Em meio a este pandemônio pandêmico todo; em meio a loquidau, cepa, variante, onda roxa, novo normal; em meio a coronaVac, cloroquina; use máscara, use álcool; em meio ao fique em casa para não morrer de corona; vai trabalhar para não morrer de fome:
Celebro neste dia 05/3 meus 6.0.
Anos que me passaram despercebidos.
Um menino da localidade de Barra do salitre, tomou o colo de sua irmã mais velha, mas rapidinho outra irmã lhe tomou o colo. Foi assim que nasceram os sete filhos de Sr Lourival/ Dona Adelina, em primeiro casamento e Luzia em segundo. E Flávio, Fábio, Juliano, se fizeram também Magalhães e são muito bem- vindo na prole.
Foi ontem que de calça curta, buscava os bezerrinhos na invernada para meu avô Benedito Souza.
Foi ontem que cantava com irmã Conceição e meus coleguinhas da Escola Cel. João Cândido Aguiar: " Fica sempre um pouco de perfume, mas mãos que oferecem rosas"
Foi ontem que estudava karatê na academia Ken bu kan, inspirado em Bruce Lee, treinava o dia todo com o Geraldinho da Dona Carmem, "para que ninguém me vencesse numa briga"
Foi ontem que vendia Planos de Seguro Funerário na Funerária Irmãos Pagliaro nas ruas de Uberaba.
Foi ontem que conheci os cantores Ricardo Braga, Diana Pequeno, Antônio Carlos e Jocafe, Geraldo Nunes, no estúdio da gravadora RCA Victor em São Paulo.
Foi ontem que levei minha namorada Solange para conhecer a Casa da Cultura.
Foi ontem que um vendedor de picolé, analfabeto, por nome Gilmar, um velho índio da igreja Assembléia de Deus, me nocauteou falando do Evangelho.
Foi ontem que passei a noite em claro, extasiado, olhando os traços de minha recém-nascida filha no berço.
Foi ontem que comprei uma bicicletinha para meu filho e o saudoso Sr. Gaspar Balbino dono da loja, fez questão de ir pessoalmente entrega-la. Desde então era meu companheirinho para juntos andarmos pela cidade.
Foi ontem que enfrentei e convenci Sr Zé Amorim a dar meu primeiro emprego de carteira assinada.
Tudo parece que foi ontem...mas não foi...
Ela vem para todos. Sim, estou falando da morte. Hoje mais do que nunca, somos obrigados a conviver com ela. Sentimos seu hálito forte bem na nossa nuca. Um vírus que estava láá na china, está dentro de nossas casas. Leva cristão e ateus; santos e pecadores; eu e você.
Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. “Muita gente já morreu nessa casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição. Voltou a ele e disse: “O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a única pessoa que sofria nas mãos da morte”
A coisa não está as mil maravilhas para o meu lado, mas entendo que há gente em piores condições no mundo.
Bem...falando na "madame do gorro preto”, essa vagaba, anda fazendo hora extra próximo a mim. Já levou minha jovem mãe/genitora e todos os meus tios da parte dela;
levou meu pai aos 62 anos, e 8 de seus 10 irmãos.
Nesta altura da vida, sinto-me totalmente no lucro. Isto por que fui ver, gente, mais nova e infinitamente superior a mim, já atravessaram para o outro lado da vida.
O poeta brasileiro Álvares de Azevedo viveu apenas 21 anos; Casimiro de Abreu, também nos deixou aos 21; Castro Alves, aos 24 anos. Noel Rosa morreu aos 26 anos; O cantor Cazuza, se foi aos 32 anos; Airton Senna, 34; Mozart, aos 35 anos, van Gogh morreu aos 37 anos; Lima Barreto, aos 41; Vander Lee, Michael Jackson, e nosso Paulo Sérgio Martins( Paulinho da APL) aos 50 anos...
60...Privilégio imerecido.
Enquanto o céu não vem, continuo por aqui. Preciso ver meus filhos bem em todos os aspectos da vida. Sem vaidade nenhuma (e podendo parar a qualquer hora), continuarei escrevendo, ( " carregando água na peneira" ), exaltando as belezas de minha bucólica aldeia. Deixe- me exaltar as virtudes de meus patrícios.
Continuarei por ai editando meu " Informativo de delicadezas", exaltando o trivial. A glória das coisas comuns e simples pra mim sempre será destaque. Não se espante se florzinhas abandonadas ganhar manchetes no que escrevo. Não se espante se gente sem nenhum pedigree social ganhar um textão de minha parte.
Me preparo para ser o presidente do meu país; ocupar mansões suntuosas, mas estou pronto para varrer as ruas de meu bairro e morar debaixo de uma ponte qualquer.
Sou apologista das coisas simples, mas não comum.
Sinto bem entre as coisas humildes. Quero que a vida me permita sentar no chão com amigos do peito, tomando vinho barato, comendo um churrasquinho do bom, discutindo literatura, ( política não) ouvindo uma Nova Bossa, velha MPB ou, por que não, os repiques de uma viola num pagode caipira.
Estou certo de que nãos serei autor de escritos que ultrapassem minha geração. Nenhum post meu vai viralizar. Meus rabiscos não sobreviverão a minha passagem. Mas posso garantir, que não quero me enquadrar em nenhuma escola literária, não busco notoriedade nenhuma. Desde que comecei escrever a carvão no fogão de minha vó, já me realizei como escritor.
Continuarei querendo distância de tipos arrogantes e metidos a bestas.
Aprendi que não preciso tirar a vida de nada e de ninguém neste planeta.
Sao lições bíblicas de Abraão e seu sobrinho, Ló: "Rogo-te que não haja discórdia entre mim e ti, nem entre ... Se fores para a esquerda, eu irei para a direita ; se fores para a direita, eu irei para esquerda" Pra que matar ( ou se matar) neste vasto mundo.
Preciso ser mais humano, mais generoso e mais gentil comigo mesmo e com aquele que cruza o meu caminho.
Não se espante se notar meus olhos marejados, ao ver um filho empurrando na praça a cadeira de rodas de seu pai. Não se espante se me ver limpando lágrimas olhando para um noivo e/ou noiva caminhando para o altar. A paciência de uma filha cuidando da mãe com Alzheimer, vai me comover sempre.
Um pai/mãe de família lutando no ringue do cotidiano para levar o pão pra casa e estudar seus filhos, vai ser meu herói sempre.
Parafraseando, a doce Roberta Zampetti, agora também " Sou 60". Enquanto o céu não vem, vou cultivando meus valores e construindo o meu caráter. Construo minha Catedral.
E senta que lá vem pedagogia da vida. Uma pessoa perguntou a um pedreiro que trabalhava numa construção: “O que você está fazendo?” De mau humor, ele respondeu: “Estou quebrando pedras, não está vendo?” Mais adiante fez a mesma pergunta a um outro operário, que fazia o mesmo trabalho e este disse que estava ganhando o pão de cada dia, para sustentar a família. Mas um terceiro trabalhador, que também arrebentava pedras, quando questionado, afirmou, orgulhoso: “Estou construindo uma catedral!”
De cá com este meu olhar 60 sobre a vida, fustigado pelo desencanto da realidade, o momento não me permite celebrar.
Pelo sim e pelo não. Nestes tempos tenebrosos é de no alvitre lembrar o que disse Saadi: "Quando eu morrer não me procure nas tumbas... Me encontre por aí no coração de alguns amigos.”