão pertenceu ao Lions Clube. E atendia pacientes em seu inesquecível consultório, à Rua Presidente Vargas. Em frente à sua perene residência patrocinense.

FONTES – Livro “Caminhos do Cerrado” (Genealogia da família Brandão), escrito pelo médico oncologista  Eduardo Carvalho Brandão, Olímpio Garcia Brandão e José Américo Ribeiro (edição 2005). Livro “Patrocínio Ontem e Hoje”, de Maria de Fátima Machado. Livro “Patrocínio: Nossa Terra, Nossa Gente”, de Júlio César Resende. E acervo particular deste cronista.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 5/12/2020.

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