Viagem. Como é bom fazê-la pelo tempo. O que foi a Churrascaria Alvorada, o ancião ciclista de Patrocínio que encantou os jornais de BH, a época do emblemático Cine Patrocínio, a calunga, a história das ruas, o patrocinense amigo de um astro inesquecível de Hollywood e momentos de outrora da Rádio Difusora. Um pouco disso e outras recordações fazem bem à saúde e ao espírito.
ANOS 30: DENOMINAÇÕES DE LOGRADOUROS – As principais ruas/praças da cidade recebem nomes de santos. Entre as quais Rua São Miguel (hoje, Cassimiro Santos), onde se localiza a então principal zona boêmia da cidade; Rua São Vicente (hoje, Rua Artur Botelho), Rua São Benedito (ainda existe), Largo de Santa Luzia (hoje, praça) e Largo da Matriz (hoje, Praça Monsenhor Tiago). Por fim, Rua Direita (Rua Cesário Alvim), Rua do Cisco (Rua Prof. Olímpio dos Santos) e Rua do Cascalho (Rua Secundino Faria Taváres).
1935: RUA DE ARTES – Na vizinhança da casa onde Tião Elói residiu e fez a Gazeta de Patrocínio por algumas décadas (Rua Gov. Valadares), houve um teatro, segundo ele. Nos anos 20 e 30, a Rua 7 de Setembro (hoje, Rua Governador Valadares), atrás da Igreja Matriz, era chamada de Rua do Teatro, onde peças, recitais e musicais de patrocinenses eram apresentados. Depois de algum tempo, o teatro desapareceu e o casarão foi vendido para o senhor Bernadino Machado, que faleceu em maio de 1936. Bernadino foi delegado de polícia, fazendeiro e um dos fundadores do Asilo São Vicente de Paulo (hoje, onde foi o teatro, está o trecho da Rua Afonso Pena, que liga a Rua Governador Valadares e o Asilo. O casarão foi derrubado na década de 40 para abertura da rua (como se vê, a mania de destruir marcos históricos é antiga).
ANOS 40: ALTERAÇÃO DE NOMES – As duas principais ruas da cidade mudam de nome. A Rua 7 de Setembro passa a ser Rua Governador Valadares. E a Rua 15 de novembro passa a ser Rua Presidente Vargas. A mudança é em atendimento a um decreto do ditador presidente Getúlio Vargas, que determina que em cada cidade deve ter os nomes do presidente e governador (Getúlio Vargas e Benedito Valadares) em logradouros públicos.
1963: CINEMA – O luxuoso Cine Patrocínio apresenta muitas emoções no final de semana. Sábado, dia 25 de maio, o (eterno) Rei do Rock, Elvis Presley, no filme “Coração Rebelde”, em cinemascope (técnica de tela inteira), em duas sessões, às 18h15min e 20h30min. No domingo, dia 26 de maio, Doris Day, Rex Harrison e John Gavin protagonizam o surpreendente “A Teia de Renda Negra”. (O Cine se situava na Praça Santa Luzia e pertencia à família Elias).
AINDA MAIO DE 1963: CENAS INESQUECÍVEIS – O vaivém (desfile circular das meninas moças perante aos seus estáticos adolescentes admiradores) acontece nas noites de sábados, domingos e feriados, entre 19 e 21 horas. O serviço externo de som do Cine Patrocínio faz o fundo musical na Praça Santa Luzia. Entre as músicas mais tocadas e ouvidas estão “La Paloma”, “Aquarela do Brasil”, “Quando Setembro Vier” e outros sucessos com a orquestra de Billy Vaughn; “Besame Mucho” com a orquestra de Ray Conniff; “Normalista” com Nelson Gonçalves e “Perfume de Gardênia” (e outros boleros) com o cantor cubano Bienvenido Granda. Momentos bonitos e indeléveis que jamais se apagarão da memória daquela gente formosa e saudável dos anos 60 (hoje, em torno de 70 anos de idade). Neste cenário, é anunciado em cartazes o filme “Desafio à Corrupção” com Paul Newman (posteriormente, em Nova Iorque, este super astro, tornou-se amigo do patrocinense João Borges Alves, nos anos 80/90). A exibição está programada para o dia 30 de maio, em duas sessões.
1965: MARCO DOS ANOS DOURADOS – “Foi iniciada a reforma total das dependências da Churrascaria Alvorada. Lúcio Ribeiro (Casa Ribeiro) com o seu bom gosto promete uma pintura sóbria e agradável para o salão de visitas da cidade.” É o que diz o cronista-radialista Sérgio Anibal (hoje, empresário em Salvador/BA) em sua coluna social Passarela, de 30 de maio de 1965, publicada no então Jornal do Comércio (diretor: Leonardo Caldeira) e na Gazeta de Patrocínio (de Sebastião Elói).
1978: MANCHETES – A Rádio Difusora, a Gazeta de Patrocínio e o Jornal de Patrocínio defendem ardorosamente a indicação de um patrocinense para candidato a deputado estadual. XXXX O Expresso União inaugura a linha de ônibus Montes Claros-Patos-Patrocínio-Uberlândia. XXXX O incrível José Mendes (aposentado do Fórum, sogro do ex-atleta Gulinha do CAP-63, falecido nos anos 90), então nos seus 86 anos de vida, continua pedalando sua bicicleta pela cidade e preparando sua 68ª romaria ininterrupta à festa de N. S. da Abadia (Romaria). Um recorde. Zé Mendes foi focalizado algumas vezes pelos jornais de BH. XXXX Telemig (empresa de telefonia) instala 2.080 terminais telefônicos e o sistema DDD (Discagem Direta à Distância), a grande novidade em Patrocínio (celular apenas surgiu 20 anos mais tarde).
MAIO DE 1979: DESENVOLVIMENTO – O Governo do Estado sinaliza a agroindústria para a região de Patrocínio. A “Primeira Coluna”, do Jornal de Patrocínio, demonstra com argumentos técnicos que o Município tem todas as condições para a implementação. E mais, é a principal alternativa rumo ao progresso patrocinense. No “Jornal Síntese”, aos sábados, às 12 horas, a Primeira Coluna é apresentada também no rádio. Vozes: Luiz Antônio Costa e José Maria Campos, na Difusora.
1980: COMUNICAÇÃO DOS ESCRAVOS – Nos meados de maio, os escritores e pesquisadores Carlos Vogt (Unicamp) e Peter Fry (UFRJ) visitam Patrocínio em companhia do intelectual patrocinense, residente em São Paulo, Gerson de Oliveira (falecido há vinte anos, membro da Academia Patrocinense de Letras, é considerado uma das mais brilhantes inteligências rangelianas). O objetivo da visita é estudar a presença do dialeto calunga, de origem africana. Entre os entrevistados pelos três escritores estão José Delfino – “Cabrera” (pai da folclórica torcedora do CAP, Denga), filho adotivo da líder negra Dona Liquinha, especialista na calunga. E mais, Inácio Francisco de Souza (Inácio Verdureiro, pai do então colunista Cecílio de Souza), Joaquim Ferreira (lavrador), jornalista e historiador Sebastião Elói, José Astrogildo e o lavrador Ildefonso (em dezembro de 1996, a pesquisa foi transformada no livro “Cafundó, a África no Brasil”, editado pela Unicamp. A obra merece ser consultada).
MAIO DE 1984: CENAS DO COTIDIANO – Prefeito Amâncio Silva confirma TV Manchete em Patrocínio. XXXX Rotary Clube inaugura sede na Av. Dom José André Coimbra. XXXX Assis Filho, narrador esportivo titular da Difusora, narra Cruzeiro e Uberlândia, campeonato mineiro, para a Rádio Capital de Belo Horizonte. XXXX Corrida da Fogueira voltará a ser disputada, com entusiasmo. A memória de seu criador, Custódio Matias será homenageada. XXXX Rodovia Coromandel-Patrocínio está sendo asfaltada. XXXX Primeira Coluna, do Jornal de Patrocínio, insiste, outra vez, na instalação do Matadouro Municipal. E também na 2ª Vara Cível da Comarca. XXXX Luiz Antônio Costa é operado em BH. “Calo” nas cordas vocais. XXXX Prefeito e vereadores (alguns) protagonizam a briga de palavras. Denúncias e inquérito policial fazem parte do cotidiano. XXXX O ator Bruce Lee é a atração na tela do Cine Patrocínio. XXXX Rádio Difusora (Luiz Antônio Costa) e Jornal de Patrocínio (Eustáquio Amaral) comandam movimento, visando o retorno do futebol profissional em Patrocínio, porque o futebol patrocinense está no marasmo.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 9/6/2018.