# Eustáquio Amaral

Janeiros Que Se Foram...

11 de Fevereiro de 2018 às 22:25

Tempo. Ele elimina a maioria das coisas. Menos as recordações. Ou seja, lembranças de um tempo que não volta mais. O primeiro mês do calendário, janeiro, abriga importantes fatos e gente da Santa Terrinha. A morte do folclórico Picun, ex-craque do futebol e braço direito do vice-presidente da República Alkmim, época de casas apenas de um lado da rua, um cometa sobre a cidade, o que é guarda-livros, o falecimento do primeiro bispo católico patrocinense e um cenário político do Município em 1986, dentre alguns destaques.

12 DE JANEIRO DE 1874: LADO DO SOL – Nessa data, é fundada a cidade de Patrocínio, conforme Lei nº 1.995 de 13 de novembro de 1873. Desde então, até meados dos anos 40, é praxe construir as casas preferencialmente de frente para o nascente do sol. Por isso, o surgimento das ruas sempre se dá com casas do lado esquerdo para quem vai em direção à Serra do Cruzeiro. Isso explica, em muitas ocasiões, a maioria das ruas ter casas apenas de um lado, como a Rua Direita (Rua Cesário Alvim), Rua 7 de Setembro (Rua Governador Valadares) e Rua 15 de Novembro (Rua Presidente Vargas).

ANOS 40: NOME – Até a década de 50 inclusive, o profissional que lida com a contabilidade é chamado de guarda-livros. Entre tantas peças, no seu instrumental, encontram-se grandes livros de escrituração com o borrador (diário de lançamento), a caneta tinteiro, tipo Parker, a pena (ponta de metal, cabo de madeira, que para escrever, precisa ser molhada na tinta) e um grande mata-borrão (tipo carimbo, que serve para secar a tinta após a escrita). O guarda-livros é uma pessoa muito respeitada na comunidade, devido seu conhecimento da engrenagem contábil e fiscal.

1976: PICUN – Distante de sua terra do coração, Patrocínio, morre em Almenara, no Jequitinhonha, o lendário Geraldo Matias de Abreu. Simplesmente Picun. Dia 1º de janeiro. Nasceu em Carmo do Paranaíba, em 9 de outubro de 1920, vindo com pouca idade para Patrocínio. Onde foi alfaiate, oficial de justiça e um dos maiores atletas do futebol  patrocinense (na seleção de todos os tempos, pesquisada por Revista Presença e pela Rádio Difusora, foi muito votado). Amante do baralho (caixeta e pif-paf eram os jogos preferidos). Irmão do célebre alfaiate Matias, um dos criadores da Corrida da Fogueira, não passou do curso primário. Nos seus dias de glória, tornou-se um dos homens de confiança do vice-presidente da República José Maria de Alkmim (Governo Castelo Branco, de março de 1964 a março de 1967), em Belo Horizonte, onde transformara em importante ponto de apoio dos patrocinenses. Picun é um nome que pertence à história de Patrocínio.

JANEIRO DE 1980: CENAS – Júlio César Resende lança mais um livro: “Ruas de Patrocínio”, até hoje muito consultado. XXXX Frigorífico Dourados, o 2º de Minas de acordo com a revista “Dirigente Industrial”. XXXX Frigorífico Primo e Reunidas são os líderes do ICMS. “Primeira Coluna”, do Jornal de Patrocínio, justifica a rodovia ligando Patrocínio-Perdizes mais uma vez.

JANEIRO DE 1984: BISPO – Faleceu aos 73 anos de idade, no primeiro dia deste ano, um patrocinense que além de grande amor por essa terra, foi um de seus divulgadores: Dom Almir Marques Ferreira. O falecimento ocorreu na cidade de Araguari, onde ele foi sepultado no dia 2, com grande acompanhamento. Filho de Osório Marques Ferreira e Rita Guilhermina de Melo Ferreira, D. Almir nasceu no dia 18 de novembro de 1911, na Chácara do Esmeril, que fazia divisa com o perímetro urbano da cidade. Sua ordenação sacerdotal aconteceu também em novembro, dia 17, no ano de 1935. Doze anos depois (5/8/1957), aconteceu a Sagração.

Para o público da região ficou marcada, para sempre, a imagem de humildade e serenidade caracterizada na pessoa do primeiro Bispo da Diocese de Uberlândia. Sua bondade, gentileza, força espiritual e oratória marcante eram alguns de seus complementos. No entanto, nem todos tiveram o privilégio de conhecê-lo na vida privada. Afinal, como era D. Almir Marques na intimidade? Gostava de passarinhos, pescarias e de ouvir anedotas. Numa roda de amigos ou familiares jamais colocava em pauta assuntos religiosos.

E MAIS – Dom Almir já menino foi coroinha do Monsenhor Joaquim Tiago. Sebastião Elói dos Santos, seu amigo de infância, diz: “Jamais gostava de participar das travessuras dos meninos pelas regiões do Rangel. Era um menino diferente com o seu guarda-chuva ou sol, a subir e descer para o Grupo Escolar Honorato Borges e a velha Igreja Matriz. Nasceu para ser sacerdote. Um digno sacerdote.

1986: POLÍTICA – Patrocínio tem 26.978 eleitores. Qualquer candidato a deputado estadual pelo PMDB necessitará de, pelo menos, 30.000 votos para se eleger. Portanto, o candidato de Patrocínio precisará de 15 mil votos em outros municípios. Se quiser ser eleito, é claro. A lógica mostra que o candidato da cidade tem que ser bom de voto aqui e fora. A não ser assim, é conversa (tópico de uma Coluna deste escriba na Revista Presença).

JANEIRO DE 1987 – Coluna, assinada por este autor, sugere, no Jornal Presença, a criação da Associação das Donas de Casa de Patrocínio. XXXX Wécio Cruvinel assumiu a presidência do Atlético Patrocinense. XXXX Secretário e radialista Assis Filho: “Cidade terá Cristo Redentor e Hotel na Serra do Cruzeiro”. XXXX Delegado de Polícia: “Estamos chegando ao índice zero de criminalidade”. XXXX PTC: Zé Arí promete usar só pratas da casa. XXXX FAFI: No vestibular, 250 aprovados, 152 fora. XXXX Prefeito Afrânio Amaral ajudará o Atlético Patrocinense durante dez meses. XXXX Ibrahim Daura pede demissão como Secretário. Continua vice-prefeito. XXXX Júlio Elias é eleito presidente da Câmara, apoiado pelo concorrente Luiz Alberto Ribeiro. XXXX Anunciada destilaria de álcool para Patrocínio. XXXX Darlene Ferreira confirmada delegada de Ensino. XXXX Secretaria de Obras: Joaquim Teobaldo pediu demissão. XXXX Carnaval: Fraco nas ruas, razoável nos clubes. XXXX Safra: Armazéns são insuficientes. XXXX Patrocínio é o 8º Município mais desenvolvido do Triângulo. XXXX Bamerindus inaugura agência na cidade. XXXX Guarani de Divinópolis 1, Patrocinense 0, no Júlio Aguiar. XXXX PMDB defende redução de despesas na Câmara Municipal. XXXX SBT passa a ser captado no município. XXXX Chiquinho Lorota é o carnavalesco mais animado. XXXX Morcegos atacam pessoas na zona rural.

 

PALAVRA FINAL

 

SEM EXPLICAÇÃO – O glorioso CAP, Clube Atlético Patrocinense, foi homenageado com o troféu “Destaque do Interior”. Isso na entrega do troféu “Telê Santana”, dia 5 (segunda-feira), no Estádio Mineirão. Promoção da TV Alterosa. Muito merecido o prêmio. Impossibilitado de recebê-lo, o presidente Maurício Cunha escalou este escriba-torcedor para recebê-lo em seu nome. Mas o cerimonial do evento afirmou que apenas o presidente poderia fazê-lo. Até aqui tudo bem. Mas colocar o cronista Toledo, que nada tem com a cidade, e o pior, é mal visto pela torcida grená, foi um gol contra da TV Alterosa, mais bonito do que os gols do Diego Borges.

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 10/2/2018.

([email protected])