# Milton Magalhães

Meus Dias de Peter Pan

12 de Outubro de 2017 às 15:16

                           MEUS DIAS DE PETER PAN             

(Dia da Criança e Dia da Padroeira do Brasil. Como não falar sobre o mundo mágico da  criança, colado ao  mundo lúdico da  arte. Replico em seguida um texto de nossa lavra sobre minha antanha infância na Barra do Salitre. E como não mencionar, ainda que  in passant, sobre  extremo  da  performance de um artista com genitálias sendo tocada por crianças no Museu de Arte Moderna em são Paulo. Ato que gerou outro extremo: Gente querendo fechar os museus. Sendo Dia da Criança; Dia de Oração: “Pai Criador e Protetor dos Pequeninos; Pai Criador e Protetor dos  Artistas, livra-nos de gente insípida, santa demais apitando no universo das  artes, e guarde-nos de  gente, sem noção,  depravada demais dando as cartas no mundo das crianças. ’Fico com a pureza das crianças’. Amém! )... Vamos á Crônica:

 

 MEUS DIAS DE PETER PAN             

Assisti certa vez ao filme “Anacondas- A Orquídea Maldita”.

Uéh! Não vai me aplaudir, leitor?.Acho que mereço, afinal foi como superar um leve  trauma: medo de cobra.Chiii!, Vou ter trabalho aqui para explicar. Tem nada a ver com o que alguém possa insinuar. Aliás , a mente humana anda tão maldosa, não?. Medo de cobra, cobra mesmo! Por isto é que gosto da pureza das crianças. E continuo brincando, mesmo entre répteis humanos peçonhentos.

Meu nascimento, “ a coisa mais importante que me ocorreu " no dizer de Mário Quintana, deu-se na Localidade de Barra do Salitre na Fazenda do Sr. Natal Cândido e Dona Alaíde. Pense em duas pessoas maravilhosas. Pronto? Garanto-lhe que eles

Superam. Meu avô, Benedito Souza e Vò-Mãe-Badia, criou ali dez filhos. Do casamento de um deles,  Lourival e Adelina, nasceu este que até hoje ainda não vi por que me deram o nome do célebre poeta cego: Milton (deve se por minha dificuldade de ver o mal nas pessoas)

Até meus cinco, seis anos, Barra do Salitre era meu vasto universo.

Cresci fascinado com o espetáculo da natureza. Encantava com as gotas cristalinas de orvalho na invernada do açude. Começava o dia me sentindo um homem feito, ajuntando os bezerrinhos  para meu avô. Os dias eram terrivelmente pequenos, logo ouvia-se o passaredo com aquele canto dolente despedindo-se  da tarde, marcando a hora de encerrar as nossas brincadeiras.

Era uma chateação a noite. O escuridéu me trazia medo. Tanto que desejava sempre ficar pertinho de papai. Cadê minha valentia  á luz do sol. As ‘artes’ diárias desfilavam em minha mente, culpada. Chegava a jurar solenemente que ia ser um menino mais aplicado quando o sol voltasse no dia seguinte.

Aquele pão de queijo que peguei escondido da vovó. O cascudo no primo menor. A pedrada na maritaca doía. O “segura peão” nos bezerrinhos do Vô Benedito. Por que fui deixar  aquela porteira aberta?.Outras noites, tantas histórias; Outras noites,  tantas  histórias...

Falando de minha infância , portanto não posso ter inveja nenhuma de Mowgli, Pequeno Príncipe, Tom Sawyer, Gulliver, Menino Maluquinho.Somente  o “Menino no Espelho”de Fernando Sabino, esse me excedeu nas magias das travessuras. Imagina!. Conversava com a galinha “Fernanda” e livrara-a tantas vezes da morte na panela. Sem falar na “Sociedade Secreta Olho de Gato”. Desvendava cada coisa que as pessoas comuns jamais sonhariam que estaria rolando.  E Peter Pan, o qual acho que ainda sou por que me recusei  a deixar o menino que vive em mim crescer.

Brincar  sem o monitoramento de gente grande era o máximo. Tudo aquilo que diziam que era proibido, fascinava. Foi o que aconteceu com aquelas três crianças na Barra do Salitre , naquele fatídico dia. Maria Aparecida, a prima, Cidinha, filha dos saudosos tio Amiro e tia Marieta;  Marta, minha mana mais velha e euzinho aqui, completava o trio.

Bom, já vou explicando, que nunca brinquei de casinha  ou de boneca no time das luluzinhas, mas se tivesse brincado, alguém teria algo contra? Havia, porém umas brincadeiras, digamos, unisex , que cabia bem um baixinho gabola. Nem sei de quem foi a idéia,. Naquela manhã o paiol de milho do Vovô se tornou o nosso playgroud da gurizada.

Depois de  improvisar nosso tobogã, piscina de bolinha e cama elástica, resolvemos fazer nosso pula-pula em cima de um velho couro de boi curtido e  estendido como um manto sobre o milho.

Eis que de repente, um som estranho, chamou a nossa atenção.-“È um ratinho”, alguém disse. Mobilizamos todos para capiturar do tal bichinho. Eu apressei em dizer que na minha parte ele não passaria. O barulho ficava agora mais forte: Brrrrrrr! Foi quando a Cidinha,  teve um átimo de bobeira, teve a  infeliz ideia de erguer a ponta do couro e olhar debaixo...

A cena seguinte foi horrível.  Quando ergueu a cabeça,  uma cascavel de quase dois metros, saiu grudada em sua testa.O susto não poderia ser pior. Ficamos imobilizados. Minha irmã foi buscar ajuda, mais não conseguia articular nada do que havia ocorrido. Olhos arregalados, gesticulava gaguejando  demais. Finalmente, os adultos foram investigar e deram com a cena horrenda e logo vovô surgiu do campo e acertou as contas com a serpente, tirando-lhe o guizo como troféu.

Ninguém mais pensou em brincar durante aquele transe. A preocupação suspendeu toda alegria. Caiu um manto de silencio e expectativa sobre  lugarejo. Delírios, convulsões , rosto com grande inchaço e a certeza que somente por um milagre, nossa Cida continuaria viva. Até quem não era de falar em Deus, fazia de suas lágrimas uma oração. A fé finalmente triunfou em nossa Barrado Salitre.

Maria Aparecida, reside atualmente na cidade de Araxá e espero que traga uma cicatriz acima da sobrancelha, caso precisar confirmar  toda  história. Apesar de tantos anos a cena não me saiu da lembrança.

Perigos á parte, confesso que brinquei. Ficou na memória. Posso fazer um apelo?  Façamos uma rede de proteção, deixando as crianças de hoje, serem crianças. Diz-nos Lya Luft, que " A infancia é o chaõ sobre o qual pisaremos o resto de nossas vidas". Portanto, deixem pintem  e bordem. Envolva-os com ações educativas; rodeia-os de atividades de expressões artísticas.  Abram novos museus, criem o Museu da Criança, façam  bibliotecas, bares pitorescos, sei lá. Criem espaços para  o pensamento, a sensibilidade, a criatividade, a imaginação e a cidadania da infância . Deixe que cedo os pequeninos  aprendam: "A arte existe porque a vida não basta" (Ferreira Gullar)