Divertido. As boas lembranças são assim. Mais três populares do folclore rangeliano e as atrações radiofônicas dos anos dourados, quando a televisão era desconhecida na cidade, estão na passarela do tempo.
ANU – Patrocínio sempre foi rica em figuras folclóricas. Os anos 50 e 60 foram a época do mais polêmico deles, provavelmente. Cor clara, barba acentuada, estrutura em torno de 1,73m, talvez 70 kg, olhos azuis como o infinito, um velho chapéu Ramezzoni na cabeça, calça e paletó de brim remendados. Cinto segurando a calça sem passar pelas alças e pé no chão. Assim era o perfil do Anu. Do inesquecível Anu que levava as crianças e os adolescentes ao delírio e as moças e senhoras ao pavor, por meio de um repertório de palavras impublicáveis. Aquele personagem pobre metido a rico, do programa de TV “A Praça é Nossa”, muito lembra Chico Cabo, nome que gostava de ser chamado. Mas por uma dose de aguardente tolerava até ser chamado de Anu, a chave para provocar sua reação hilariante. Seu ambiente preferido era a região do Dom Lustosa, Praça da Matriz, Rua Cassimiro Santos e adjacências da Santa Casa. Cenas como aquelas em que proferia a sua proibida oratória, ao ouvir alguém do Ginásio Dom Lustosa gritando A-N-U, justamente no término da aula da Escola Normal, pertencem às alegres páginas da história da cidade. Imoral para alguns, genuíno para muitos, homem show para todos, Anu deixou saudade. Morreu na década de 70 como morrem os passarinhos. Em silêncio. Na paz celestial.
ZÉ PIPOQUEIRO – Patrocínio não tinha ainda televisão, mas já conhecia os seus trapalhões. “Biscoito”, “Budirda” e o líder “Zé Pipoqueiro” provocavam gargalhadas nas pessoas que os cercavam. Zé Pipoqueiro, 1,65m de altura, cor branca, cabelos pretos, 55 quilos, defeito físico nas mãos e nos pés, residiu primeiro na Rua Artur Botelho, depois na Avenida José Maria Alkmim, próximo à Santa Casa. Com o seu carrinho de pipocas, era presença constante nas adjacências do cinema e das igrejas, quando de festas. Os morenos “Biscoito” e “Budirda” foram seus amigos inseparáveis. A cena do Zé Pipoqueiro empurrando seu carrinho e discutindo com eles pelas ruas da cidade é antológica. A história do Zé Pipoqueiro ocorreu nas décadas de 50 e 60. Anos depois, os três faleceram.
MELITO – Para muitos, o maior vaqueiro de Patrocínio. Trabalhou mais em troca de comida e pinga do que por dinheiro. Ia e voltava cavalgando de Barretos (SP), o seu destino frequente. Peão de primeira classe, esse negro forte, 1,70m de altura e humilde, residiu na Rua Artur Botelho, ao lado da primeira Estação Rodoviária. Em suas andanças pela cidade, após beber algumas doses de cachaça, e isto era o normal, o alegre Melito dizia ao ver uma bonita mulher, mantendo o necessário respeito: “...cheirosa... gostosa... orgulhosa... deixa istá... sô preto... feio...” E ia embora, dando saborosas gargalhadas. Que ainda soam pelos lugares que passou, apesar do tempo. Melito escreveu com seu estilo algumas páginas do folclore patrocinense nas décadas de 40, 50 e 60. Faleceu há 50 anos.
RÁDIOS BRASILEIROS – Os programas de rádio de maior audiência em Patrocínio na década de 50 foram o “Repórter Esso” (8h, 12h:55min, 20h:25min e 22h), a novela das 20h, “Balança Mas Não Cai”, “No Mundo da Bola” (18h:45min) e o “Programa Paulo Gracindo” nos domingos. Todos da Rádio Nacional–Rio. Da Rádio Mayrink Veiga destacaram–se o “Miss Campeonato” (humorístico), “Peça Bis pelo Telefone” e “Hoje é Dia de Rock” (18h). Da Bandeirantes–SP, “Placar Bandeirantes do Sucesso” e as “Jornadas Esportivas” com Edson Leite e Pedro Luiz. Da Tupi–SP, o “Programa Barros de Alencar” e da Tupi–Rio, “Ave Maria” com Júlio Louzada (18h).
RÁDIO DIFUSORA (I) – “Você faz o Programa” era apresentado pela Rádio Difusora, ZYW–8, no final da década de 50, às 19h (A Voz do Brasil ia ao ar só de 19h:30min às 20h). O ouvinte pedia o sucesso por carta ou telefone.
RÁDIO DIFUSORA (II) – O domingo patrocinense era marcado pelas Santas Missas, macarrão e frango no almoço, matinê com seriados no cinema às 14h. Muitas vezes futebol apaixonante, exibição de filmes à noite e pelo programa “Frente Patrocinense de Reportagem”, de 12h às 13h, com Pedro Alves do Nascimento. Era imperdível. Esse perfil dominical refere–se aos anos 50, 60 e parte dos 70.
RÁDIO DIFUSORA (III) – A primeira emissora patrocinense apresentava, a partir de 14h, o programa “Parabéns a Você”. Os comerciais eram lidos pelo locutor e a música oferecida pelo ouvinte a um aniversariante. A música era paga pelo ofertante, Cr$ 5,00 (cinco cruzeiros velhos). E gravada em discos de 78 rotações (primeiros discos de vinil de gravação). Por ele começaram José Maria Campos, Leonardo Caldeira, Petrônio de Ávila, José Frazão e outros astros do rádio patrocinense. Isso há mais de 50 anos.
MÚSICA VIA RÁDIO (I) – Nos anos 40, entre as músicas de maior sucesso em Patrocínio destacaram–se “Cerejo Rosa” com diversas orquestras, as guarânias “Meu Primeiro Amor” e “Índia” com Cascatinha e Inhana, o rasqueado “Beijinho Doce” com as Irmãs Castro e a toada “Luar do Sertão” com Tonico e Tinoco. Rádios Record, Bandeirantes eram as preferidas.
MÚSICA VIA RÁDIO (II) – A música mais tocada no Município, no período 1960–1965, foi “La Paloma” com a orquestra de Billy Vaughn, inclusive foi prefixo musical do Cine Patrocínio na Praça Santa Luzia. Em seguida, “Besame Mucho” com a orquestra de Ray Conniff, também sucesso marcante nas festas dançantes realizadas em residências na cidade.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 3/12/2016.