MÁRIO PALMÉRIO
Recentemente, reli o livro VILA DOS CONFINS de autoria de MÁRIO PALMÉRIO. Por incrível que pareça o enredo ainda é atual, embora tenha sido escrito há 62 anos. Uma obra com notas prefaciais de ninguém menos do que Rachel de Queiroz “ ..A impressão de que ele nos
entrega para ver, na sua integridade primitiva , aquele Rio, aquela mata, aqueles bichos,
aqueles caboclos, aquelas, história de caçada e pescaria, Que parecem histórias de
mentirosos, De tão saborosa poesia de floresta e rio”.
Cada personagem! Meus favoritos:O admirável caçador e contador de causos ,Padre Sammer. Também o herói improvável, Xixi Piriá. Mas, o personagem principal de Vila dos Confins é o deputado federal Paulo Santos, em meio ao "tempo escaldante" de uma primeira eleição. Um político experiente, mas já cansado daquela vida de disputas partidárias: em um trecho, chega a abandonar a reunião de diretório para se esbaldar em uma delirante pescaria. Mas à pedido dos companheiros da União Cívica, passa a percorrer o município para articular a candidatura do correligionário João Soares à prefeitura da cidade. Sua estratégia era convencer pessoas influentes do vilarejo a apoiarem a coligação de seu candidato, colocando seus próprios nomes na disputa pelos cargos de vereadores. E é aí que a política sertaneja começa a esboçar os primeiros indícios da brutalidade de seu pragmatismo.?
Seu opositor , coronel Chico Belo, joga pesado e sujo. Busca manter a região do recém-criado município de Vila dos Confins sob o seu mando... No final, o enredo-denúncia da guerra pelo poder: "Compraram o meu pessoal, deputado! Mais de trinta! Quis acudir, mas foi tarde. Graças a Deus, eu tinha recolhido a maioria dos títulos. Se não, ia tudo de embrulho... Deram dez contos para o Armando da Várzea Limpa. Dez contos por oito eleitores! Soltaram dinheiro mesmo. Mas o pior foi que tive de prometer também; caso contrário, nem a metade embarcava nos caminhões. Estamos perdidos..."
Poderia exaltar mais este primoroso livro, mas nesta oportunidade, desejo externar minha profunda admiração pelo autor. Uma vida dedicada a educação, política e literatura. Se tivéssemos dez homens deste em nossa região a realidade seria outra. Como Uberaba lhe deve! (Sim. E Uberlândia, também, apesar de, num período história, foi tido como "inimigo número um" da "Capital do Triângulo"!) ..Um mito Regional:
QUEM FOI MÁRIO PALMÉRIO
Mário de Ascenção Palmério nasceu em Monte Carmelo/MG, em 1º de março de 1916, e faleceu em Uberaba/MG, em 24 de setembro de 1996.
Professor, romancista, político, compositor e musicista, Mário Palmério foi um grande visionário na área da educação.
Em uma época em que poucos tinham a oportunidade de estudar, ele abriu escolas no interior de Minas Gerais, em Uberaba, com a intenção de democratizar o ensino.
Palmério começou a vida de educador, professor de matemática,na época que se mudou para a capital paulista para fazer o magistério secundário. Em 1939, ingressou na seção de Matemática da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo e passou a lecionar no Colégio Universitário da Escola Politécnica.
Ao voltar para Uberaba, Mário Palmério e a irmã Maria Lourencina fundaram o Liceu do Triângulo Mineiro, oferecendo poucos cursos: um cursinho de madureza, um preparatório para carreira bancária e um Curso para Exames de Admissão. Mas rapidamente, o Liceu se estruturou e passou a oferecer um curso primário e, um ano depois, obteve a autorização federal para a criação de um curso secundário, surgindo o Ginásio Triângulo Mineiro.
Em novembro de 1947, o Ginásio do Triângulo Mineiro recebeu autorização para o funcionamento da Faculdade de Odontologia. E eleito deputado federal pelo primeiro mandato, Mário Palmério fundou em 1951 a Faculdade de Direito, sendo também um dos grandes responsáveis pela implantação da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM) , no ano de 1954. Dois anos depois, em 1956, Palmério fundaria a Escola de Engenharia.
No ano de 1972, a instituição passou a se chamar Faculdades Integradas de Uberaba (FIUBE) e devido à grande demanda de cursos de graduação, fez-se necessário a criação de um novo complexo de edifícios que formaria o Campus II da Fiube, inaugurado em 1976.
A Fiube incorporou em 1981, as Faculdades Integradas Santo Tomás de Aquino (Fista), outra importante instituição de ensino superior de Uberaba. Sete anos mais tarde (1988), a Fiube alcança uma grande conquista, consegue a autorização do Ministério da Educação para se transformar em Universidade de Uberaba (Uniube).
Mário Palmério seguiu carreira política entre os anos 1950 a 1958 como Deputado Federal, fundando o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de Uberaba.
Na Câmara foi vice-presidente da Comissão de Educação e Cultura e na reeleição passou a integrar a Comissão de Orçamento e a Mesa da Câmara.
Em 1958, o deputado reelegeu-se pela terceira vez. Doze anos depois, Mário Palmério candidatou-se à prefeitura de Uberaba, não sendo eleito.
Em setembro de 1962, assumiu a Embaixada do Brasil no Paraguai, nomeado pelo então presidente, João Goulart, deixando o posto em 1964. Neste período, Mário Palmério se revelou como compositor de música popular cantada em espanhol, tendo como o seu maior sucesso, “Saudade”, que foi interpretada por músicos como Fagner e Joanna.
Em 1969, Mário Palmério partiu sozinho para Manaus, onde construiu um barco, o Frey Gaspar de Carvajal , no qual viveu navegando, por 10 anos, por rios e igarapés da região, registrando as realidades socioculturais dos povoados indígenas, o trabalho dos mineradores, seringueiros e militares. Devido a problemas de saúde, retornou a Uberaba.
Outra atividade que exerceu foi a de escritor. Seus principais livros são: Chapadão do bugre (1966) e Vila dos Confins (1956)- um dos maiores best-sellers da literatura brasileira- que retratam a vida dos moradores do interior de Minas Gerais e ainda o romance O Morro das Sete Voltas, que deixou por publicar.
Suas obras literárias o levaram a ser eleito para a Academia Brasileira de Letras (1968), ocupando a cadeira de número 2, que pertencera a Guimarães Rosa, em 4 de abril de 1968.
Devido o seu amor pela terra natal, Mário Palmério trouxe para nossa cidade o Campus VI da Uniube, em 1990, oferecendo os Cursos de Administração de Empresas e de Pedagogia.
Antes de falecer, o ilustre filho de Monte Carmelo manifestou grande vontade que o campus fosse doado ao povo de Monte Carmelo, transformando o Campus VI da Uniube em uma Fundação, a qual levaria o seu nome. Dessa maneira, em 1997, o Campus da Uniube de Monte Carmelo transformou-se em Fundação Carmelitana Mário Palmério- FUCAMP, iniciando suas atividades no ano de 2000, deixando assim esse grande legado para a cidade onde nasceu.Transformando-a em referência da educação Ensino Superior na região, oferecendo hoje doze Cursos Superiores, todos muito bem avaliados pelo MEC.
Mário Palmério era casado com D. Cecília Arantes Palmério. Teve dois filhos, Marcelo (Atual Reitor da UNIUBE) e Marília.
Quarto ocupante da cadeira 2, foi eleito em 4 de abril de 1968, na sucessão de Guimarães Rosa, e recebido pelo acadêmico Cândido Mota Filho em 22 de novembro de 1968.
Faleceu em Uberaba/MG, em 24 de setembro de 1996.
No discurso de sucessão de Mário Palmério, na ABL, o Acadêmico Tarcísio Padilha, fez uma justa dobradinha: "Dois mineiros, Guimarães Rosa e Mário Palmério. O primeiro é escritor pela graça de Deus. Simplesmente não lhe sobejava um palmo decisório na contracorrente de seu múnus natural. Daí o isolamento e aprofundamento de seu ser. Mário Palmério revela pendor marcante para o convívio e para a ação. Guimarães Rosa vislumbra no conhecimento uma forma de ação, a ação da inteligência. Isso porque não se sentia atraído por qualquer forma de dispersão. Mário Palmério se lança com ímpeto quase juvenil a empreendimentos concretos a serem implantados na terra dos homens.
"As duas vertentes da mineiridade literária reafirmam a fecundidade da alma dos patrícios que, das Alterosas, ganharam o País com a riqueza de seu legado. E, hoje, alegra-nos o ensejo de entremostrar nos dois exemplos o quanto o Brasil deve aos seus irmãos mineiros."