# Eustáquio Amaral

JK em Patrocínio: PTC custou só uma lata de jabuticabas!

30 de Junho de 2020 às 19:29

Histórico. Três palavras resumem o fato e a presença de Juscelino Kubitschek em nossa Santa Terrinha. Incrível! Fantástico! Extraordinário! O mais arrojado governador de Minas. O mais progressista de todos os presidentes da República. Muito provavelmente o maior presidente que o País teve até hoje. Em sua vida, política ou não, visitou a cidade em quatro ocasiões. Sempre com alegria, carisma, benefícios e muita história para ser contada. Algumas passagens, como a que envolve o Patrocínio Tênis Clube–PTC, são destaques.

ANTECEDENTES DA HORA DA JABUTICABA – No segundo semestre de 1954, o governador Kubitschek, um dos líderes do paradigmático PSD antigo, visita Patrocínio, pela segunda vez. A primeira (visita) ocorrera por volta de 1950, na campanha eleitoral. Desta vez, veio inaugurar alguns melhoramentos. Entre os quais, a inauguração do Posto de Puericultura (saúde infantil), localizado na Rua Presidente Vargas, quase esquina com Rua Tobias Machado (décadas depois, tornou-se agência do IPSEMG). Acompanhando Kubitschek, algumas autoridades estaduais e o deputado majoritário no Município, José Maria Alkmim. Dr Gustavo Machado, o primeiro pediatra patrocinense, é empossado diretor do posto, referência para as gestantes e crianças, durante essa solenidade.

A HORA ESTÁ CHEGANDO... – Depois de ser recebido com todas as honrarias pelos patrocinenses e ter cumprido sua agenda oficial, a comitiva JK foi à Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio, onde foi servido um revigorante lanche. Entre a liderança política local presente se destaca o prefeito Amir Amaral, o vice-prefeito José Francisco Queiroz, o ex-prefeito João Alves do Nascimento, o vereador Abdias Alves Nunes, Tenente (do Exército) Manoel Amorim. Jovino Silva, o ex-atleta Geraldo Matias de Abreu (Picun), o (super) mecânico Gildo Guarda, enfim todo o comando pessedista. Entre os recepcionistas para o lanche se encontra o grande desportista Nonato Matias Júnior, o folclórico “Natinho”.

A JABUTICABA MAIS VALIOSA... DE PATROCÍNIO! – Em determinado momento, também como bom PSD, Natinho aproxima-se do governador JK e diz:

– Dr. Juscelino, o senhor poderia arrumar verba para Patrocínio construir a sua Praça de Esportes?

– Amigo Natinho, atualmente o Estado passa por dificuldades. Mas, em breve atenderei o seu pedido, respondeu JK.

Natinho, com aquela impaciência que lhe era peculiar, persistente, não desistiu. E insistiu, respeitosamente:

– Dá um jeitinho, faça uma forcinha, governador... A Praça será muito útil aos jovens, que não tem nada na cidade para praticar o esporte.

Nesse instante, o maior político brasileiro olha para um quintal, situado no fundo da Escola (Rua Cesário Alvim), onde estava uma bela jabuticabeira, carregada com negras frutinhas. Como bom negociador, responde:

– Nonato, eu o atenderei de imediato, reprogramando verbas, porém desde que você traga para mim, agora, uma lata de jabuticabas de lá (apontando o dedo).

– Tá certo, Dr. Juscelino. Farei isso pra já.

E o obstinado Natinho desaparece no meio da confraternização.

Natinho foi se encontrar com Hélio Elói dos Santos, proprietário da casa, onde se situa a jabuticabeira. Hélio, escrivão do Crime no Fórum (até os anos 60), irmão do jornalista Sebastião Elói, da Gazeta de Patrocínio. Os três combinam então convidar o governador Kubitschek para ir à jabuticabeira. Pois, é bem perto da Escola. E JK aceitou ir lá, em seguida à confraternização.

A COMITIVA DA JABUTICABA – Segundo a filha do Hélio Elói, Tânia Elói, Natinho, Abdias Alves Nunes, dois seguranças do Governo e a família Elói (José Elói e seus dois filhos Sebastião e Hélio) acompanham Juscelino até à jabuticabeira. Lá se deliciam com a fruta. Naquela oportunidade, o governador JK solicita à Eunice (esposa do Hélio, mãe de Tânia) uma lata para que pudesse levar algumas jabuticabas para sua (esposa) Sara. Certamente, o atencioso Natinho se prontifica a levar a lata de jabuticabas, ao lado do maior governador de Minas.

Em minutos, já de volta à Escola, JK a recebeu das mãos de Natinho, passou para um assessor, e agradeceu:

– Muito obrigado, prezados amigos. Vou entregá-la para a Sara, pois ela gosta demais de jabuticabas.

Naquele momento, Dona Sara Kubitschek se encontrava em outro local da Escola, numa roda de bate papo com esposas dos líderes patrocinenses.

JABUTICABA PRA LÁ, OBRA PRA CÁ – Pouco tempo depois, menos de dois meses, a construção foi iniciada na Rua São João (a Av. José Maria Alkmim foi inaugurada em 1958). O local (terreno) pertencia à chácara de Dona Mulata e ao seu filho Ambrolino. Era um campo cheio de gabiroba e dois pequenos riachos com pequenos peixes. Mais alguns meses após, o prefeito Amir Amaral inaugura a obra tão reivindicada: a Praça de Esportes. Uma piscina, uma quadra para voleibol, uma quadra para futebol de salão/basquete, e um campinho sem grama para “peladas”, e, a sede. A Praça de Esportes, assim chamada, é o primórdio do PTC!

HOJE – O “pé” de jabuticabas, onde o maior presidente do Brasil subiu para chupar algumas e apanhar outras (para Dona Sara), possivelmente ainda está lá. Tânia Elói é a sua mantenedora. É um patrimônio da história.

HORA DO ALMOÇO – Na sequência, a refeição à moda de Patrocínio (à base de carne) é servida à comitiva e a amigos patrocinenses. Como sobremesa o pudim preparado por Violeta Nunes (esposa do Sr. Manuel Nunes) se destaca. Dona Sara a elogia muito e repete a degustação.

HORA DE DANÇAR – À noite, JK e sua gente comparecem no Clube Itamaraty (2º andar, do Edifício do Cine Patrocínio), no baile de gala. Como autêntico “pé-de-valsa”, conhecido no País, a começar como seresteiro em Diamantina, Juscelino parte logo para o salão. Dança com Iolanda Brasil, esposa do juiz de Direito José Pereira Brasil. E depois, com a jovem Gilca Carvalho, a moça mais cobiçada de Patrocínio. E a mais bonita do baile. Segundo Gilca (hoje, residente em Belo Horizonte), o Presidente conduziu a dança com esplendor.

JK A CAMINHO DA PRESIDÊNCIA – Em 1955, Kubitschek ainda como governador, esteve no Município pela terceira vez. Naquele dia, em campanha eleitoral, no comício realizado em cima de uma carroceria de caminhão FNM, estacionada na Praça Honorato Borges (Rua Presidente Vargas), e com imenso público vibrante, disse no final de seu eloquente discurso, sob elevada temperatura:

– Diante desse sol abrasador do sertão, despeço-me carinhosamente, agradecendo o calor de todos os patrocinenses... gente de meu coração...

ÚLTIMA VISITA – Depois de ser laureado como o melhor prefeito de Belo Horizonte, melhor governador de Minas e melhor presidente do Brasil, JK coloca os pés novamente na cidade, como simples promotor de vendas de tratores. Na inauguração da loja comercial, que representava a marca na região (Av. Rui Barbosa), o cassado JK (o Governo Militar tirara os seus direitos políticos), no início da solenidade avista o seu velho amigo pessedista Abdias Alves Nunes, bem atrás dos presentes. E diz, em tom um pouco mais alto:

– Prezado Abdias!.. Venha. Venha para cá. Sem você, a festa não pode começar. Não há festa (...risos da plateia).

FINAL – Dois anos depois, faleceu, em inexplicável acidente de seu Opala-Chevrolet, que desgovernou e chocou, na outra pista da Rodovia Presidente Dutra, com uma carreta. Isso em 22/8/1976. Há hipótese que foi atentado político.

FONTES DA CRÔNICA – Cartas endereçadas a este escriba pela prof.ª Dulce Nunes Castro e Tânia Elói, há algum tempo. Antigos depoimentos verbais do saudoso Natinho (responsável direto pela conquista) e do também saudoso Júlio Barros, testemunha ocular dos fatos e, autor de uma das versões (no caso, do Júlio, além, há manuscrito dele). E o acervo particular deste autor. Há duas versões similares, mas a essência é idêntica. A diferença é que uma fala em comício na Praça da Matriz. A outra, em confraternização na Escola Normal.

Primeira Coluna publicada em 6/6/2020.

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