Referência. Até tragédia serve como uma. O assunto é nacional. Constituindo-se na maior catástrofe mundial, Brumadinho demonstra a fragilidade dos cidadãos. Diante do poderio econômico e da insensibilidade humana pelas mineradoras. Mas... a região de Patrocínio encontra-se segura? Há preocupação?
O CENÁRIO REGIONAL – Levantamento do jornal “O Tempo” (BH) divulgou, durante a semana, que Paracatu tem 32 barragens, Patos de Minas 3, Araxá 9, Serra do Salitre 2 (a Gazeta de Patrocínio informou 3) e Patrocínio nenhuma. Por ora, até quando Patrocínio não terá, não há informação. Daí, conclui-se que as três ou duas de Serra do Salitre têm potencial de afetar o território patrocinense. De forma direta ou indireta.
COMPORTAMENTO DAS MINERADORAS – Por serem empresas, a maioria financiada por capital multinacional, a busca pelo lucro é incessante. Quanto maior o lucro, quanto mais rápido for a remuneração do capital aplicado, melhor. Ou seja, o menor custo e o maior benefício formam a relação custo/benefício desejável. Daí, essas mineradoras canalizam muito pouco para a preservação do meio ambiente, optam por barragens bem mais baratas, que as tornam tremendamente frágeis, perigosas.
A MORDAÇA – Por outro lado, financiam campanhas de políticos e, eventualmente, corrompem o poder da fiscalização e de concessão. Enfim, criam facilidades para as suas explorações. Segundo o “O Tempo” e a Rádio Itatiaia, 80% dos deputados mineiros são financiados pelas mineradoras. Ou seja, mais de cem deputados.
E MAIS... – As mineradoras silenciam a mídia/imprensa com propaganda. Iludem a comunidade destinando pequenas verbas para museus (como a Casa da Cultura), equipes de futebol (o Valério de Itabira é um exemplo), manutenção de jardins e festas com artistas famosos. Porém, não investem na Saúde, nem escolas, porque a Saúde (hospitais, pronto atendimento, etc.) são “caros” e escolas (manutenção e crescimento) não tem “muita visibilidade promocional”.
ÔNUS DE TODOS – Nessa hecatombe ou chacina ou genocídio, ou crime hediondo, no tom apocalíptico, de Brumadinho, quem socorre, quem busca os mortos, praticamente é o setor público, mantido pelos impostos. Tais como os heroicos Bombeiros, Polícia Militar e Civil, aviões, etc.
REGRA PÉTREA – Com ressalvas, mineração é tolerável. É necessária. Mas, com muita responsabilidade social e fiscal. O que as mineradoras não têm demonstrado na prática. Demonstram isso apenas em suas propagandas e comunicados. Vale o exemplo da Vale, a maior e melhor mineradora do País. Enfim, mineração dessa maneira não Vale a pena.
ALÔ SERRA DO SALITRE – Prudência é bom a qualquer hora. Mineração não é somente empregos e baixo impostos para os cofres municipais. Mineração é também danos irreversíveis à natureza (o famoso meio ambiente) e perene ameaça. É bom visitar Brumadinho e ouvir os brumadinhenses. Eles têm muito a ensinar.
E PATROCÍNIO? – O fosfato não foge. Ele tem que ser explorado dentro das mais elevadas tecnologias, independente de custos. Portanto, se não há tamanha segurança e tecnologia, esperar um pouco mais não faz mal. Prudência também. E que a(s) mineradora(s) tenham aprendido a lição. O lucro não se sustenta se há debilidade social. Se há risco de vida nem se fala. A luz amarela de Patrocínio deveria estar acesa. Pelo menos.
POR FIM – Não é preciso dizer o óbvio ululante (do escritor Nelson Rodrigues). Vida humana se encontra acima de tudo. Não é indenizável. É inegociável! Preservá-la é dever.
Primeira Coluna publicada na Gazeta, edição de 2/2/2019.