# Eustáquio Amaral

Junhos Que Se Foram...

13 de Agosto de 2018 às 17:36

Calendário. Nesta série histórica, o ciclo dele está concluído. Mês a mês, importantes acontecimentos rangelianos foram lembrados em seus respectivos meses em que aconteceram. Claro, meses de outrora. Agora, desfila o último mês do primeiro semestre, que completa 12 meses de publicação. Um polonês foi um dos primeiros ciclistas da cidade. Em 1972 faleceu o poeta maior. Nomes das praças tradicionais. A fundação da Santa Casa dentro da igreja. O espetacular Patrocínio Esporte Cube. A morte de um mestre da geografia, francês, teatro e música. Cenas de 1982 e 1979. Uma história do incrível Padre Caprázio. A primeira padaria. E onde começou o futebol em Patrocínio. Um pouco disso e mais lances patrocinenses que o tempo levou.

1880: PRECURSOR DE ANTÔNIO CONSELHEIRO – Surge em Salitre (hoje Salitre de Minas) um grupo de fanáticos religiosos. O líder é chamado de Pai ou Padre Eterno. A fazenda do Capão torna-se a sede do movimento. O negro José Antônio de Souza é o nome verdadeiro do Pai Eterno, que foi vencido pelas lideranças políticas de Patrocínio. Esse fenômeno social e religioso repetiu-se em Canudos mais tarde, com significado para a história do Brasil, tendo o monge Antônio Conselheiro o seu personagem central.

COMEÇO DO SÉCULO XX: PADARIA – Em uma esquina da Rua do Cavaco (hoje, esquina das ruas Professor Olímpio e Paula Arantes), funciona a primeira padaria convencional de Patrocínio: Padaria Nápoli. Provavelmente, de uma pessoa de origem italiana.

1918: COMEÇO DO FUTEBOL – Desde o final do século XIX, o “football” é praticado no Brasil. Em Patrocínio, a partir de 1918, é jogado no Largo da Matriz (igreja com duas torres), nem sempre com onze jogadores. O time principal é chamado de Patrocinense. Mais tarde, já jogando no Largo do Rosário (hoje Praça Honorato Borges), surge o Ypiranga E. C.

ANOS 20: LARGOS – Nos anos 20 as praças públicas são chamadas de largos. O Largo da Cadeia (depois Praça Tiradentes) foi o primeiro a aparecer no século XIX (hoje estão localizadas as casas populares construídas na década de 60). Há também o Largo da Matriz (depois Praça Matriz e Praça Monsenhor Tiago), o Largo do Rosário (depois Praça Honorato Borges) e o Largo de Santa Luzia (depois Praça Santa Luzia). Na verdade, o Largo do Rosário é maior do que a futura Praça Honorato Borges, pois o Grupo Escolar Honorato Borges é construído dentro do Largo, sendo inaugurado em 1928. O Largo de Santa Luzia é também maior do que a futura Praça Santa Luzia. Em ambos, existem campos de futebol e até de basquetebol (no Largo de Santa Luzia não tinha o quarteirão onde estão o Hotel Santa Luzia, ex Cine Patrocínio e a então Casa São Paulo. O largo ia até a rua Governador Valadares).

AINDA NOS ANOS 20: BICICLETA – Uma das primeiras bicicletas de Patrocínio é de propriedade de Paulo Polonês. Como especialista, é vendedor de gravatas (gravata era muito usada nessa época). Fala-se que seu país de origem é a Polônia mesmo.

JUNHO DE 1924 – Na Igreja Matriz de N. S. do Patrocínio, acontece a primeira reunião, visando a fundação da Santa Casa de Misericórdia, dia 1º. Na segunda reunião, dia 8, é indicada a diretoria inicial. Na sua composição, são registrados nomes de patrocinenses como os de Tobias Machado, José Eloy dos Santos, João Cândido de Aguiar, Joaquim Dias, Dr. Gustavo Machado, José Luis da Silva, Nelson Caixeta de Queiroz e Padre Joaquim Tiago dos Santos.

ANOS 60: IMPÉRIO DO D. LUSTOSA – Padre Caprázio é o competente e severo professor de Química. Não admite molecagem nem falta de estudo da matéria. Certo dia, o aluno Fernando faz “gracinhas” na aula e é repreendido pelo mestre:

Você... está falando muito... e não sabe nada... da matéria. Faz dez cópias da página 23 (do livro) para amanhã...

– Tá bom, padre – responde Fernando.

No outro dia:

Ferrrnnaannddoo e as cópias?

Ah! Esqueci...

Então para amanhã, agora é o dobro. Faça 20 cópias...

No terceiro dia, a cena se repete e o padre-professor volta a dobrar, passando para 40 cópias. Quando o débito de cópias chega a 1.280, o aluno procura o diretor para ajudá-lo. Nessa altura é impossível fazer tantas cópias em 24 horas. Nem com ajuda de muitas pessoas. O jeitoso professor Franklin, então na direção da escola, consegue convencer Caprázio a reduzir a punição.

Próxima aula... Fernando... traga 30 cópias, senão é zirooo na provaaa.

No dia seguinte, o estudante entrega as cópias, algumas com letras diferentes, mas o padre não percebe (Fernando D’Ávila foi fazendeiro, residente na Rua Cesário Alvim, padre Caprázio foi sacerdote da Igreja São Francisco e professor Franklin Botelho, autor da linda valsa “Serenata”, morreu em 18 de junho de 1981.).

1965: CORAGEM – Na Gazeta de 27 de junho de 1965 se lê: “Engodo não é do nosso feitio, pois não somos demagogos nem saltimbancos... Fazemos a defesa de nosso povo sem interesse pecuniário que, antes, é peculiar, sempre a quem gosta de explorar o povo.” Esta linha de combate era a coluna “Cobras e Lagartos”, a mais destemida já escrita na imprensa patrocinense, de autoria de Sebastião Elói.

JUNHO DE 1968 – No dia 23, o Patrocínio E. C. vence o Mamoré de Patos de Minas por 5 a 0, no Estádio Júlio Aguiar. Dias antes, tinha vencido o São Vicente, de Patos, por 9 a 0; o Tupi, também de Patos, por 1 a 0 e o Paranaíba, em Carmo do Paranaíba, por 2 a 1. Está sendo disputado o Campeonato Mineiro da Segunda Divisão, Zona Triângulo.

JUNHO DE 1969: VEREADOR – Dia 29, morre na cidade Gervásio Marques da Silveira, aos 65 anos, membro da emblemática UDN. Tradicional proprietário de máquinas de beneficiar arroz e vereador por quatro mandatos sucessivos, a partir de 1950.

1970: CENÁRIO COMERCIAL – A imagem da televisão não é boa. O Cine Patrocínio e o Cine Rosário estão em plena atividade, com exibições de filmes diariamente. O Banco do Brasil está na Praça Santa Luzia (hoje é uma loja de instrumentos musicais) desde a década de 50. Entre outras lojas, destacam-se a Vidraçaria São Jorge, Casa da Louças, Casa Facury, Carpal (revendedor Volkswagen), Automig (revendedor Ford), Sapataria do Pixe (da União Operária), Padaria N. S. Auxiliadora (Rua Cassimiro Santos), A Brasileira e Farmácia Santa Terezinha ( Praça Honorato Borges). A Associação Cultural dos Estudantes (ACEP) tem até programa na Rádio Difusora, apresentada por estudantes como José Maria Campos e Joaquim Machado (JP).

JUNHO DE 1978: FUTEBOL – “A grandeza e o desenvolvimento de nossa comunidade exigem futebol em qualidade e não em quantidade”. Trecho da Primeira Coluna, “Jornal de Patrocínio” de 13/6/1978, que analisa o triste futebol patrocinense, onde apenas evidencia a proliferação de pequenos clubes amadores. Aí está lançada a semente para o retorno do Clube Atlético Patrocinense ao profissionalismo.

1979: GENTE – Everardo Bougleux se destaca nas cobranças de falta pelo CAP. É considerado o Nelinho de Patrocínio. XXXX Os professores estão em greve devido à baixa remuneração. XXXX O colunista Eduardo Fekete, o “Sentinela Popular”, pede pontos de parada de ônibus nas vias urbanas. XXXX Morre “Costela”, folclórico motorista do Expresso União nos anos 60, na linha Patrocínio-BH (hoje, seu filho trabalha no Rato) XXXX DER promete ao prefeito Afrânio Amaral a pavimentação do acesso à Minasil (Patrocínio já teve uma indústria de seda!).

1981: PROFESSOR – No dia 18 de junho,  morre Franklin Botelho, em Patrocínio. Nascido em Paracatu, em 1907, veio para Patrocínio dedicar-se ao magistério, nos anos 30. Professor Franklin tornou-se um dos professores mais queridos dos estudantes nos anos dourados. Entre as marcas que deixou, está a linda valsa “Serenata”, composta em Patrocínio (“Oh! Que noite tão calma de lua, quanta paz e amor... um violino soluça na rua...”). Professor de Francês, Geografia e Canto Orfeônico. Foi diretor do Ginásio Dom Lustosa e do Colégio Professor Olímpio dos Santos. Também foi músico, radioamador, anedotista e teatrólogo. É autor da peça “ A Incrível Genoveva”. No final da década de 50, foi um dos primeiros compradores do pequeno automóvel Dauphine, da Willys, na revendedora Autocar.

1982: CENAS – Morre o ex-promotor público Dimas Rezende Monteiro, aos 77 anos. XXXX Dia 15 de junho Patrocínio tem 22.822 eleitores. XXXX Oscar Carlos da Silva é o presidente do Sindicato Rural. XXXX Maurício Barros, de origem humilde e residente do bairro São Vicente, é aprovado no concurso de juiz de Direito, obtendo o 11º lugar em Minas Gerais (mais tarde, foi presidente do TRE/MG e aposentou-se como desembargador. Hoje é advogado em Patos de Minas).

1988: POESIA – É lançado o livro “A Poesia de Massillon Machado” em Belo Horizonte. Certamente, entre os maiores poetas de Patrocínio, que são poucos, o lírico Massillon Machado nasceu em 4 de novembro de 1899 e faleceu em 26 de junho de 1972 (residiu na Rua Cassimiro Santos).

Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 7/7/2018.

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